Deputado Humberto Aidar cobra espaço para os deputados no Governo e diz que ninguém vai apoiar Caiado se não tiver indicações atendidas

Humberto Aidar cobra cargos de Caiado. Fotos: Fábio Costa / Jornal Opção
Humberto Aidar, deputado estadual do MDB. Fotos: Fábio Costa / Jornal Opção

Entre idas e vindas, o deputado Humberto Aidar (MDB) está na Assembleia Legislativa desde 1992. Essas quase três décadas lhe deram um amplo conhecimento de como a Casa funciona mas, por outro lado, despertou um certo ceticismo em relação aos meandros do Legislativo. Nem mesmo a renovação de 50% que veio das urnas no ano passado mudam essa desconfiança. Para Aidar, há muito novato velhaco.

A vivência na política também o fez desistir de um antigo sonho: ser prefeito de Goiânia. O emedebista, que foi do PT por anos, acredita que Iris Rezende disputará a reeleição em 2020 e banca Daniel Vilela para o Governo em 2022. Aidar critica, ainda, a desarticulação do governador Caiado na Assembleia Legislativa e diz que nos 100 primeiros dias de Governo, o democrata ainda não conseguiu dar sua cara à administração. Na semana passada, Aidar deu a seguinte entrevista ao Jornal Opção:

Rodrigo Hirose – Quais são as principais pautas neste início de mandato na Assembleia Legislativa?
Estamos aguardando a reforma [administrativa] do Governo, que só deve ser enviada após a formatação da base aliada do governador Ronaldo Caiado. Portanto, a principal pauta é o orçamento impositivo [que obriga o Governo a executar emendas parlamentares].

No final do ano passado, os deputados da base e da oposição fizeram um acordo e a fatia do orçamento impositivo caiu de 1,2% do orçamento total para 0,5%.

Atualmente, há uma PEC [Proposta de Emenda Constitucional] do deputado Talles Barreto (PSDB) que retorna o porcentual para 1,2%. Essa PEC está com o líder do Governo, Bruno Peixoto (MDB), que pediu vistas e tem até quinta-feira, 11, para devolver o projeto.

Para aprovar uma PEC, é preciso ter 26 votos, uma maioria absoluta.

Mas uma coisa é orçamento, outra é recurso [para pagar as emendas]. Tem de ter dinheiro e o Estado não está tendo nem para pagar o mês de dezembro.

Rodrigo Hirose – O sr. aposta na aprovação desse novo porcentual ou um meio-termo?
Dificilmente se aprovará 1,2%, até porque a gente sabe a força de um Governo. Hoje, quem defende esse porcentual, foi contrário no mandato passado.

Há uma corrente na Assembleia que defenda o meio-termo, outra quer derrubar o orçamento impositivo. Se fosse fazer uma aposta hoje, diria que vai prevalecer 0,5%.

O Governo ainda não conseguiu acertar sua base, mas há um esforço para que isso seja resolvido.

Rafael Oliveira – O Governo tem condições de pagar 0,5%?
O Governo diz que sim, mas que 1,2% não tem dinheiro para pagar.

Italo Wolff – Zerar o orçamento positivo não seria, também, uma ferramenta de pressão do Governo na Assembleia, pois permitiria que ele distribuísse os recursos apenas para quem faz parte da base?
Essa proposta foi feita, mas não é justa. O orçamento não é para o Governo Caiado, apesar de que na Assembleia sempre foi assim. Sou defensor de que se mantenha o 0,5% ou que se chegue a 0,8%, mas não é justo que deputados da oposição não tenham acesso a nada.

Foi uma avanço conseguir a aprovação desses 0,5%. Só conseguimos aprova-lo após a eleição. No ano passado, alguns deputados da base do Governo. Sempre foi assim, só recebiam emendas os deputados que apoiavam os governos.

Mas também não adianta ter R$ 7 milhões em emendas se não há dinheiro, isso é uma ilusão. Já seria uma grande avanço ter a certeza de R$ 2,5 milhões para destinar aos municípios.

“O secretariado nomeou os cargos e não sobrou espaço para agasalhar os indicados dos deputados”

Rodrigo Hirose – O sr. citou a dificuldade de o Governo ainda está ajustando a base. Quantos deputados o Governo tem hoje? E por que tanta dificuldade de articulação?
O Governo está patinando nessa questão e ele próprio reconhece que deveria ter feito isso [articular uma base na Assembleia] e não o fez. Não sei o que está acontecendo e travando isso.

