Tentativa de golpe de Prigozhin mostra que exército russo pode ser o segundo maior… dentro da Rússia

26 junho 2023 às 13h05

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Nascido em Leningrado, na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – atualmente São Petersburgo, Yevgeny Prigozhin era de uma família de origem pobre. Na época, ninguém imaginava que se tornaria o maior “senhor da guerra” da Rússia, responsável por chefiar um dos maiores grupos paramilitares do planeta. Tão pouco, jamais passou pela cabeça das pessoas que ele tentaria um golpe de Estado.
Entretanto, como diria Forrest Gump, a “vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar” e isso também se aplica a história de Prigozhin. Após cometer pequenos crimes na adolescência, ele foi preso e condenado a 12 anos por roubo. E quando cumpriu a pena, durante os anos 80, o socialismo bolchevique já demonstrava sinais de que o fim estava próximo.
Com um cenário de mudança global a vista, uma nova reorganização da ordem mundial sem a URSS, Prigozhin entrou para o mundo dos negócios vendendo cachorro quente com a sua mãe, depois abriu um restaurante. Só que ao contrário do seu país, ele prosperou em sua atuação no ramo alimentício e chamou a atenção de políticos e outras autoridades, incluindo a do atual presidente Vladimir Putin.
Putin, que também era conterrâneo de São Petersburgo, frequentava o local junto a Anatoly Sobchak, o primeiro prefeito da cidade eleito após a Perestroika. A partir desse momento, nascia uma das piores parcerias possíveis para a história dos direitos humanos.
Com o crescimento dos negócios de Prigozhin e Putin sendo eleito presidente da Rússia em 1999, a ligação entre a dupla só aumentou – ao ponto dele ser conhecido como “Chef de Putin”, por conta dos inúmeros contratos governamentais que recebeu. Pode-se dizer que a relação acabou culminando de uma certa forma na criação do grupo mercenário Wagner, em 2014, após os russos invadirem a Crimeia, na Ucrânia.
Hoje, a milícia privada é um importante “braço” do exército russo. Além da Ucrânia, principalmente na batalha de Bakhmut, os mercenários também rasgam o “Direito de Haia” em outras partes do globo, como países na África e Oriente Médio, além da América do Sul, mais especificamente na Venezuela. Só que o “senhor da guerra” russo admitiu apenas que fundou a companhia em setembro de 2022.
Com a sua exposição durante o conflito na Ucrânia, Prigozhin ganhou muita popularidade entre os russos, após inúmeros fracassos do país durante a guerra. Ao mesmo tempo, ele colecionou uma rivalidade contra o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e Valery Gerasimov, chefe das Forças Armadas. E uma hora, esse coquetel de rivalidade e orgulho que paira sobre o alto escalão russo explodiu.
Na sexta-feira, 23, segundo o chefe dos mercenários, a Rússia teria realizado um ataque de mísseis contra uma base que estavam as suas tropas. Em retaliação, Prigozhin decidiu lançar um “coup d’état” contra Putin e o exército russo. Talvez uma tentativa de testar a sua popularidade para ser o próximo líder do país.
Durante o final de semana, os jornais de notícia de todo planeta noticiaram a facilidade de como os mercenários conquistaram cidades grandes, como Rostov e Voronezh, no sul do país, durante a marcha rumo a Moscou. Fora que os confrontos da breve “guerra civil” mataram 13 pilotos da Força Aérea Russa, após cinco aeronaves serem abatidas pelos insurgentes.
Mas, o “impensável” ocorreu novamente, a rebelião parou após um acordo com o Governo da Rússia, que tira sido intermediado por Aleksandr Lukashenko, outro ditador, só que da Bielorrússia.
Apesar do movimento ter sido paralisado, o estrago já havia sido concretizado na imagem de Putin. As barricadas de emergência em Moscou e as aeronaves abatidas pelos paramilitares rodaram os jornais pelo mundo. Aquele que era considerado o “segundo maior exército do planeta”, pareceu que era o “segundo maior exército do seu próprio país”.
Para o Ocidente, o recado ficou claro: Putin é um “frouxo”, incapaz de lidar com cuidar de uma bagunça no próprio país, sem escalar o evento após classificar o Prigozhin como “traidor da pátria”. Agora, fica a expectativa de qual será a resposta e o plano da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) após o autocrata russo ficar desmoralizado. Será que veremos caças F-16 na Ucrânia?
Já para os ucranianos, além da expectativa dos próximos pacotes de ajuda, a árdua contraofensiva agora tem uma Rússia mais “desorganizada” pela frente. Entretanto, ainda é cedo para entender as consequências da “bagunça” causada pelo ex-vendedor de cachorro quente na logística da guerra.
Por fim, talvez a história de Pregozhin termine neste parágrafo porque ele não é visto desde sábado, 24, após o acordo com Lukashenko. A sugestão é que ele fique longe de janelas e de chás envenenados.