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O radialista Valério Luiz foi assassinado há 12 anos, em Goiânia. O mandante do crime, concluiu a Justiça de Goiás, foi o ex-cartorário e empresário Maurício Sampaio (ex-presidente do time de futebol Atlético Goianiense). O integrante da Polícia Militar Ademá Figueredo Aguiar Filho apertou o gatilho.

Com advogados de primeira linha, usando os vários recursos possíveis — os legais e os não sabidos —, Maurício Sampaio conseguiu procrastinar inclusive seu julgamento. Ficou anos escapando das leis e, portanto, da prisão.

Valério Luiz: radialista assassinado em Goiás l Foto: Reprodução

Maurício Sampaio e Ademá Figueiredo — com seus advogados — não contavam que, às vezes, uma formiguinha, assim como uma andorinha, faz verão, quer dizer, faz acontecer.

Um filho do radialista assassinado — Valério Luiz Filho — poderia ter ficado quieto, esperando a Justiça decidir quando Maurício Sampaio seria julgado (condenado ou absolvido).

Porém, percebendo como funciona o jogo dos donos do poder, Valério Luiz, um ser acima de tudo obstinado, não parou um minuto. Pelo caminho, arranjou tempo para disputar mandato político, fez mestrado, tornou-se um especialista em filosofia, notadamente na obra da notável filósofa alemã Hannah Arendt, autora do livro “Eichmann em Jerusalém — Um Relato Sobre a Banalidade do Mal” (livro sobre o julgamento do assassino, direto ou indireto, de judeus europeus).

Maurício Sampaio: crime e castigo — o ex-cartorário está preso | Foto: Reprodução

Advogado atuante, enquanto estudava, acalmando a alma — sempre firme e não desalentado —, Valério Luiz Filho operava para levar Maurício Sampaio e Ademar Figueiredo a julgamento.

O jovem, que se tornou maduro sem envelhecer, conversou com a imprensa local, nacional e internacional, dialogou com institutos que atuam na área de direitos humanos, tanto do país quanto de outras nações, e, sim, venceu. Tornou-se militante de uma causa, com presença ativa em Brasília: a de que a impunidade, numa democracia, não pode prevalecer. Sobretudo, o poder do dinheiro não pode e não deve convencer magistrados a não julgarem os homens de bolsos caixas-fortes.

Frise-se que, apesar da demora, a Justiça funcionou. Há magistrados decentes neste gigante chamado Brasil.

Maurício Sampaio e Ademá Figueiredo, finalmente julgados e condenados, estão presos. Uma vitória da Justiça, por certo. Mas, em especial, uma grande vitória de Valério Luiz Filho, que soube pressionar, de maneira intimorata, quem precisava ser pressionado.

Ademá Figueiredo: o policial militar que matou Valério Luiz | Foto: Reprodução

Quem conversa com Valério Luiz Filho percebe uma cousa: o jovem advogado e filósofo não perdeu sua doçura, mas, graças à sua força interior, que o tornou proativo exteriormente, aqueles que mataram seu pai estão presos. O crime jamais foi esquecido. A procrastinação, estudada e elaborada, visava, quem sabe, levá-lo ao olvido.

Valério Luiz Filho e a Justiça derrotaram a impunidade e sua mãe, o poder do dinheiro. O advogado e filósofo certamente não vai ganhar nenhum título ou troféu. Porque a condenação dos criminosos em si é o grande prêmio, se se pode dizer assim. Mas merece ser ao menos nominado de Homem do Ano de 2024 em Goiás. Ao menos em Goiás.