Não há segredo para se forma uma base. Qualquer deputado para ser Governo, tem de participar dele. Isso significa ter espaço e é natural. Não é questão de troca. Como vou participar de Governo, mas não indico ninguém, não participo de nada? Isso não acontece em lugar nenhum do mundo, não é coisa só do Brasil.

A dificuldade é que o secretariado nomeou os cargos e não sobrou espaço para agasalhar os indicados dos deputados, prefeitos e da classe política. Um governo não pode ser formado apenas por técnicos. Nenhum deputado vai apoiar se não fizer parte do Governo. Até hoje o Governo não conseguiu esses espaços para montar uma base.

Tivemos uma reunião com o Governador no Palácio com 24 deputados. Mas ninguém teve todas as suas indicações atendidas. Por isso não dá para cravar que todos são base.

Rodrigo Hirose – O sr. teve indicações atendidas? Quantas foram?
Comigo e os deputados Vinicius [Cirqueira, Pros] e Virmondes [Cruvinel, PSD) foram atendidos e desatendidos no mesmo dia. Houve um problema. As indicações foram publicadas no Diário Oficial, só que fomos avisados por telefone de que os secretários [das pastas onde os indicados deveriam ter sido lotados] não aceitaram. É uma situação ruim.

Os deputados estão aguardando. O que tenho conhecimento é que o Governo vai desenrolar essa situação ainda essa semana, para que a base tenha 26 deputados.

“É necessário dizer para o secretariado que ele é nomeado, mas não de porteira fechada. O Governo precisa da Assembleia e alguns secretários não entendem isso”

Rafael Oliveira – O governador Ronaldo Caiado tem mostrado interesse em resolver isso pessoalmente? Talvez até trocando algum secretário, já que o sr. disse que alguns deles não acataram o pedido do governador de nomear os indicados pelos deputados?
O Caiado tem nos dito que é prioridade zero montar uma base na Assembleia, até porque não se governa sem apoio no Legislativo.

O que é necessário, e não sei se já aconteceu, é dizer para o secretariado que ele é nomeado, mas não é com porteira fechada. O Governo precisa da Assembleia e me parece que alguns secretários não entendem isso.

Isso é o que vejo de fora, já que não estou no núcleo que decide essas questões. Mas o Caiado tem dito, inclusive para o secretário de Governo, Ernesto Roller, que quer resolver isso. O Governo faria um apanhado em todas as pastas, para identificar os locais que poderiam ter indicações. Feito esse apanhado, os deputados devem ser chamados para uma rodada de conversa.

Rodrigo Hirose – No Congresso, o presidente Jair Bolsonaro também tem enfrentado dificuldade de montar uma base. O discurso é que não aceita o toma lá, dá cá. Essa forma de participação dos deputados na Administração Estadual que o sr. defende não é exatamente esse toma lá, dá cá, que a população agora rejeita?
Na verdade, o Caiado não tem como reinventar a roda. Não quero ser hipócrita. As regras são essas. Ninguém vai assumir desgaste de Governo, se não estiver participando de Governo. Isso não é a atual Assembleia nem o governador que inventou.

Estamos falando de indicações de pessoas qualificadas para trabalhar. É diferente de indicar alguém para receber sem trabalhar. Isso é natural, não vejo como toma lá, dá cá. Não é o Caiado, nem o presidente, é qualquer um: se não abrir espaço para o Legislativo, não consegue apoio.

Isso só vai mudar se houver uma grande reforma administrativa, se acabar com essa quantidade de partido no Brasil. Hoje, a regra é essa e funciona assim. Se amanhã, mudarem as regras, pode ser que se faça diferente.

Rodrigo Hirose – O sr. diz que parte do secretariado não compreendeu essa necessidade. Tem a ver com o fato de que parte dos secretários serem de fora? Como o sr. vê o desempenho dessa chamada “legião estrangeira” do Caiado, especialmente na articulação política?
Não visitei nenhum secretário ainda. Respeito o posicionamento do governo, de ter trazido pessoas de fora, e posso ter um pensamento diferente. Mas o governador é quem ganhou a eleição e confia nessas pessoas. Entendo que Goiás tem quadros supercompetentes. Aquele que não está dando certo, seja daqui ou de fora, tem de ser chamado a entregar o boné.

Não há como eu fazer uma avaliação de qual secretário está dando certo ou não. Mas uma coisa eu posso dizer: alguns secretários assumiram e nomearam todos os diretores, os superintendentes, como se eles fossem o governador.

