Na madrugada de quinta-feira, 4, faleceu a indígena integrante da única família de cinco sobreviventes do povo indígena Avá-Canoeiro em Goiás. Nakwatcha Avá-Canoeiro tinha 78 anos, estima a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Ela foi vítima de câncer. Mas, por anos, Nakwatcha Avá-Canoeiro e seu pequeno grupo fugiu de caçadores e do massacre a qual seus antepassados sofreram por séculos.

A sobrevivência da pequena família foi marcada por tragédias. Eles conseguiram chegar a este século se escondendo em uma pequena caverna. A porta da gruta era tampada com muitas folhas para impedir que perseguidores encontrassem o local. O alimento consistia em poucas frutas e castanhas, que conseguiam coletar.

Com medo, Nakwatcha e seu povo se esconderam. Se calaram, numa resistência silenciosa. Chegaram ao ponto de evitar as crianças, pois elas com seus choros os “denunciariam” aos caçadores. Para isso, a sentença de seus bebês era a morte. Tiveram que derramar o próprio sangue, pois sabiam qual seria o destino de todos. Quando foram encontrados, Nakwatcha recordou aos pesquisadores como testemunhou as mortes dos seus parentes: um tiro na cabeça.

O indigenista Renato Sanchez lembra o quanto foi difícil para que este povo pudesse receber outras pessoas. O quanto foi difícil eles voltarem a acolher suas próprias crianças. Arredios pelo massacre do qual foram vítimas, “eles criaram resistência e medo”. “Hoje não, um bebê é uma alegria para eles, fazem festas e comemoram”, enfatiza. Em 21 de outubro de 2022, nasceu Numaeky, filho de Trumak Avá-Canoneiro e Tatiane Tapirapé. Com poucos membros, a etnia tem se miscigenado.

Bebê filho de sobrevivente Avá-Canoeiro | Foto: divulgação
Bebê filho de sobrevivente Avá-Canoeiro | Foto: divulgação

Uma carta escrita pelo presidente da província do Estado de Goiás, Antero Cícero de Assis, em 1874, endereçado ao promotor da Cidade de Goiás, narra conflitos entre Avá-Canoeiro e os colonizadores da região. A violência acontecia às margens do Rio Araguaia.  

Duas famílias

Marlene Moura, no livro “Índios de Goiás”, edição 2006, ressalta que, antes da colonização da região central do Brasil, os Avá-Canoeiros se distribuíam em aldeias com população entre 250 a 300 habitantes. Atualmente, segundo registros, não passam de duas famílias. Uma com apenas cinco membros, agora, quatro com a morte de Nakwatcha. A outra, localizada no Tocantins, com apenas oito membros.

Ao Jornal Opção, a professora Dulce Pedroso, autora da obra “O Povo Invisível — A História dos Avá-Canoeiros nos Séculos XVIII e XIX”, destaca que os dois grupos eram um só. É que eles dominam toda a região do Rio Tocantins e Araguaia. “Eles são parentes e recentemente voltaram a ter contatos”, relata.

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