Condenação de Maurício Sampaio prova que Valério Filho e a Justiça venceram

23 junho 2024 às 00h01

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O radialista Valério Luiz foi assassinado há 12 anos, em Goiânia. O mandante do crime, concluiu a Justiça de Goiás, foi o ex-cartorário e empresário Maurício Sampaio (ex-presidente do time de futebol Atlético Goianiense). O integrante da Polícia Militar Ademá Figueredo Aguiar Filho apertou o gatilho.
Com advogados de primeira linha, usando os vários recursos possíveis — os legais e os não sabidos —, Maurício Sampaio conseguiu procrastinar inclusive seu julgamento. Ficou anos escapando das leis e, portanto, da prisão.

Maurício Sampaio e Ademá Figueiredo — com seus advogados — não contavam que, às vezes, uma formiguinha, assim como uma andorinha, faz verão, quer dizer, faz acontecer.
Um filho do radialista assassinado — Valério Luiz Filho — poderia ter ficado quieto, esperando a Justiça decidir quando Maurício Sampaio seria julgado (condenado ou absolvido).
Porém, percebendo como funciona o jogo dos donos do poder, Valério Luiz, um ser acima de tudo obstinado, não parou um minuto. Pelo caminho, arranjou tempo para disputar mandato político, fez mestrado, tornou-se um especialista em filosofia, notadamente na obra da notável filósofa alemã Hannah Arendt, autora do livro “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal” (livro sobre o julgamento do assassino, direto ou indireto, de judeus europeus).

Advogado atuante, enquanto estudava, acalmando a alma — sempre firme e não desalentado —, Valério Luiz Filho operava para levar Maurício Sampaio e Ademar Figueiredo a julgamento.
O jovem, que se tornou maduro sem envelhecer, conversou com a imprensa local, nacional e internacional, dialogou com institutos que atuam na área de direitos humanos, tanto do país quanto de outras nações, e, sim, venceu. Tornou-se militante de uma causa, com presença ativa em Brasília: a de que a impunidade, numa democracia, não pode prevalecer. Sobretudo, o poder do dinheiro não pode e não deve convencer magistrados a não julgarem os homens de bolsos caixas-fortes.
Frise-se que, apesar da demora, a Justiça funcionou. Há magistrados decentes neste gigante chamado Brasil.
Maurício Sampaio e Ademá Figueiredo, finalmente julgados e condenados, estão presos. Uma vitória da Justiça, por certo. Mas, em especial, uma grande vitória de Valério Luiz Filho, que soube pressionar, de maneira intimorata, quem precisava ser pressionado.

Quem conversa com Valério Luiz Filho percebe uma cousa: o jovem advogado e filósofo não perdeu sua doçura, mas, graças à sua força interior, que o tornou proativo exteriormente, aqueles que mataram seu pai estão presos. O crime jamais foi esquecido. A procrastinação, estudada e elaborada, visava, quem sabe, levá-lo ao olvido.
Valério Luiz Filho e a Justiça derrotaram a impunidade e sua mãe, o poder do dinheiro. O advogado e filósofo certamente não vai ganhar nenhum título ou troféu. Porque a condenação dos criminosos em si é o grande prêmio, se se pode dizer assim. Mas merece ser ao menos nominado de Homem do Ano de 2024 em Goiás. Ao menos em Goiás.