“Esses secretários têm de entender que a pasta que lhe foi confiada não é dele. Ele dirige, mas haverá indicações políticas”

O Caiado tem anos de [experiência] de deputado federal e há pessoas que o apoiaram durante todo esse tempo, como prefeitos e lideranças. Normalmente, essas pessoas vêm para o Governo, sempre foi assim.

Esses secretários têm de entender que a pasta que lhe foi confiada não é dele. Ele dirige, mas haverá indicações técnicas e políticas. Se faltam cargos é porque secretário indicou mais do que podia.

Rafael Oliveira – Os deputados novatos também estão se movimentando para conseguir esses cargos? Quais deles estão participando dessas reuniões com o governador?
Alguns já optaram pela oposição, mas uns dez ou 12 querem ser base, mesmo entre os que não apoiaram o Caiado na campanha.

“Nos próximos dias, isso [formação da base] será resolvido. O que não vai pelo amor, vai pela dor”

Rafael Oliveira – O sr. acredita que há uma data-limite para que se forme essa base? Vai chegar um momento em que o Governo não conseguirá mais montá-la?
Entendo que nos próximos dez dias isso estará resolvido. O que não vai pelo amor, vai pela dor. O Governo precisa formar a base, não há alternativa. Já deveria ter feito isso no começo. Não sei quem era o responsável, talvez o secretário de Governo [Ernesto Roller], mas tinha de ver se a caneta dele tinha tinta.

A relação [do Governo com a Assembleia] já melhorou nos últimos 15 dias.

Rafael Oliveira – A eleição do Lissauer Vieira (PSB) a presidente da Assembleia contribuiu com essa dificuldade do Caiado?
Também. O natural era a eleição do Álvaro Guimarães (DEM) e já havia um esboço dessa base. Mas quando acontece o revés na eleição da Mesa Diretora, houve uma quebra da caminhada até que o Lissauer se acertasse com o Governo.

O Lissauer foi convidado a ser líder do Governo, mas o prefeito de Rio Verde [Paulo do Vale], que é adversário político dele, não aceitou. Talvez, se tivesse aceitado, hoje o presidente da Assembleia seria o Álvaro e a base estaria formada.

"O Lissauer foi convidado para ser líder do Governo, mas o prefeito de Rio Verde não aceitou" Jornal Opção
“O Lissauer foi convidado para ser líder do Governo, mas o prefeito de Rio Verde não aceitou” Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Na eleição, também houve um descontentamento de deputados que apoiaram o Caiado e que hoje ainda não acertaram com o governador. O Caiado tem ido muito a Brasília para buscar recursos e quem ele deixou para caminhar, mas a coisa não caminhou.

Rodrigo Hirose – Como está a proposta de extinção da Comissão Mista? Por que essa proposta foi apresentada?
O deputado Karlos Cabral (PDT) teve essa ideia porque acredita que assim as comissões temáticas seriam valorizadas. Assim, os projetos do Governo, ao chegarem à Assembleia, ao invés de irem para a Comissão Mista passaria pelas comissões específicas após a Comissão de Constituição e Justiça.

Mas não é tão simples. Falta espaço físico a reunião de todas as comissões. Não é de agora, é de sempre, que só uma comissão funciona realmente funciona na Casa, que é a de Comissão de Constituição e Justiça, além da Mista.

A Comissão Mista é formada por 38 deputados e dá oportunidade para que todos participem e opinem, além de dar uma agilidade aos projetos do Governo. Por isso há muitos deputados que são contrários à sua extinção. O Governo também vai interferir nesse assunto, pois muitas propostas teria dificuldade na tramitação.

Essa e outras propostas, que são claramente desfavoráveis ao Governo, com discurso de fortalecimento do Poder, só passarão se o Caiado não conseguir formar maioria.

Mas há muita coisa que o regime emperra e deveria ser mudada.

Italo Wolf – A Comissão Mista acaba sendo funcional para a Casa. Mas o sr. não concorda que ela permite a aprovação de projetos muito rapidamente, às vezes no mesmo dia em que chega, sem discussão?
Tem de acabar com essa história de projeto chegar e ir para a Comissão Mista no mesmo dia. Tem de ter um prazo, o deputado, no mínimo, de tomar conhecimento do que vai ser avaliado.

A Comissão Mista, na verdade, é a única em que todos os deputados se igualam. Meu receio de acabar com ela, apenas as comissões mais importantes da Casa, como Saúde, Educação e Orçamento, recebam projetos.

Há uma disputa, no início do mandato, para fazer parte das comissões. Depois, algumas não se reúnem uma vez sequer no ano. Não tem nem espaço físico para isso.

