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Pesquisas qualitativas indicam que os eleitores querem, para administrar Goiânia, um gestor. Os modelos permanecem sendo Nion Albernaz, Iris Rezende e Maguito Vilela.

Dos vivos, o nome preferido, em algumas pesquisas de intenção de voto, é o de Gustavo Mendanha, que foi prefeito de Aparecida de Goiânia pelo MDB. Sua imagem é positiva tanto na cidade vizinha quanto na capital.

Gustavo Mendanha fez consulta ao Tribunal Superior Eleitoral sobre a possibilidade de, tendo sido prefeito duas vezes consecutivas (eleito em 2016 e reeleito em 2020), disputar a Prefeitura de Goiânia. O resultado da consulta ainda não saiu.

Porém, advogados experimentados sugerem que o TSE não deve aprovar a candidatura do político goiano para a disputa na capital. Simplesmente não vai criar uma Lei Mendanha, repetindo, noutro contexto, o que aconteceu com a Lei Fleury (que beneficiou o delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury, um torturador contumaz a serviço da ditadura civil-militar).

 Com Gustavo Mendanha fora, estão no páreo, em ordem alfabética, Adriana Accorsi (PT), Gustavo Gayer (PL), Jânio Darrot (MDB), José Vitti (União Brasil), Lucas Kitão (PSD), Pedro Sales (União Brasil) e Vanderlan Cardoso (PSD). Dizer que estão no páreo não equivale a garantir que todos serão candidatos.

Lucas Kitão e Vanderlan Cardoso, para citar apenas os dois, são do mesmo partido. Ou seja, um deles não será candidato — exceto se mudar de partido. O mais provável é que o PSD banque o senador. Pelo simples motivo de que é uma espécie de “dono” da legenda em Goiás.

O debate, neste momento, é sobre quem será candidato, o que é natural. Mas há “detalhes” relevantes, como o fato de os eleitores insistirem que querem, no Paço Municipal, a figura de um gestor. Não há indícios de que se quer um nome novo — a renovação — e não se fala tanto na palavra “mudança”. O que se exige, insistamos, é que o político seja gestor.

Entretanto, com a realidade exposta, com alguns nomes tendo se colocado, é preciso observar outro “detalhe”. Nenhum dos pré-candidatos, gestor ou não, deslanchou. Há políticos experimentados, como Vanderlan Cardoso (senador, candidato a governador e a prefeito de Goiânia e ex-prefeito de Senador Canedo), Adriana Accorsi (deputada federal e ex-deputada estadual, delegada da Polícia Civil de Goiás) e Jânio Darrot (ex-deputado, prefeito de Trindade por dois mandatos, empresário bem-sucedido).

Há, também, o deputado federal e youtuber Gustavo Gayer — fenômeno eleitoral de 2022, ao lado da jornalista e deputada federal Silvye Alves, do União Brasil. E há Pedro Sales, que, competente mas humilde, nem fala em disputar. Dos jovens, é o mais gestor.

Mas, afinal, qual é o segundo “detalhe” a ressaltar? É óbvio (mas o óbvio, como disse o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro, precisa ser dito até para que se torne óbvio ou, quem sabe, menos óbvio): nenhum dos pré-candidatos postos deslanchou. Pelo contrário, todos permanecem, desde quando começaram a se expor, estagnados, por assim dizer.

De fato, Gustavo Mendanha deslanchou um pouco, quase chegando a 30%. Porém, como tudo indica que não será candidato, é preciso observar os demais postulantes.  Os mais bem-posicionados são Vanderlan Cardoso, Adriana Accorsi e Gustavo Gayer. Os três estão, a rigor, empatados — “grudados” um no outro.

Como Vanderlan Cardoso e Adriana Accorsi estão no jogo há mais tempo, com ampla exposição na mídia, convêm que se preocupem (e não o subestimem, como às vezes se faz) um pouco mais com Gustavo Gayer.

O pré-candidato do PL milita há pouco tempo na política, mas aparece empatado, tecnicamente, com Vanderlan Cardoso e Adriana Accorsi. Ou seja, além de sua própria força, há um aspecto que não pode ser negligenciado: a direita permanece forte no país e em Goiás — Estado do Agro — não é diferente.

O fato de Gustavo Gayer aparecer colado em políticos tradicionais, na disputa pela principal prefeitura de Goiás, a de Goiânia, sinaliza que o postulante do PL está absorvendo a maioria dos votos dos eleitores de direita. Se conquistar um pouco mais do centro — ou da centro-direita —, o deputado pode superar os pré-candidatos do PSD e do PT.

Por que, sendo o mais experiente e com boa imagem de gestor, Vanderlan Cardoso, permanece embolado com Adriana Accorsi e Gustavo Gayer? Por enquanto, não é fácil responder e seriam necessárias pesquisas específicas para se apresentar uma resposta mais ampla e objetiva.

Entretanto, pode-se especular a respeito. A aproximação de Vanderlan Cardoso, um político de direita, com o PT de Lula da Silva e Adriana Accorsi parece que o está afastando de parte do eleitorado mais conservador, que possivelmente migrou ou está começando a migrar para Gustavo Gayer.

É bem provável que Vanderlan Cardoso não esteja deslanchando porque está perdendo eleitores para o postulante do PL. Ao se aproximar do PT, por interesses não devidamente explicitados (a história de aliança em 2026 beira contos de carochinha) não se sabe quais, o senador não ampliou seu eleitorado. Pelo contrário, estabilizou-se. Seus números não são ruins, mas mostram uma “estabilidade” perigosa. Pois quem não sobe pode cair ou ser superado.

