Bruno Peixoto: “Vou contribuir com o governador Caiado onde ele achar melhor”

30 outubro 2022 às 00h00

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Elder Dias, Euler de França Belém e Marcos Aurélio Silva
O deputado estadual mais bem votado de Goiás em 2022, com 73.601 votos, também já foi o vereador recordista das urnas, em 2008. Bruno Peixoto trocou o MDB, onde fez praticamente toda sua carreira política – foi eleito pelo antigo PTdoB (hoje Avante) em 2004, mas pouco tempo ficou na legenda –, pelo União Brasil (UB). A saída foi consensual, segundo ele, entre a direção do antigo partido e o governador Ronaldo Caiado, talvez hoje a maior referência nacional de sua nova sigla. Uma mudança mais do que natural, já que o parlamentar é também líder do governo na Assembleia Legislativa (Alego).
A pedido do mandatário, renunciou a subir mais um degrau na carreira política – sua votação foi superior à de quatro deputados federais eleitos – para reforçar a banca governista na Assembleia Legislativa. Mais do que isso: Bruno quer ser presidente da Casa. Mas já deixa claro: “Quando me perguntam se sou candidato ou não, digo que dependo do governador. Se ele entender assim, serei; se entender ao contrário, não serei.”
Em entrevista ao Jornal Opção, Bruno fala sobre o quadro político e a disputa na Assembleia, mas discorre também sobre sua trajetória política e projetos sociais. Católico praticante, serviu oito anos como ministro da Eucaristia na Catedral Metropolitana e hoje atua no movimento dos Irmãos do Santíssimo Sacramento, também no mesmo local. Diz que tem na religião um porto seguro. “Posso estar em qualquer canto do Estado, mas minha agenda tem sempre a missa no domingo, qualquer que seja a cidade em que eu esteja. É onde eu renovo minhas energias”.
Euler de França Belém – Qual foi o segredo para obter mais de 73 mil votos para deputado estadual?
Primeiramente, transparência e seriedade nas ações. Em seguida, acreditar em um governo sério. Fui oposição aos governos anteriores a Ronaldo Caiado. Cheguei a ser líder da oposição naqueles tempos. Então, apoiei Caiado a senador e, durante sua candidatura de 2018 [ao governo], várias bases eleitorais minhas já o estavam apoiando, por mais que eu ainda estivesse no MDB. Isso aconteceu no interior, mas também na capital. Evidentemente, não houve nenhuma restrição de minha parte.
Ronaldo Caiado ganhou a eleição e, no dia seguinte, na segunda-feira, declarei que seria da base e iria ajudar o governo no que fosse preciso. Comecei a fazer, desde então, com veemência, a defesa de suas ações. Tivemos momentos difíceis, entre elas a reforma administrativa e a reforma da Previdência. Defendi o governo desde o início, da necessidade das transformações necessárias até as obras acontecerem e os benefícios chegarem à sociedade. Então, sempre acreditei no governo e no governador. Acho que a sociedade percebeu essa credibilidade. Vim da oposição, houve uma mudança de governo, na qual acreditei, e tivemos êxito. É um governo bem avaliado, com um governador igualmente bem avaliado. Como eu sempre alinhei as ações às de Ronaldo Caiado, a população reconheceu isso na hora de votar.
Euler de França Belém – Em quantos municípios o sr. teve votos?
Fui votado em 239 dos 246 municípios de Goiás. Em 38 deles, fui o mais votado. Fiquei entre os mais votados na capital, com mais de 13 mil votos, e tive maior número de votos entre todos os candidatos em Sítio D’Abadia e Campos Belos, no Nordeste Goiano; em Corumbaíba, Nova Aurora e Goiandira, no Sudeste; em Santa Tereza, no Norte; em Padre Bernardo, no Entorno do Distrito Federal; em Nova Veneza e Santo Antônio de Goiás, na Região Metropolitana de Goiânia. Então, não tive nenhuma área de concentração de votos, até porque trabalho por todo o Estado. Claro, meu berço político é a capital, onde fui vereador por dois mandatos e que me deu minha maior votação.