“Não é uma coisa dessa Legislatura, mas tem deputado que não sabe em que está votando”

Rodrigo Hirose – Os deputados não têm interesse em ler os projetos, entender seus impactos, antes de votá-los? Eles votam sem saber em quê?
Tem deputado que é apenas um despachante de Governo, de vereador e de prefeito. Mas há aqueles que são preocupados, têm uma assessoria jurídica que os orienta. Não é uma coisa dessa Legislatura, mas tem deputado que não sabe em que está votando, não tem preocupação de legislar.

Como presidente da Comissão [de Constituição e Justiça], envio a todos os integrantes o acompanhamento aos deputados dos projetos.

Mas, repito, tem deputado que apresenta 200 projetos no ano e, quando se pergunta quais foram, ele não se lembra de dez. E o pior é que a imprensa ainda publica rankings dos deputados que mais apresentaram projetos, como se isso representasse quem mais trabalhador. A política tem de mudar, inclusive, na forma de se divulgar o trabalho de cada um.

Rodrigo Hirose – O que pode ser mudado no regimento?
Há coisas simples, como a exigência da presença de 14 deputados para abrir uma sessão. A sessão começa às 15 horas, mas, às vezes, não tem os 14 para abri-la, mas às 15h10 já tem 20 [deputados presentes]. Poderíamos passar a exigência para seis deputados para abrir uma sessão, até para fortalecer quem está lá todos os dias.

Defendo também que a Comissão de Constituição e Justiça seja terminativa em alguns assuntos, como em títulos de cidadão, alguns requerimentos que poderiam ser votados em conjunto, projetos de declaração de utilidade pública, etc.

Coisas do dia a dia poderiam ser melhoradas, mas uma mudança radical, dificilmente ocorrerá.

Rodrigo Hirose – Ao invés de mudar o regimento, dando essa tolerância de atraso para os deputados, não seria mais correto exigir que eles cheguem no horário?
Tenho uma postura mais radical, tem de cortar o ponto. Mas isso é antigo. No início do mandato, os deputados, especialmente os novatos, até que chegam no horário…

“Tem muito deputado novato que é muito mais velhaco do que deputado antigo. A pessoa é nova, mas tem vícios piores que os dos velhos”

Aliás, tem muito deputado novato que é muito mais velhaco do que deputado antigo. A pessoa às vezes é nova na idade, mas com vícios muito piores. Tenho sempre um é atrás com essa história de renovação.

Isso [de os deputados chegarem no horário] não vai acontecer, em breve não haverá quórum [para abrir as sessões].

Há uma incoerência. Corta-se o ponto do servidor que falta ao serviço, mas, o deputado, que deveria dar exemplo, recebe os 30 dias sem ter de ir à Assembleia, se não quiser ir. Por mais que o regimento determine a cassação de mandato se houver um número de faltas, isso nunca aconteceu.

São apenas três sessões por semana, terça, quarta e quinta-feira. Então, se a gente não dá conta de colocar 14 deputados no plenário, vamos estipular um número menor para valorizar aquele que quer trabalhar.

É muito comum o deputado chegar, digitar a presença e sair para atender as ditas lideranças. Para mim, presença seria participar, no mínimo, da Ordem do Dia [período destinado à apreciação do das propostas em pauta]. O deputado tem de estar ali. Se ninguém pedir verificação de quórum, votações que exigem 21 deputados, são feitas com até 7 deputados. A Assembleia é assim e não muda.

Rodrigo Hirose – Mas não muda por quê?
Não sei. Parece que tem uma cabeça de burro enterrada na Assembleia. Os que vão para a rua bater panela, exigir mudanças, quando são eleitos e chegam lá, logo estão do mesmo jeito [dos deputados antigos], aprendem com muita facilidade.

“Tem deputado novato que chega e daqui a pouco é o mais faltoso de todos”

Todo deputado que tem presença perde a eleição, porque enquanto está na Assembleia, o seu concorrente está na cidade do interior fazendo política. E o pior é que as pessoas têm a visão de que é esse tipo de deputado que trabalha, pois está todo dia na cidade, está em reuniões com o prefeito, com o governador.

Como ninguém acompanha o trabalho, estar na Assembleia é para a população como se não estivéssemos trabalhando. Ninguém acompanha a lista de presença da Assembleia. Sou totalmente descrente com isso.

Tem deputado novato que chega e daqui a pouco é o mais faltoso de todos e ainda fala: “Fique aí na Assembleia que você perde a eleição.”

