Flávio Faedo vem de uma família de pequenos produtores rurais oriundos de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Aprendeu a lidar com a terra ainda criança, e com 16 anos de idade já dominava o trabalho no campo. Com 18 anos, em ocasião da doença do seu pai, assumiu os negócios da família. No ano de 1984, Flávio Faedo veio a passeio para Goiás e se apaixonou pelas terras goianas, conforme explica.

Foi esse amor que, em 1985, o fez mudar para a região do Planalto Verde, que pertencia a Rio Verde. O agricultor arrendou terras e começou o plantio de soja usando as técnicas do Rio Grande do Sul. O produtor trouxe a experiência com o chamado plantio direto e, no ano de 1989, já em terra própria, resolveu realizar a primeira experiência nesse método de plantio.

Faedo é um dos grandes produtores de soja em Goiás, além de pioneiro e precursor da técnica do plantio direto para o cultivo da soja. O agricultor diz que sempre buscou uma método de agricultura sustentável, com mínimo impacto sobre o meio ambiente. Segundo ele, seus três maiores objetivos são a conservação do meio ambiente; a criação de unidades agrícolas lucrativas e o sustento das comunidades agrícolas.

Pensando nisso, o sojicultor trouxe para Goiás o método que revolucionou a agricultura na região do Planalto Verde, o plantio direto. Flávio Faedo lembra que quando decidiu implantar o modelo, o setor passava por uma crise e o plantio direto ajudou não apenas a cuidar da terra, mas também a diminuir os custos do preparo de uma lavoura.

O produtor relembra que ouviu muitas críticas por parte dos agricultores, no entanto, baseado nas experiências que já possuía em plantações da família no sul do país, tinha certeza que daria certo. “Falavam que não ia dar certo aqui nessa região porque o clima é muito diferente do Sul e lá eles usavam o inverno para formação de palhadas no solo.“

Para Flávio Faedo, as diferenças entre o plantio convencional e o direto são gigantescas. “No convencional os custos são maiores, o custo de produção é enorme, precisa-se de mais máquinas, polui mais, provoca muitas erosões no solo. Então, existe uma série de desvantagens no plantio convencional”, pontua.

Por outro lado, no plantio direto acontece o contrário do convencional. “Os custos são menores, tem a possibilidade de uma maior retenção de água, o que dá uma segurança a mais de produção; evita poluição e erosões, evita que a temperatura do solo fique muito alta porque a palhada deixa a terra úmida”, diz. De acordo com Faedo, esse é um processo que favorece o clima e natureza, possibilitando o sequestro de carbono.

Política

Flávio Faedo atua na cidade de Rio Verde, considerada um reduto bolsonarista. No entanto, Flávio Faedo é afiliado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Apesar dos conflitos de ideias e ideologias, a convivência é pacifica e harmoniosa entre seus pares, garante. “Minhas ideias sobre uma agricultura sustentável são bem aceitas por todos. É claro que na polarização da última eleição os ânimos ficaram um pouco exaltados, mas já está tudo bem novamente. “

O petista, entretanto, critica os companheiros de esquerda que demonizam os produtores rurais colocando-os como vilões do meio ambiente. “Temos uma indústria sem telhado, isto é, somos expostos a todo tipo de risco e em nossas propriedades temos que deixar no mínimo 20% de reserva permanente e legal. Deixo umas perguntas para quem nos julga: vocês deixam uma parte do seu patrimônio para o meio ambiente? A indústria deixa? O comércio deixa? Na verdade, não há quem preserve mais o meio ambiente do que o produtor rural”, defende.

O produtor faz uma ressalva quanto aos países europeus e aos Estados Unidos, que criticam o Brasil com as narrativas de que os produtores são os grandes responsáveis pelo desmatamento e o aquecimento global. “Nesses países, não se vê matas; está tudo desmatado. O que se vê nesses países são áreas de reflorestamento, porém, foram criadas com a intenção de fazer negócios, para a produção de madeira. Já estão plantando árvores com a intenção de retirá-las futuramente. O produtor brasileiro preserva sim o meio ambiente”, afirma.

Flávio Faedo se diz contra qualquer movimento extremista, seja de direita ou de esquerda. “Posso dizer que sou do PT moderado. Debates extremistas eu rebato com argumentação cientifica. As coisas não se basear em achismo. Essas pessoas que nos criticam, normalmente, não tem conhecimento algum.”

O sojicultor não se considera um ícone da agricultura sustentável, mas um bom produtor que acredita no método regenerativo de agricultura. “Muita gente está à minha frente. Há, por exemplo, quem produza soja orgânica. Eu ainda não cheguei nessa fase, confesso que estou em busca desse patamar. Contudo, já cortei mais da metade do uso de produtos químicos em minhas lavouras. Por esse motivo, creio que estou no caminho certo.”

O agricultor defende que o pó de rocha é o futuro para uma agricultura ainda mais sustentável. O pó de rocha é o resultado da moagem de rochas para utilização como nutrientes essenciais para o bom desenvolvimento das culturas agrícolas. Os remineralizadores, ou “pó de rocha”, podem agir como fertilizantes para as plantas. Eles têm a função de melhorar as qualidades físicas e químicas do solo e atua como fertilizante, porém são totalmente naturais, reduzindo o impacto ambiental em relação aos insumos tradicionais.

Flávio Faedo segue a filosofia do indiano Rattan Lal, laureado com o Prêmio Nobel da Paz e com o Prêmio Mundial da Alimentação, em 2020. O cientista sugeriu que os países reembolsem os agricultores que contribuem para a proteção da saúde do solo, como é o caso do sequestro de carbono feito com o plantio direto.

Por sua prática de plantio sustentável, em 2021, Faedo conquistou o prêmio Soja Brasil concedido pelo Canal Rural aos produtores que se empenham em promover a sustentabilidade no campo. “Meu destaque veio por causa do plantio direto, pela minha luta pelas entidades de classe, por ter ficado cinco anos à frente da Associação de Produtores de Grãos (APG) e por ter fundado o clube Amigos da Terra, dentre outros.”

Flávio Faedo pondera que ele e sua esposa já deram contribuíram com a política de Rio Verde. O casal não pretende se candidatar. “Gosto mesmo é da atividade agrícola, nasci para fazer algo diferente no campo”, reitera.

Faedo parabeniza a administração do prefeito Paulo do Vale (UB), apesar de o gestor não estar alinhado com o PT. “Ele está fazendo dois mandatos muito bons”, diz. Flávio revela que, no momento, o PT não tem nenhum nome decidido. “O mais provável é que o PT faça aliança com o deputado estadual Karlos Cabral do PSB, que é aliado do governo federal. “

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