É preciso conhecer o mundo real das cidades, pegar na mão do povo
Euler de França Belém – Os especialistas disseram, a respeito destas eleições, que as campanhas para deputado, apesar da importância do mundo digital, se decidem no mundo físico. Isso procede?
Procede, sim. Eu mesmo não tenho presença significativa em redes sociais.
Elder Dias – A maioria dos deputados, seus colegas, continua com esse trabalho, mais presencial que digital?
Sim. Hoje, com raras exceções – um ou outro tem presença mais acentuada nas redes sociais –, o trabalho maior é o de corpo a corpo nos municípios, de pegar na mão do cidadão, de sentir a realidade do povo. É preciso conhecer o mundo real das cidades.
Elder Dias – Quantas cidades o sr. visitou nesta campanha?
Foram 93 cidades, mais de um terço dos municípios do Estado. Conto esse número já a partir das visitas em pré-campanha, a partir do final de junho, quando já tínhamos algum material. É quase impossível visitar todas as cidades em um período curtíssimo da campanha oficial, que é de 45 dias.
Euler de França Belém – Como candidato à Assembleia, o sr. teve mais votos do que alguns deputados federais eleitos. Por que o sr. não quis disputar uma vaga em Brasília?
Fiquei à frente, em número de votos, de quatro deputados federais que foram eleitos. Eu tinha consciência de que estava bem estruturado para disputar uma eleição para federal, mas, em uma conversa com o governador, ele me pediu para eu continuar na Assembleia. Assumi esse compromisso, onde ele entender que eu possa contribuir melhor para o governo, seja na presidência da Casa, na liderança ou numa comissão.
Elder Dias – A candidatura à Câmara, em Brasília, é um objetivo próximo?
Sim. Não disputarei mais eleição para deputado estadual. Esta foi a última. É a primeira vez que falo isso.
Euler de França Belém – O sr. acha que o próximo presidente da Assembleia Legislativa será do União Brasil, que tem quatro pré-candidatos?
É uma tendência que seja, sim. Assim como também é uma tendência que a vice seja ocupada pelo MDB. Não significa que será concretizado assim, mas é provável.
Euler de França Belém – Sua candidatura é individual ou tem um grupo político por trás dela?
Para que eu possa disputar a presidência da Assembleia, dependo do governador Ronaldo Caiado. Se ele entender que eu deva disputar, assim será. Caso ele considere que seja outro o nome, vou apoiar esse nome que for indicado.
A Assembleia produz muito. Mas poucos divulgam o que fazemos
Euler de França Belém – Como está sua articulação, nesse sentido?
Tenho conversado com vários deputados, tenho amizade com muitos deles. Vejo o anseio dos meus colegas por transparência, informação etc. Temos essa experiência a ponto de produzir isso, para que todos os 41 parlamentares tenham a estrutura necessária para prestar um serviço de excelência. Tenho de dar os parabéns ao presidente Lissauer [Vieira (PSD), presidente da Alego] porque hoje a Assembleia tem um Portal da Transparência muito bem elaborado; tem credibilidade, tem representatividade. Enfim, ele fez um trabalho formidável.
E o que eu pretendo, sendo presidente, se for a vontade da maioria? Quero que produzamos muito na Assembleia, com divulgação em tempo real. Temos hoje como ter parcerias com “n” veículos de comunicação, para que haja transmissões das sessões. Não mais apenas a TV Assembleia, mas é possível ter todos os veículos nessa parceria e divulgação. Vejo isso funcionar muito bem em cidades do interior, com as câmaras municipais. Divulgam por meio das rádios e de jornais, em tempo real. Eu acho isso algo que aumenta a transparência e divulga as ações. Repito: nós produzimos muito, a Assembleia produz muito. Mas poucos divulgam o que fazemos. É preciso ampliar. Imagine se tivermos 30 rádios, ou 20 veículos com presença significativa nas redes sociais transmitindo as sessões, os pronunciamentos, as votações da Assembleia. A população vai perceber que produzimos, e muito. Lissauer implantou com maestria inovações como a transparência, levou-nos para uma nova sede e temos uma estrutura grande hoje à disposição dos deputados. Nós só necessitamos mostrar à sociedade tudo que discutimos e votamos em tempo real, no plenário e nas comissões. Se conseguirmos essa abertura para dezenas de veículos, a sociedade verá que estamos produzindo muito, seja por meio de projetos de lei ou de debates que contribuam com a sociedade.