“Não há como um Estado dar certo vendo uma universidade aos pedaços”

Ana Luíza Andrade – Gostaria de mudar a abordagem e falar um pouco sobre Educação. O reitor afastado da UEG [Universidade Estadual de Goiás], Haroldo Reimer, assinou um documento em que aponta que o orçamento atual da instituição não permite que as atividades cheguem até o final do ano, obrigando o cancelamento do segundo semestre. Os professores da UEG cobram a mobilização dos deputados para garantir a existência da Universidade. A Assembleia tem feito alguma discussão para encontrar uma solução para a UEG?
Não, não tem. Estive pessoalmente em uma reunião com a presença do reitor, que ainda estava no exercício, quando se ventilava a intervenção, mas foi colocado é que ele poderia seguir no cargo ou chamar outra eleição.

O Caiado tem dito que almeja um voo nacional. Para isso, a questão básica é se investir em Educação. Não há como um Estado dar certo vendo uma universidade aos pedaços. Nós, deputados, e o Governo, temos de encontrar uma saída. A UEG é um patrimônio.

A UEG, se não vai funcionar da forma adequada, não vai deixar de ter o mínimo. O Caiado não seria irresponsável e inocente politicamente em errar nessa situação, até porque está lidando com um público formador de opinião.

Caiado tem 69 anos, vai acabar esse mandato com 72 e já me disse que não tem pretensão de disputar a reeleição, que sua pretensão é nacional. Como se torna um Estado referência nacional se a Educação estiver em frangalhos? Ele não medirá esforços para fazer do Estado uma referência no tripé Educação, Saúde e Segurança.

Não me resta outra coisa senão acreditar e apoiar.

Ana Luíza Andrade – O que pode ser feito em relação ao orçamento da UEG?
Pode ser feita uma suplementação. É viável e ter de ser feita, senão a Universidade vai fechar as portas. Imagina chegar ao segundo semestre e a Universidade fechar? Isso não existe.

Campus Henrique Santillo, UEG em Anápolis | Foto: Reprodução

Ana Luíza Andrade – A comunidade da UEG também reivindica um diálogo maior entre a Assembleia e a UEG.
Não vejo essa dificuldade, todas as vezes que a UEG nos procurou, teve respaldo. O problema é que não temos a caneta, quem tem é o Governo do Estado. Podemos dar o apoio, mas dependemos do Executivo. Temos deputados ligados à Educação que podem fazer o governador enxergar que a Universidade pede socorro.

O Estado está enfrentando diversas dificuldades, não está investindo em nada. Não é possível que o governador esteja inventando esses números. Quem não recebeu o salário não está pensando no Marconi [Perillo] ou no José Eliton [ambos ex-governadores], ele pensa é no governo atual.

O Caiado tem falado em bilhões de déficit e que quer ajustar a arrecadação e rever os incentivos. Mas ele está confiando muito em recursos federais, na parceria dele com Brasília. Goiás precisa de um aval do ministro da Economia [Paulo Guedes] para conseguir empréstimos e, segundo o governador, será o primeiro Estado a conseguir esse aval.

Rodrigo Hirose – O sr. falou sobre os incentivos fiscais. Na Assembleia, o sr. integra a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] dos incentivos e já afirmou que empresários têm procurado os deputados para fazer lobby relacionado à investigação. Trata-se de que tipo de lobby: pressão, ameaças de deixar Goiás, oferta de propina?
Tem conversa que serve para todo mundo. Empresários e agentes ligados a ele pediram que deputados retirassem assinatura [do pedido de abertura da CPI], alardearam que a revisão dos incentivos impediria novos investimentos em Goiás e que empresas deixariam os Estados. Quem não deve não teme, não estou entendendo o problema.

A classe política está sendo investigada 24 horas pelo Ministério Público e a população aplaude, inclusive os empresários. Agora eles nem estão sendo investigados, nós vamos investigar os contratos assinados por eles. Todo contrato de incentivo fiscal tem cláusulas que falam da contrapartida, que inclui, inclusive, emprego. Qual o problema de a gente averiguar se esses contratos estão sendo cumpridos?

Causa-me estranheza. Pela experiência que tenho na Assembleia, chegou a afirmar que tem algum problema. Temos denúncia de empresas em Goiás que estavam em recuperação judicial e que hoje se expandiram para todo o Brasil; outras que surgiram e, de repente, viraram potências nacionais.

Não existem milagres. Em um Estado onde os pequenos não têm incentivo nenhum, um percentual muito grande deles fecha os negócios em menos de um ano. Em contrapartida, temos empresas que se tornaram superpotências tendo todo tipo de benefício.

