Por base no Congresso, PT admite ceder espaço ao Centrão no governo

16 julho 2023 às 07h30

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Integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT) admitem que os aliados próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva terão de ceder espaço no governo para concretizar acordo com o chamado Centrão do Congresso Nacional. E, assim, ampliar a base de apoio. Os petistas reconhecem que, em nome da governabilidade, precisará “cortar na própria carne”, mas nos bastidores atuam para blindar pastas consideradas estratégicas. Dentre elas estão: Saúde e Ministério do Desenvolvimento Social – responsável pelo Bolsa Família. Ela é a principal vitrine social do lulismo. No entanto, não se sabe até quando conseguirão, pois são as pastas mais cobiçadas por parlamentares do grupo “toma lá, da cá”.
Nas duas Casas Legislativas, o Centrão é liderado por ninguém menos do que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (pP-AL). Ele apresentou uma fatura de dois ministérios e o comando de estatais para o presidente. A promessa dele é, com isso, viabilizar a aprovação de projetos estruturais na Câmara e consolidar votos do próprio partido e do Republicanos. As informações são do Jornal Folha de S.Paulo.
Diante da proposta do parlamentar, houve um racha entre aliados de Lula sobre o futuro do ministério. Articuladores políticos do Palácio do Planalto, que integram o PT, argumentam que o presidente deveria abrir a pasta do Bolsa Família para esses partidos com o objetivo de amarrar de vez o apoio de peso na Câmara.
Entretanto, outra ala do partido vê um risco muito elevado se Lula deixar o principal programa social sob comando de outros partidos, membros do Centrão. A preocupação deles é com a proximidade das eleições municipais, com o programa elegendo candidatos fora dos quadros petistas. O que pode atrapalhar a pretensão do PT em ampliar o número de prefeituras para ter capilaridade política já de olho na corrida presidencial de 2026.
“Tem ministérios que são muito a cara da gente: saúde, educação e social. Ele tem interesse em trazer o PP e Republicanos. Aí, provavelmente, em agosto vai começar a negociar. Vai ter de espremer daqui, catar dali e achar um espaço. Mas não acho que para essa coisa específica seja o MDS [Ministério do Desenvolvimento Social]. É minha opinião”, enfatizou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Rearranjo ministerial
O rearranjo ministerial envolve outras pastas comandadas por petistas e por aliados de menor porte. Uma das hipóteses seria transferir a titular da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PC do B), para o Ministério das Mulheres. Há quem defenda a redução do espaço destinado ao PSB, hoje à frente de três ministérios, incluindo Indústria e Comércio, do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Outra disputa acirrada é pela presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), ocupada por Rita Serrano. O cargo dela também está na mira dos deputados do Centrão. Além disso, Serrano é alvo de críticas dentro do governo por seu desempenho à frente do órgão. Por outro lado, movimentos sociais, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), enviaram uma carta a Lula na qual pedem a permanência de Rita.
Caso consiga amarrar a maior parte dos parlamentares dos grandes partidos de centro e de direita — PSD, MDB, União Brasil, pP e Republicanos —, Lula ficaria com uma base que poderia chegar a 400 dos 513 parlamentares, o que isolaria a oposição ao bolsonarismo, hoje abrigado no PL. O PT precisa garantir maioria na Câmara para ter mais tranquilidade no resto do governo, e essa estratégia pode ser fundamental para avançar com suas propostas no Congresso. Há uma certeza, o Centrão é insaciável.
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