Hoje, o governador tem recursos para investir em obras significativas
Euler de França Belém – Como foi sua participação, como deputado, na estruturação da proposta do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) de Goiás?
Fui bastante ativo. Sou economista e advogado, com pós-graduação em Gestão e Controladoria. Acompanhei de perto governos anteriores ao de Ronaldo Caiado. A peça orçamentária era uma peça de ficção científica, não correspondia à realidade. Caiado, juntamente com a secretária Cristiane Schmidt [titular da Secretaria de Estado da Fazenda], sempre enviou à Assembleia peças orçamentárias dentro da realidade. Aprovamos a Lei de Diretrizes e o Orçamento com esses parâmetros. Se havia déficit, estava constando lá, “déficit orçamentário”. Para o próximo ano, temos um superávit. Isso é muito positivo. Foi com essa credibilidade de Ronaldo Caiado no cenário nacional e Cristiane Schmidt, com sua capacidade técnica, que conseguimos aprovar o RRF, que é vital para a economia do Estado.
Hoje, o governador tem recursos para investir em obras significativas. Um dos projetos fundamentais que ele quer tocar é erradicar a fome de nosso Estado. E Caiado vai conseguir isso, porque tem capacidade, tem disposição e agora tem recursos. Vamos investir na estrutura viária, na pavimentação, em incentivos fiscais para algumas regiões e qualificação técnica, de modo a gerar empregos. Queremos trabalhar para que a população tenha um ganho real, saindo da linha da pobreza. Vamos atuar em várias frentes para isso. E repito: estarei na função que o governador entender como necessária, seja na presidência ou em alguma comissão da Assembleia. A posição que ele entender que eu possa contribuir mais, ali estarei. Não tenho nenhuma restrição a nenhum nome da base para dirigir a Assembleia. Aquele que o governador entender que seja o melhor para o Estado, de modo a contribuir com o governo para executar esses projetos, estarei junto com ele.
Marcos Aurélio Silva – Procede que o sr. e o vice-governador e deputado eleito, Lincoln Tejota, vão caminhar juntos nesta eleição da Assembleia?
Lincoln Tejota é meu amigo pessoal. Papai do Céu chamou minha mãe, que teve um tumor cerebral, e Lincoln esteve no hospital comigo. Da mesma forma, a mãe dele [Betinha Tejota, ex-deputada] teve um AVC e também os acompanhei. Gosto muito dele, é meu amigo. Da mesma forma, também sou amigo de Renato [de Castro, deputado reeleito], já saímos para jantar juntos; também de Virmondes [Cruvinel, também deputado reeleito], com quem saio para almoçar e bater papo, é meu amigo pessoal. Tenho uma convivência com todos eles e nenhuma restrição a qualquer um. Caiado, discutindo com todos, e chegando à conclusão sobre um desses nomes – ou outro, que seja da base –, votarei sem qualquer objeção. Mas, sim, nutro uma amizade próxima a todos os três.
Euler de França Belém – Mas o sr. não vai retirar sua candidatura, a não ser que o governador peça?
Não, minha candidatura só será posta se o governador entender que seja necessário. Quando me perguntam se sou candidato ou não, digo que dependo do governador. Se ele entender assim, serei; se entender ao contrário, não serei e, então, apoiarei aquele que, juntamente com Caiado, entender que seja melhor para aprovação das matérias e sua execução, sem problema nenhum.