“Essa história de que a empresa vai deixar Goiás é conversa fiada. Goiás é o campeão em incentivo fiscal e tem uma localização privilegiada”

Essa história de que vai sair de Goiás é conversa fiada. Primeiro, Goiás ainda é o campeão de incentivo fiscal. Segundo, geograficamente, Estado é privilegiado, está no centro do País. O Doria [governador de São Paulo] está criando um incentivo fiscal para a indústria automotiva que é maior que o de Goiás, não há como concorrer.

Temos, na CPI, técnicos do TCM [Tribunal de Contas dos Municípios] e do TCE [Tribunal de Contas do Estado] e solicitei um auditor do TCU [Tribunal de Contas da União] e do Ministério Público. Solicitamos todos os contratos e leis aprovadas. Tecnicamente, não tem nenhum deputado capacitado na área. Esses técnicos é que vão nos dizer se está tudo certo.

Com esse apoio e de um estudo comparativo com outros Estados, quem sabe apontaremos no relatório um novo formato de incentivo fiscal para Goiás, em que não apenas as grandes empresas tenham incentivos, é preciso equilibrar.

Estou acostumado com CPI. Quem possivelmente será afetado pelas investigações começa a espalhar todo tipo de coisa.

CPIs não acabam em pizza, mas o que as pessoas querem é que o investigado saia dela algemado e processado. Toda CPI apura e remete ao Ministério Público, a quem cabe oferecer ou não a denúncia.

Fui relator da CPI da Goiás Turismo e foram comprovadas irregularidades. Foram gastos mais de R$ 100 milhões de shows e, em um comparativo com o que é gasto em outros Estados, com metade disso seria possível fazer os mesmos shows. Mas, se o Ministério Público entende que isso não é prova, não sei o que é.

A vantagem da CPI é que, pelo menos, a imprensa poderá cobrir as oitivas e ver o porquê de algumas empresas que receberam incentivos estarem tão grandes. Essa é nossa prerrogativa. Aí vem Fieg [Federação das Indústrias de Goiás]… Ninguém é a favor, mas ela vai acontecer.

Nós delimitamos o período investigados a cinco anos porque é o período fiscal. Não adianta apurar algo antes disso, porque qualquer coisa que tenha ocorrido já prescreveu.

Italo Wolff – Qual linha separa uma má conduta das dificuldades financeiras, que podem ser uma justificativa de algumas empresas para qualquer problema relacionado aos incentivos fiscais?
Já conversei com auditores que dizem que as empresas são auditadas periodicamente e que não há problema alguma algum. Queremos verificar isso, porque tem muita denúncia, e essa preocupação exacerbada de alguns empresários causa estranheza.

Há empresa devendo R$ 250 milhões e vai ter de pagar. Tivemos muitas leis aprovadas na Assembleia que faltavam ter nome e endereço, algumas duraram apenas algumas semanas. Tem coisas graves e a Assembleia tem culpa.  

“A Assembleia nunca analisou conta de governo algum sem um olhar político. O José Eliton terá muita dificuldade de ter suas contas aprovadas”

Rodrigo Hirose – O governador Ronaldo Caiado apresentou os relatórios de prestação de contas que encaminhou ao TCE e apontou novamente um déficit, de cerca de R$ 3 bilhões. O presidente do tribunal, Celmar Rech, afirmou que o órgão analisará os documentos e enviará à Assembleia, a quem cabe definir se as contas serão aprovadas ou não. Agora que o governo foi trocado, a Assembleia será mais rigorosa na análise dessas contas?
O que vou dizer pode ser um absurdo, mas a Assembleia nunca analisou conta de governo algum sem um olhar político. Por isso todas as contas passadas foram aprovadas. Arrisco dizer que o ex-governador José Eliton agora terá extrema dificuldade de ver suas contas aprovadas. Além da bancada do Caiado, deputados do governo passado têm muitos problemas com o José Eliton. Há o risco de ele não ter sequer os votos de deputados do PSDB, infelizmente.

A Assembleia nunca, em tempo algum, analisou a questão técnica. É assim que funciona o parlamento: faz vistas grossas. O balanço chega com o olhar técnico do TCE, que é um órgão auxiliar da Assembleia, mas o olhar na Assembleia sempre foi político e continuará sendo.

O José Eliton terá dificuldade de aprovar suas contas se elas vierem com parecer contrário do Tribunal de Contas. Não vejo ninguém com disposição de se debruçar sobre essas matérias para favorecer o ex-governador.

