Valério Luiz Filho
Especial para o Jornal Opção

Hoje, 5 de julho, completam-se 11 anos desde o covarde assassinato de meu pai, o jornalista Valério Luiz de Oliveira. Queria ter feito alguma movimentação a respeito, mas, neste exato momento, estou ocupado respondendo às petições de apelação dos condenados – petições repletas de gracinhas, de provocações baratas, no pior estilo que os caracterizou até aqui: sem a contemplação, nem por um segundo sequer, da seriedade do que fizeram e, agora, da condenação que se lhes abateu.

O Ministério Público apresentou excelentes respostas na segunda-feira, 3, e, após o meu modesto complemento, os recursos poderão ser julgados, e então (espero), aumentadas e confirmadas as penas aplicadas pelos jurados em novembro passado. Quando for marcada a data do julgamento, uma vez mais será a hora de movimentar a sociedade para pedir justiça, no que estou certo que serei mais uma vez correspondido, dada a quantidade de pessoas que me abordam, todos os dias, perguntando sobre o resultado do processo após o júri.

Valério e sua mãe, Andrea, se abraçam ao término do júri, em novembro | Foto: Arquivo pessoal

A primeira foto é meu abraço em minha mãe, assim que saí do plenário, com a vitória. E ao contrário do que se pode pensar, o clima lá dentro não nos era favorável. Meu avô, Manoel de Oliveira, o Mané, não está mais entre nós e eu tinha de me concentrar no processo, não tendo tempo de, ativamente, mobilizar pessoas. A consequência é que as cadeiras estavam tomadas por amigos e parentes dos acusados, além de puxa-sacos do vice-presidente da OAB-GO, que ali estava na condição de advogado do mandante do crime. Mas de nada adiantou. A memória de Valério prevaleceu.

Valério Luiz trabalhando ao lado de seu pai, Mané de Oliveira, no “TBC Esportes” | Foto: Arquivo pessoal

E continuará prevalecendo. Nesta segunda foto, um dos raros registros (é curioso que sejam raros) do meu pai e meu avô na bancada do TBC Esportes, que ficou no ar por quase 20 anos ininterruptos, e por isso faz parte da memória afetiva dos goianos.

O garoto Valério, entre seu pai e o tio Eduardo | Foto: Arquivo pessoal

Na terceira foto, acima, um registro meu com meu pai e meu tio Eduardo Aritana.

Por fim, um dos últimos tuítes do meu pai (ele não sabia usar muito bem e pedia a minha ajuda), que mostrei em plenário e resume bem esta caminhada que se aproxima do fim:

“Não vou me deixar embrutecer (…), podem até maltratar meu coração, mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar!”. São versos, muito apropriados, da música Um Dia Perfeito, da Legião Urbana, banda da qual meu pai gostava demais.

As pessoas, no geral, não entendem o fato dos assassinos terem sido condenados e continuarem soltos. E quem pode culpá-las? Afora para quem está habituado com o kafkiano mundo dos recursos no Processo Penal, é difícil mesmo entender. Mas mesmo para um advogado como eu é estranho pensar que o crime mais grave, o doloso contra a vida, precise chegar, na prática, duas vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF) – trânsito em julgado de pronúncia e sentença condenatória – antes que os condenados cumpram efetivamente suas penas. E, na nossa intuição mais íntima, enquanto não há pena, não há justiça.

É chegada a hora, portanto, do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) fechar, de uma vez por todas, essa ferida há tanto tempo aberta em solo goiano, confirmando o veredito dado soberanamente por nossos concidadãos, representados pelo júri que condenou os assassinos no último 9 de novembro. É isso que dirá se somos uma civilização ou uma terra que aceita cartolas endinheirados e jagunços de farda matarem jornalistas no meio da rua, por conta de futebol. É chegada a hora da prova.

Valério Luiz Filho é advogado, especialista em Criminologia, mestrando em Filosofia na Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro da Rede Nacional de Proteção a Jornalistas e Comunicadores e do Observatório Nacional de Violência contra Jornalistas e Comunicadores.