Elder Dias – Quem poderia ser um candidato fora da base aliada, para uma disputa, ainda que sem condições objetivas de vitória, já que a oposição é minoria?
Hoje temos 29 deputados eleitos por partidos da base. Na oposição, há 12 deputados, entre os quais alguns com experiência. Mas o trabalho será por alguém que tenha sintonia com o governo. Veja bem, não falo em subserviência, mas em sintonia.
Marcos Aurélio Silva – O governador Caiado, ao ser eleito e tomar posse, tinha uma minoria na Assembleia. O sr. foi peça essencial no jogo político para tornar a base aliada majoritária. Esse talento para conciliar, inclusive com a oposição, pode ser um fator decisivo para a escolha de seu nome? Seria um diferencial seu em relação aos demais pré-candidatos?
Novamente, eu vou dizer que o próximo presidente da Assembleia precisa ter sintonia com o governo e ter sido eleito dentro da base. Claro que existe uma tendência natural de que o nome seja do partido do governador, assim como de que o vice seja do MDB. Se houver alguma alteração, espero que isso aconteça dentro da base. Mas é bom lembrar que todos os deputados da base têm uma proximidade com o governador, tanto é que o apoiaram em sua reeleição. Vejo todos com possibilidades reais. Além dos nomes de que já falamos aqui – além do meu, também Renato, Virmondes e Lincoln –, tem também o deputado Cairo Salim (PSD), que votou sempre com o governo e legitimamente tem todas as condições para pleitear a presidência da Assembleia, apesar de não ser do partido do governador, mas de um partido da base. Tem todo nosso respeito para presidir a Casa, mas a tendência natural é de ser do UB.
Euler de França Belém – Há um grupo de deputados que diz que o sr. não é confiável, que não cumpre compromissos. O que significa isso? É apenas uma crítica ou é um fato?
É uma crítica e vou explicar por quê. Enquanto líder – repito, enquanto líder –, tenho de atender as necessidades do governo em relação a algumas matérias na Assembleia. Nesses casos, por mais que a vontade de um ou outro integrante da base fosse votar contra ou até mesmo derrubar este ou aquele veto, eu vou me posicionar contrariamente, em virtude do direcionamento do governador. É a função do líder: respeitar a decisão do governo, por mais que não seja uma decisão pessoal. Tenho de expor a vontade da aprovação de uma matéria, ou da manutenção do veto. Nesse sentido, um ou outro deputado pode interpretar de maneira equivocada essa situação, mas minha lealdade e compromisso, enquanto líder, é com o governo.

Trabalho desde já para que Daniel Vilela, assumindo o governo, seja reeleito
Euler de França Belém – O vice-governador eleito Daniel Vilela (MDB), ao lado de Caiado, é um dos coordenadores desse processo da eleição na Assembleia. O sr. já conversou com Daniel, também?
Vou falar para vocês aqui, em primeira mão: Daniel Vilela e eu fomos vereadores juntos, deputados juntos, também. Eu fui presidente do MDB Goiânia e ele foi – ainda é – presidente estadual do partido. Tenho uma amizade muito grande com ele. Minha saída do partido, até para facilitar a montagem da chapa, foi dialogada e consensual entre ele, eu e também o governador. Assim como foi consensual minha ida para o União Brasil, com anuência de Daniel. Eu o tenho como meu irmão político e não escondo: trabalho desde já para Daniel Vilela, assumindo o governo – com a provável saída de Caiado para disputar a Presidência da República –, ser reeleito para comandar o Estado. Essa é a tendência lógica dentro da política: Caiado ser candidato a presidente e Daniel, assumindo o governo, ser candidato à reeleição.
Euler de França Belém – Mas Daniel é um dos articuladores da eleição na Assembleia?
Acredito que ele vá contribuir, sim, nesse processo.
Euler de França Belém – A primeira-dama Gracinha Caiado pode sair ao Senado, se o governador se candidatar à Presidência?