Perdendo parte do eleitorado da direita, e não conquistando eleitores no centro e na esquerda, Vanderlan Cardoso pode acabar sendo superado por Adriana Accorsi, que mantém seu eleitorado de esquerda, e por Gustavo Gayer, que, sólido na direita, pode absorver parte do eleitorado de centro que não quer apoiar a postulante da esquerda.

Pode-se sugerir que, embora esteja no jogo e bem avaliado, Vanderlan Cardos está, de alguma maneira, meio perdido. Porque, mesmo tendo se aproximado do PT de Adriana Accorsi, está, politicamente, isolado, ou seja, desconectado. Mesmo no PSD, seu partido, há quem não o apoie para prefeito. Até dará declarações públicas de que o apoiará, por lealdade partidária, mas não se levantará da cadeira para bancá-lo nas ruas.

Por que Lucas Kitão, sendo do PSD, está se colocando como pré-candidato, portanto atuando contra Vanderlan Cardoso? Porque o senador não tem o apoio unânime do PSD. Pode-se dizer, até, que tem a presidência mas não tem o PSD, que, em Goiás, foi montado, pacientemente, pelo ex-deputado federal Vilmar Rocha e seus aliados. Frise-se que Vilmar Rocha — retirado do comando partidário pelo senador — não padece da Síndrome de Estocolmo.

Então, há a possibilidade de a polarização entre direita e esquerda acabar sendo entre Adriana Accorsi e Gustavo Gayer — com Vanderlan Cardoso saindo do páreo? É cedo para uma resposta conclusiva. Entretanto, o momento político sugere este tipo de leitura. (Há quem especule, fortemente, que o candidato a prefeito pelo PL será o senador Wilder Morais e que, atendendo Jair Bolsonaro, Gustavo Gayer vai permanecer na Câmara dos Deputados — onde é visto como um eficiente “samurai” do bolsonarismo.)

Há um “detalhe” a ser ressaltado: dos nomes bem cotados, Vanderlan Cardoso é o mais visto como gestor. Se for “tragado” pela polarização entre esquerda, Adriana Accorsi, e direita, Gustavo Gayer, é bem possível que outra figura de gestor seja “puxada” para o centro do palco. Quem?

Há pelo menos três nomes: Jânio Darrot, Pedro Sales e José Vitti. Os três são gestores. Pedro Sales é um gestor do setor público — é uma espécie de Tarcísio de Freitas de Goiás. Ou seja, é um executivo que foge dos discursos pomposos e concentra-se nos resultados.

Pedro Sales tem sido muito bem-sucedido como secretário de Infraestrutura do governo de Ronaldo Caiado. É percebido como o executivo que faz. Além de ser apontado por todos como de uma decência rara nos tempos modernos.

José Vitti foi presidente da Assembleia Legislativa, secretário de Estado e é um empresário bem-sucedido — tão rico quanto Vanderlan Cardoso e Jânio Darrot.

Dos três, Jânio Darrot é o que tem mais experiência tanto no setor público quanto no privado. Vale notar que o principal recall de Vanderlan Cardoso advém do fato de ter sido prefeito em Senador Canedo. Pois o emedebista foi prefeito de Trindade, por oito anos, e mudou sua faceta econômica e a imagem mesmo — não é mais uma cidade-dormitório.

Então, Jânio Darrot, contando com o apoio de padrinhos fortes — como Ronaldo Caiado, Daniel Vilela, Bruno Peixoto e Gustavo Mendanha —, pode ser visto, se bem apresentado pelo marketing, como uma espécie de “gestor substituto” de Vanderlan Cardoso. Ou seja, com sua moderação, pode absorver os votos do centro e avançar sobre parte do eleitorado de direita. Perfil similar ao de Wilder Morais, que conta com a possibilidade de atrair o eleitorado de direita e, dependendo da aliança, pode conquistar o apoio do eleitorado de centro.

Portanto, se Vanderlan Cardoso dançar — “sugado” por Gustavo Gayer —, Jânio Darrot, se contar com os apoios citados acima, pode ser “puxado” para cima. Mas a base governista planeja bancar o ex-prefeito de Trindade? Se pretende, não o diz publicamente, quer dizer, não escancara o apoio — o que gera dúvida na base governista e entre os eleitores.

Cabe a pergunta de fecho deste Editorial: por que o quadro permanece aberto, sem candidatos descolando dos demais? Primeiro, não há campanha. Segundo, os eleitores não se posicionam agora. Só se definem a poucos dias das eleições. Terceiro, os eleitores não sabem — e, a rigor, ninguém sabe — sobre as alianças e apoios políticos. Afinal, quem é, de fato, o candidato apoiado pelo governador Ronaldo Caiado? Ainda não se sabe. Mas se sabe que, bem avaliado em Goiânia, o apoio do líder do União Brasil pode ser decisivo na disputa para prefeito. Quarto, as ideias dos pré-candidatos, a respeito do que pretendem fazer, ainda não foram divulgadas. No momento, não se avalia propostas, e sim pessoas. Quer dizer, o conhecimento a respeito das pessoas é, agora, mais ventilado do que o conhecimento do que os pré-candidatos propõem para melhorar a cidade e a qualidade de vida das pessoas.