"O Daniel Vilela foi muito prejudicado na campanha de 2018, mas é uma liderança que ainda tem muito a dar" | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção
“O Daniel Vilela foi muito prejudicado na campanha de 2018, mas é uma liderança que ainda tem muito a dar” | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Rodrigo Hirose – O MDB se dividiu no ano passado, quando parte da legenda decidiu apoiar a candidatura do Ronaldo Caiado. O partido já conseguiu juntar os cacos, se é que isso será possível?
O MDB tem base no Estado todo, em qualquer pequena cidade está presente. Sou um cristão novo no partido, mas vejo uma determinação grande do Daniel [Vilela] de reorganizá-lo. O afastamento dos prefeitos [que apoiaram Caiado] é uma questão já resolvida. Eles recorreram [à Executiva Nacional] mas a instância que decidirá é daqui mesmo.

O Daniel foi muito prejudicado na campanha, os maiores prefeitos apoiaram o Caiado, mas é uma liderança que tem muito ainda a dar. Hoje ele é defendido por grandes nomes do MDB para assumir a sigla nacionalmente. É novo, preparado e tem disposição para fortalecer o partido.

O MDB não tem outro caminho, tem de voltar à sua base e se preparar para os novos embates. A campanha do ano que vem começa agora. Tem de fazer prefeitos e se preparar para uma disputa [estadual].

Por mais que ele não fale sobre o assunto, o nome do MDB [para disputar o Governo em 2022] é o Daniel. Ele tem o sonho de ser governador. O trauma da expulsão dos prefeitos tem de ser superado, eles não têm mais clima no partido, é pagina virada.

Rodrigo Hirose – O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, será candidato à reeleição?
Se ele estiver bem de saúde, sempre será candidato. As informações que tenho é que ele está com dinheiro em caixa, sempre teve votações expressivas em Goiânia e sabe administrar. As movimentações dele é de quem será candidato, por mais que ele diga que não. Hoje eu apostaria que ele é candidato.

“O Iris continua sendo
um forte candidato, tem
uma ligação forte com a
região noroeste e sabe
fazer campanha”

Rodrigo Hirose – O sr. falou do dinheiro em caixa da Prefeitura. Depois de dois anos de uma administração muito criticada, agora o prefeito Iris começa a fazer obras, como sempre foi sua característica. Mas, ao mesmo tempo, vemos muitos problemas na cidade, uma crise na saúde, com crianças morrendo por falta de atendimento. O sr. acha que a população ainda cai nessa estratégia, de despejar obras no fim do mandato para ganhar votos?
A última eleição foi atípica, houve deputado eleito sem apertar a mão de ninguém, sem conhecer ninguém, atrás de uma rede social. Não sei se isso se sustenta. Uma coisa é ficar em uma posição de estilingue, atrás do celular, e outra é a atuação.

Temos algumas figuras em Goiânia com potencial de disputar uma eleição. Citaria o Francisco Júnior, o grupo ligado ao Kajuru [senador do PSB] deve lançar o Elias Vaz [deputado federal, PSB] e vejo o Iris ou o Maguito [Vilela], na impossibilidade do Iris.

O Iris continua sendo um forte candidato, tem uma votação histórica. Tem uma ligação muito forte com a Região Noroeste [de Goiânia], sabe fazer campanha. Sempre fui um crítico a ele, mas reconheço isso.

Nunca o vi anunciar [publicidade oficial] e agora vejo anúncios da Prefeitura no rádio, na televisão. A movimentação dele é de candidato e não vejo ninguém no MDB que possa concorrer com chance de ganhar, hoje, que não seja o Iris. Pode ser que surja algum nome, como o do [deputado estadual] Bruno Peixoto, que tem desejo de ser candidato.

O Maguito diz que a preferência é do Iris. Já conversei com o Daniel, que seria um bom nome, e ele rechaça essa possibilidade. Vai haver uma pressão interna do MDB, até para a continuação dos espaços, para que o prefeito, estando bem de saúde. Ele tem todas as contas da Prefeitura sobre a mesa – o homem está uma fera.

Prestação de contas do último quadrimestre de 2018 | Foto: Lívia Barbosa

Rodrigo Hirose – O sr. pessoalmente mantém o desejo de ser prefeito?
Já tive essa vontade quando era do PT, tendei duas vezes e não consegui. Hoje não tenho a mínima vontade, porque você entra no Executivo com o CPF limpo e sai no mínimo com 200 processos, porque é o ordenador de despesas.