Nunca conversei com dona Gracinha sobre isso, mas é um nome que tem muita capacidade. Eu ficaria muito feliz em poder votar nela para senadora.
Euler de França Belém – O sr. a apoiaria?
Em 100%.
Elder Dias – Ela alguma vez já mostrou disposição para disputar um mandato?
Para mim, não. Nunca falou para mim sobre a possibilidade de alguma candidatura. Porém, se for candidata, terá meu total apoio.
Euler de França Belém – Falando com algumas fontes, um grupo diz que já tem 12 votos para Renato de Castro; Lincoln teria 15 votos e Virmondes teria 20 votos – tudo isso segundo fontes. Ao somar tudo isso, vemos que há mais votos que deputados. Obviamente, tudo isso só mostra que o momento é de mera especulação. Quantos votos o sr. tem, até o momento?
Até o momento, eu tenho meu voto.
Euler de França Belém – Mas o sr. está trabalhando por mais votos…
Tenho conversado e colocado minhas ideias, mas por enquanto só tenho o meu voto.
Euler de França Belém – Nesses quase quatro anos, o que o sr. aprendeu com o governador Ronaldo Caiado?
Caiado tem uma inteligência acima da média: raciocínio rápido, ágil e com tomadas de decisões que parecem fáceis para ele. Realmente aprendi muito com ele, que me ensina a cada dia. Tudo o que faz é pensando na melhoria da qualidade de vida da população. Trabalha o dia inteiro pensando nisso: em dar segurança, saúde, qualificação, emprego. Ele prepara suas ações em conjunto. Por exemplo, ao beneficiar alguém com uma casa, já qualifica quem está desempregado, já coloca a mulher no projeto Mães de Goiás, o filho já pode ir para a escola tendo um chromebook para estudar e, se estiver no ensino médio, ganhar 112 reais como bolsa para se manter na escola, sem ir para um subemprego abandonando o estudo. Então, esse tipo de política eu aprendi com ele: fazer ações que se conectam.
Outro ponto impressionante que caracteriza o governador: sua decência, retidão, ética e moral. Alguém que não aceita injustiça. Tenho orgulho de ser líder do governo dele. O coração de Caiado é maior do que ele. E, da mesma forma, também dona Gracinha. Vou contar aqui um episódio que ocorreu e eu presenciei durante a pandemia. Conseguimos cestas básicas naquele momento, muito difícil. E eu estava sempre na Assembleia e no Palácio [sede do governo], encaminhando as ações necessárias. Na época, precisávamos entregar rapidamente essas cestas – que vinham de doações, mas também de aquisições –, porque as pessoas estavam precisando. Entretanto, o Ministério Público colocou normas que dificultariam a entrega e a agilidade. Eu vi dona Gracinha chorar, mas chorar muito mesmo, dizendo assim: “As cestas estão aqui! Precisamos levar para essas famílias! Ninguém quer fazer política, queremos só levar as cestas, as famílias estão com fome, não podem esperar, é uma crueldade fazê-las esperar!”. Eu a vi extremamente comovida nesse sentido de querer entregar os mantimentos. O que ela fez? Colocou as cestas no carro dela e chamou uma equipe para entregar, ela mesma. É uma pessoa que tem um grande amor pela população. Da mesma forma que Caiado, que já é grandão e tem aquela voz grossa. Acham que ele é bravo, mas não é assim: o coração é maior do que ele, quem convive com ele sabe disso.

Tenho uma casa de apoio que só se fecha no período eleitoral
Elder Dias – Como homem público, o sr. tem um trabalho social? E em que se baseia esse trabalho?
Tenho uma casa de apoio que só se fecha no período eleitoral, no Setor Aeroporto, lá na Rua 26-A. Há mais de dez anos a gente acolhe pessoas que vêm do interior, de outros Estados e até de outros países e não têm onde ficar aqui na capital. Têm haitianos, venezuelanos e até norte-americanos que não tinham local para permanecer e ficaram lá.
