A Alemanha, líder econômica da Europa e a quarta maior economia global, enfrenta desafios significativos que sinalizam uma recessão iminente. O Ministério da Economia alemão divulgou projeções nesta semana, indicando que o Produto Interno Bruto (PIB) do país deverá contrair 0,4% em 2023, elevando o temor de uma recessão em 2024.

A economia alemã experimentou recentemente uma recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de declínio do PIB, entre o final de 2022 e o início de 2023. As expectativas, que há seis meses previam um crescimento de 0,4% este ano, deterioraram-se consideravelmente.

Um estudo conduzido por cinco dos principais institutos econômicos do país sugere uma queda ainda mais acentuada, estimando um declínio de 0,6% até o final de 2023. A recuperação só é vislumbrada no final de 2024, com um modesto crescimento de pouco mais de 1%, atingindo 1,5% em 2025.

A inflação persiste em níveis historicamente altos, registrando 4,5% em comparação anual, embora tenha desacelerado em setembro. A crise energética na Europa, exacerbada pelas sanções contra a Rússia devido à invasão da Ucrânia, afetou severamente a Alemanha, altamente dependente de petróleo e gás russos.

O aumento dos custos energéticos é identificado como o principal fator contribuinte para a situação econômica delicada, conforme aponta Paulo Ferracioli, professor de Políticas de Comércio Exterior e Economia na FGV Management.

Dependência

A dependência contínua da Alemanha em relação à matriz energética russa, uma estratégia implementada durante o governo da ex-chanceler Angela Merkel, agora se revela como um desafio, destacando a vulnerabilidade do país diante das oscilações geopolíticas.

Além disso, a economia baseada em exportações da Alemanha enfrenta dificuldades no comércio internacional, com uma saída recorde de capital em 2022, totalizando US$ 132 bilhões em investimentos diretos perdidos, conforme relatado pelo Instituto Econômico Alemão.

A falta de mão de obra qualificada, juntamente com a diminuição da produção industrial devido à crise na Ucrânia, coloca em risco setores cruciais da economia, incluindo saúde, turismo, tecnologia e meio ambiente. A Alemanha busca mitigar esse desafio com mudanças nas regras de imigração para atrair talento estrangeiro.

Além dos desafios econômicos, a Alemanha enfrenta problemas de infraestrutura, questionando a tradicional reputação de eficiência do país. Atrasos significativos em serviços de alta velocidade e deficiências em setores como automotivo, farmacêutico e químico evidenciam uma realidade que não condiz mais com a imagem previamente estabelecida de “eficiência alemã”.

A Alemanha, como a quarta maior economia do mundo, agora se encontra em uma encruzilhada crítica, impactando não apenas a Europa, mas reverberando globalmente. O país enfrenta a necessidade urgente de estratégias eficazes para reverter seu declínio econômico e revitalizar sua posição como motor econômico da Europa.

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