Lembro-me de uma conversa com o Paulo Garcia [ex-prefeito de Goiânia, morto em 2017] e ele me contou das centenas de projetos que ele respondia. Acredito até que essa seja uma das causas do enfarto foi a agonia que ele vivia.

Daqui a pouco nenhuma pessoa de bem vai querer mexer com o Executivo, porque invariavelmente vai ficar uns dois ou três mandatos respondendo ao Ministério Público, Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça, mesmo sem ter roubado um só centavo.

Desejo boa sorte a quem queira mexer com Executivo, mas eu estou fora.

Rodrigo Hirose – O sr., como ex-integrante do PT por vários anos, acredita que o partido está acabado?
O PT tem de se reestrutura. Fiquei quase 30 anos no PT e, durante muitos anos, achávamos que éramos os únicos honestos. E quando figuras de proa do partido se envolveram em corrupção, foi um erro adotar o discurso de que tudo era invenção – e depois que as investigações foram se aprofundando, adotou o discurso do “todo mundo faz”. Mas o PT sempre pregou diferente.

A grande maioria do filiado ainda guarda aquele PT do início, são pessoas que vivem e trabalham para o partido, porque acredita, quer um País melhor. Mas algumas figuras foram embriagadas pelo poder. Tem processos com provas.

O PT precisa dar uma repaginada, não pode viver só na dependência do Lula. Continuo acreditando que a condenação dele não foi correta, porque senão outro tantos teriam de estar presos. Ver o Lula preso, por achar que ele era dono de um apartamento, e o Aécio Neves, que acharam R$ 1 milhão na chácara, solto, não dá para entender.

O PT errou ao lançar o Haddad, deveria ter se aliado ao Ciro. Nós, do PT, aí estou falando como se ainda estivesse no partido, fomos os responsáveis por ter o Bolsonaro na Presidência.

Rodrigo Hirose – O presidente do MDB, Romero Jucá, reuniu-se com o presidente Bolsonaro há poucos dias e deixou o encontro dizendo que o partido não será da base no Congresso. Essa é uma decisão correta?
É correta, mas não acredito [na decisão]. O DMB nunca foi oposição, ele se especializou em eleger deputados e senadores, sempre teve grandes bancadas e, assim, ocupou os principais ministérios. Mesmo não ganhando eleição, virou presidente com o [José] Sarney e o [Michel] Temer.

O MDB passou da hora de experimentar ser oposição. Duvido disso, mas esse é o caminho para reestruturar o partido nacionalmente. Nos últimos anos, o partido foi governo com o Fernando Henrique, com o Lula, com a Dilma [Rousseff].

Rodrigo Hirose – O governador Ronaldo Caiado completou, semana passada, 100 dias de Governo. Qual o balanço o sr. faz desse período?
Ele ainda não tem obra para mostrar, não há uma ação específica da mão do Governo, uma marca. Nesses 100 dias a movimentação que vi foi em Brasília, para tentar buscar recursos para Goiás, via seu prestígio na Câmara, no Senado e com o presidente Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes [Economia].

Esse início de Governo foi de preparação para poder caminhar. Há uma determinação, me parece, com todas as secretarias para que haja um corte nos gastos de 20%.

Sem dinheiro não dá para fazer mágica, não há mágica.

“Marconi administrou por 20 anos, teve erros, mas muitos acertos. Se conseguir se livrar dos processos, continua um nome a ser considerado”

Rafael Oliveira – O sr. acredita que o ex-governador Marconi Perillo está acabado politicamente?
Não. Quando ele venceu o Iris, falou-se que o Iris estava acabado. O Marconi tem muitos processos e tem de se livrar deles. Parto da premissa de que todos são inocentes até que se prove o contrário, e até agora ele não foi condenado em nenhuma ação.

Livre desses processos, ele tem um capital político. Administrou por 20 anos, teve erros, mas teve muitos acertos também. Por isso, continua sendo um nome a ser considerado. Não dá para ser diferente, ninguém governa por todo esse tempo sem ter competência. Mesmo os adversários admitem que ele é um animal político. A ida dele para São Paulo é para sair um pouco do foco.

O Marconi montou uma grande rede de apoio no Estado, com vários prefeitos. Claro que isso diminuirá, por causa da força do Governo, pois a maioria das prefeituras depende do Estado para viver. Da mesma forma que o Marconi fez no passado, o Caiado fará agora.

Não tem espaço vago em política e muitos prefeitos vão migrar. Caiado não tem um grupo, sempre foi fechado nele mesmo. Mas vai ter esse espólio político que era do Marconi.

Já o ex-governador José Eliton é página virada, porque nunca teve voto.