Elder Dias – Então não é uma casa de apoio somente para quem está em tratamento de saúde?
Não, assim como também não é somente para goianos, mas para todos os que precisarem. Independentemente de ser ou não brasileiro, acolho todos. Obviamente, a maioria é de goianos, que vêm de cidades do interior.
Euler de França Belém – E entre os que vêm de outros Estados, de onde são a maioria?
De todos os lugares. Do Pará, do Maranhão, de Minas Gerais, do Tocantins.
Elder Dias – Qual é a capacidade de hospedagem dessa casa de apoio?
Temos aproximadamente cem camas. Tudo gratuito para a população. Marcamos agenda para secretarias quando há necessidade, também pelo Vapt Vupt, por clínicas particulares. Tudo isso com desconto. Temos convênios com várias clínicas e vários hospitais. Pelo alto volume, temos até 70% de desconto para os que ficam em nossa casa. Além da hospedagem, fazemos translado de ida e volta, isso para audiências em secretarias e outros órgãos públicos, para consultas, exames e cirurgias. A única coisa que não conseguimos fornecer é a alimentação.
Hoje sou o deputado com o maior número de projetos apresentados à Assembleia Legislativa. E veja: grande parte dessas ideias vêm dessa nossa casa de apoio. Eu vou lá toda semana, me sento com as pessoas e as ouço. Muitas vezes, o resultado dessa conversa são projetos de lei ou requerimentos pedindo benefícios.
Marcos Aurélio Silva – O sr. realmente é um “motorzinho” de elaboração de projetos como parlamentar. Não teme que essa produtividade fique restrita se se tornar presidente da Assembleia?
Não acredito, porque eu tenho verdadeira paixão por esse trabalho parlamentar. Nossa Assembleia hoje tem uma alta credibilidade diante da sociedade. A população conhece as ações de seus deputados. Como eu disse, a maioria das ideias que temos vem da casa de apoio. Uma conversa rende projetos belíssimos, que, então, acabo colocando no papel para, em algum tempo, virarem leis, em grande parte. Uma delas, por exemplo, fez com que as unidades de saúde pudessem ampliar o número de exames. Outra: aprovamos a utilização de drones e satélites pela Semad [Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável], para uma análise mais apurada. E isso surgiu lá em nossa casa de apoio, sentado ao lado de um senhor que me falou “por que hoje tem tanta tecnologia, por que então não usar o Google para essas análises?”. Dessa forma, inovamos na área ambiental no Estado, claro, sempre com a anuência de nosso governador e da secretária do Meio Ambiente [Andréa Vulcanis].
Euler de França Belém – Quais os três projetos que o sr. considera os principais de sua carreira parlamentar?
Tenho vários projetos que viraram leis e de que me orgulho, mas eu gosto muito de alguns deles. Um é o que proibiu fumar em ambiente fechado, de meu segundo mandato como vereador. É algo que marcou minha passagem pela Câmara. Já como deputado, fiz o projeto que determinou o fim da venda de cerol. Uma terceira lei que teve a mim como autor da proposta foi a que inibiu a inauguração de obras públicas inacabadas. Muitos políticos, na ânsia de entregar logo uma obra, com intuito eleitoral, fazia sua inauguração sem que ela estivesse em condições de servir à população.
Elder Dias – Quantos projetos, ao todo, o sr. já elaborou como vereador e deputado?
Entre emendas e projetos, certamente mais de mil textos. E, desses, mais de cem viraram leis.
Elder Dias – O governador Caiado sempre foi um defensor do agro. Esta gestão conseguiu conciliar os interesses da área com a proteção ao meio ambiente?
