Engenheiro rebate Equatorial e diz que calor e chuva não são fatores de queda de energia em Goiás

06 outubro 2023 às 19h45

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O excesso de calor e a chuva foram apontados pela Equatorial Energia como responsáveis pelas constantes quedas de energia elétrica em Goiás. No entanto, para o engenheiro eletricista Salatiel Pedrosa Soares Correia, apenas fenômenos naturais não seriam suficientes para derrubar o sistema elétrico a todo momento, como vem ocorrendo. Para tanto, o especialista compara a situação do Estado com Paraná e Minas Gerais, por exemplo, onde, segundo ele, não existem tantas falhas, apesar do fornecimento da energia também ser da Equatorial.
Procurada pelo Jornal Opção, a Equatorial justificou que “não faz sentido comparar a realidade local com Estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas sim com outro Estado da região Centro-Oeste, como Mato Grosso, que vive a mesmo desafio enfrentado em Goiás”.
Assim, Salatiel Pedrosa, que também é autor do livro ‘O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia’, rechaça o argumento da empresa em relação aos períodos chuvosos e de estiagem típicos da região. “Mas será que não chove lá em Minas Gerais? Será que não chove em São Paulo? Por que em Minas Gerais tem um sistema que resiste e não tem as quedas de energia que estão tendo aqui?”, indaga.
“É o mesmo Brasil, a chuva não tem só aqui. Então, esse argumento que a chuva derruba o sistema, pra mim, é um indicador da péssima qualidade da energia que a empresa fornece”.
No País, a Equatorial é classificada, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), como uma das piores concessionárias de energia. No relatório, a Equatorial Goiás e Equatorial Maranhão aparecem em 27° e 28° posição no ranking de 29 concessionárias. Equatorial Energia é o terceiro maior grupo de distribuição do País em número de clientes. “Em relação a Goiás, a antiga Celg-D aparecia como pior concessionária do País desde a criação do ranking e, a partir da privatização, a empresa subiu duas posições na classificação”, cita trecho do comunicado.
Plano estratégico
O engenheiro eletricista indica a necessidade da companhia em elaborar um plano estratégico para longo prazo. Segundo ele, isso seria suficiente para atender “a demanda incremental”. “O ideal é a demanda crescer e o investimento acompanhar passo a passo”, acentua.
Ainda comparando Goiás com Paraná e Minas Gerais, Salatiel destaca que aqueles Estados apenas cederam parte do fornecimento de energia, mas não o controle estratégico. “Então, esses Estados não renunciaram a ter companhias elétricas que são fundamentais para seus desenvolvimentos”, explica.
“As empresas que chegaram em Goiás não atenderam ao desenvolvimento de Goiás. Uma coisa é desenvolvimento econômico e social, outra coisa é crescimento econômico”, compara. De acordo com ele, ao atender apenas o crescimento econômico a companhia opta por atender regiões “mais lucrativas” em detrimento a regiões “menos lucrativas”.
Prejudicados com a crise de energia
O especialista analisa que os mais prejudicados com a crise no fornecimento de energia elétrica são os médios e pequenos consumidores. “A Perdigão, por exemplo, não depende de energia da Equatorial. O grande consumidor tem a oportunidade de escolher onde vai comprar a energia. De quem ele vai comprar a energia. O pequeno consumidor, não”, lamenta.
Ele exemplifica casos de sucesso em outros países que decidiram pela oferta de energia elétrica com a ampla concorrência de companhias, estilo às empresas de telecomunicações. “Na Califórnia, nos Estados Unidos, que eu conheço bem, lá o consumidor de energia tem cerca de 20 empresas para escolher”, ressalta. Por outro lado, Salatiel conclui que no Brasil a questão energética se tornou commodities e não um ítem estratégico para o desenvolvimento do país.
Nota da Equatorial Goiás
A Equatorial Goiás ressalta que a comparação não é oportuna. No que diz respeito ao calor, não faz sentido comparar a realidade local com Estados das regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas sim com outro Estado da região Centro-Oeste, como Mato Grosso, que vive a mesmo desafio enfrentado em Goiás. Outro ponto que não favorece a comparação são as condições da rede elétrica. A companhia reafirma que o sistema em Goiás está obsoleto e sobrecarregado em razão de falta de investimentos por muitos anos. Levantamento realizado pela distribuidora mostra que 44% das unidades transformadoras apresentam sobrecarga, 72% dos circuitos são monofásicos (com apenas um recurso de fornecimento) e 14% dos ativos da concessão estão depreciados.
Para enfrentar esta situação, a Equatorial Goiás executou um programa de investimentos de aproximadamente R$ 1,38 bilhão somente no primeiro semestre de 2023, e pretende alocar muito mais recursos para evoluir na qualidade e confiabilidade do fornecimento de energia.
Esses investimentos foram realizados na melhoria da rede de distribuição, construção de 4 novas subestações, 150 mil podas de árvores, manutenção preventiva em mais de 3 mil disjuntores e religadores, instalação de 390 novos transformadores, construção de 136 km de novas redes de média tensão e instalação de cerca de 220 mil espaçadores, que evitam toque entre os cabos quando algum objeto cai sobre a rede. Os investimentos no fornecimento de energia continuarão a ser realizados dentro do planejamento e cronograma feitos pela empresa, inclusive antecipando algumas obras. Estimamos que a melhora será sentida de forma contínua e gradativa.
A Equatorial Energia é o terceiro maior grupo de distribuição do País em número de clientes. Ao contrário do que foi mencionado, a Equatorial Pará, adquirida pelo grupo em 2012, figura no ranking da Aneel como a quarta melhor do Brasil. Em relação a Goiás, a antiga Celg-D aparecia como pior concessionária do País desde a criação do ranking e, a partir da privatização, a empresa subiu duas posições na classificação.
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