Karl Marx, em 1852, cunhou uma frase famosa, que perdura até nossos dias: “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Os jornais anunciaram na semana passada que Bolsonaro não quer passar a faixa presidencial para Lula e que por isso a tarefa deveria ficar com Mourão.

A transmissão da faixa é ato meramente simbólico e não tem caráter obrigatório. A entrega da peça simboliza a transmissão do poder presidencial, além da superação de eventuais diferenças programáticas levantadas durante a campanha.

No período recente isso aconteceu pela primeira vez em 1985. O Brasil ensaiava um governo democrático com José Sarney que precisou assumir o comando do País depois que o presidente eleito à época, Tancredo Neves, foi hospitalizado e veio a morrer. Figueiredo se recusou ou como dizem historiadores “era o esperado para um oficial de cavalaria”. Bernardo Braga Pasqualette usa um capítulo inteiro da biografia de Figueiredo para falar sobre a polêmica da faixa.

Mas, Figueiredo não foi o único a se recusar a cumprir os ritos de transição. Logo que nossa república engatinhava, Floriano também decidiu que não iria comparecer à posse de Prudente de Morais (porque não via o civil com bons olhos já que o Brasil tem uma tendência a ser seduzido por militares). Em 1954, Café Filho viu-se presidente e também não teve a bênção do seu antecessor – Vargas – porque ele havia cometido suicídio.

Tecnicamente, Fernando Collor que foi primeiro presidente eleito diretamente após a ditadura militar recebeu a faixa de um vice: Sarney. E, como antes do fim do mandato teve o impeachment, ele também não passou a faixa para Itamar Franco.

Oito anos depois a mesma história: por conta do impeachment, Dilma não compareceu à posse de Temer. O emedebista, que não recebeu a faixa das mãos de outro presidente, repassou-a a Jair Bolsonaro há quatro anos.

Depois da retrospectiva, talvez faça mais sentido observar que é mais comum do que parece ex-presidentes não passarem a faixa já que só dois eleitos receberam e passaram a faixa para seus sucessores – Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.