Eu e o presidente Lissauer sempre trabalhamos em sintonia. Um dos projetos que apresentamos em conjunto e que se tornou referência para o País – claro, com a anuência da secretária Andréa Vulcanis e do governador Ronaldo Caiado – é conhecido como sistema Ipê [para licenciamento ambiental]. Por meio dele, o técnico assina um documento e dá entrada de forma online. Hoje, a Semad tem confiança nas informações desse técnico, que se compromete com aquilo que assina, garantindo que são informações verídicas. Com isso, reduzimos de um até cinco anos a análise de um projeto para algo em torno de 60 dias, em alguns casos menos, até 30 dias. Com isso, validamos o que o técnico – evidentemente registrado em um conselho – assina e se responsabiliza. Foi uma mudança importante na gestão do governo e que veio de um projeto assinado por mim e por Lissauer. É algo que, de maneira nenhuma, trouxe prejuízo ao meio ambiente, porque as documentações necessárias são as mesmas. O que houve foi o ganho de agilidade, além da credibilidade e a confiança que o governador Caiado tem no técnico devidamente credenciado e que se torna responsável por todo documento que escaneia e assina. Fazendo uma analogia, o que temos na Semad hoje, com a redução da emissão de uma licença ou de uma outorga, é como um advogado representando seu cliente junto ao Poder Judiciário.

Temos em Goiás uma legislação ambiental que é exemplar
Elder Dias – A preservação do Cerrado está na berlinda. A mancha do bioma diminui de tamanho a cada estudo e percebe-se uma preocupação muito menor com relação a sua conservação do que com Amazônia, Pantanal ou Mata Atlântica. A fronteira do agronegócio precisa se expandir ainda mais ou pode-se preservar o que há de Cerrado hoje aumentando a produtividade?
Temos hoje uma legislação que é exemplar. Sou pecuarista, venho do agro e posso dizer que temos respeito e responsabilidade. Investir em tecnologia é uma tendência natural, seja na agricultura ou na pecuária. Quanto maior o investimento, maior será a produtividade e menor será o impacto ambiental. E posso dizer que esse investimento tecnológico já está ocorrendo em nosso Estado. A legislação ambiental é respeitada em Goiás, porque temos um governador e uma secretária sérios, além de uma Secretaria do Meio Ambiente forte, equipada e com uma atuação de fiscalização quando necessário. O que alteramos foi apenas a agilidade. Temos hoje um sistema ágil, para que aquele que infringir a legislação seja punido rapidamente. Os casos de agropecuaristas e empresários do agronegócio que não cumprirem a lei serão punidos. Trabalhamos para que sejamos cada vez mais ágeis em relação às licenças e outorgas, para que quem trabalha de uma maneira correta seja beneficiado.
Euler de França Belém – O que o sr. tem a dizer para os deputados que estão chegando à Assembleia? E aos que já estão?
Os deputados que foram reeleitos conseguiram mostrar o que fizeram. Outros conseguiram isso também, até elevando sua votação, mas, em virtude da votação total do partido, não obtiveram êxito por conta da legenda. De qualquer forma, todos ali ampliaram sua votação pessoal. Isso significa que a Assembleia transmitiu à sociedade seu trabalho, que os deputados foram aprovados pela população. Isso veio seja pelo orçamento impositivo, seja pela apresentação de matérias, de requerimentos, da própria presença. É preciso trabalhar, divulgar as ações nos municípios, mostrar-se presente. É o conselho que posso dar a todos: presença e mostrar o que fez em reuniões nos municípios, olho no olho.
Euler de França Belém – E sobre os colegas que estão chegando agora à Assembleia?
Primeiramente, eles devem agradecer à população pelos votos e pela confiança depositada. Na Assembleia, vão precisar apresentar projetos e requerimentos, além de destinar emendas às cidades que representam, além de se mostrar com muita presença junto à população. Aprendi com Iris Rezende que sempre devemos estar no meio do povo, jamais deixando o poder subir à cabeça. E é isso que é o remédio para controlar essa soberba: estar com a população. Por isso que tenho um gabinete itinerante desde 2005, em meu primeiro mandato de vereador; tenho também um projeto de castração solidária de cães, pelos municípios; também em minha casa de apoio.