Denes Pereira: “A Comurg se tornou uma ‘mãezona’ da Prefeitura”

08 outubro 2023 às 00h01

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Italo Wolff
Presidente estadual do Solidariedade e secretário de Infraestrutura de Goiânia, Denes Pereira completa um ano à frente das obras na capital. O chefe da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (seinfra) conversou com o Jornal Opção em seu gabinete e comentou a crise na Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), com quem a Seinfra recentemente assinou contrato de R$ 681 milhões por ano. O secretário afirma que Goiânia começa a superar os alagamentos e revitalizar bairros que estavam carentes há cinco décadas.
O líder do Solidariedade revela também os planos para o partido em 2024. Um dos principais apoiadores de Rogério Cruz (Republicanos), Denes Pereira abriu ao prefeito as portas de seu partido, mas afirmou torcer para que o Republicanos valorize o quadro que tem na Prefeitura da Capital e que ambos sigam como aliados em seus partidos.
Italo Wolff — Um ano após o lançamento do programa Goiânia Adiante, com investimentos de R$ 1,7 bilhão em obras na capital, qual balanço do projeto? O que já foi entregue?
Denes Pereira — O “Goiania Adiante” consiste em quatro eixos: Saúde, Educação, Infraestrutura e Mobilidade. Esses pilares são interdependentes, porque não se faz mobilidade sem infraestrutura, Saúde sem Educação e assim por diante. O projeto foi lançado no final de outubro de 2022 e, agora, quando completa um ano, avalio que tem caminhado muitíssimo bem. Em qualquer esfera, os projetos do poder público encontram contingências, mas se fizermos um balanço imparcial olhando o que foi realizado, veremos que o Goiânia Adiante vai a passos largos, já entregando diversas obras para a população.
Acreditamos que já estamos solucionando problemas crônicos da cidade, como drenagem, pavimentação, iluminação, sinalização das ruas. São obras que já eram necessárias há 40 anos em regiões como a das chácaras de São Joaquim ou das chácaras Maringá, que esperam asfalto há décadas. Em uma capital com 7,1 mil quilômetros pavimentados, estamos recapeando o asfalto em mais de 1 mil. Estamos reformando as galerias da cidade que, em grande parte da cidade, eram as originais de seis décadas atrás. As tubulações eram de 40 mm, feitas de barro, e estamos aumentando para 800 mm e até 1500 mm. Teremos vinte vezes mais capacidade de escoar águas da chuva.
Há muitos outros exemplos: Bairro Goiá, Paulo Pacheco, Avenida c-7, Parque Santa Rita, Setor dos Funcionários. Na Alameda Córrego Fundo, no setor Mansões Paraíso, abrimos nova via que reduzirá o percurso para o condutor que sai da região Oeste em 9 km. Abolimos as lâmpadas de vapor de sódio e substituímos por LED em 24 mil pontos, já com a licitação encaminhada de outros 18 mil, pois o LED é muito mais eficiente. Isso mostra como, além das grandes obras, há centenas de intervenções menores nos bairros. Tudo será entregue dentro do prazo. Por isso, o balanço do Goiânia Adiante é muitíssimo positivo.
Por que esses problemas crônicos chegaram a este ponto?
O problema crônico está sendo resolvido agora porque o prefeito Rogério fez um esforço excepcional para solucionar os problemas. Não foi feito antes porque governar é priorizar. Goiânia é uma cidade que cresceu muito rapidamente – foi projetada para abrigar 50 mil habitantes e hoje tem 1,5 milhões – os prefeitos anteriores tiveram de escolher entre realizar a manutenção do asfalto antigo ou pavimentar os novos bairros.
Toda gestão tem a sua característica e as suas prioridades. A gestão do prefeito Rogério resolveu encarar esses problemas, acredito que por ter sido vereador por oito anos e conhecer as carências da cidade. A primeira visita do prefeito Rogério, ainda enquando candidato a vice-prefeito, foi num local alagado; então creio que essa questão sempre foi prioritária para ele.
Locais como o Jardim Novo Petrópolis tem problemas que exigem muito para serem resolvidos, e a atual gestão encarou apesar da dificuldade. Ali, há uma obra de drenagem urbana muito difícil, tão complicada que a empresa responsável desistiu dela e nós retomamos o contrato. Entendemos que era necessário resolver mesmo com os custos que desestimularam os últimos prefeitos, porque aqueles moradores estão na lama há 20 anos.
Eu integrei a Secretaria Municipal de Infraestrutura há 18 anos, na gestão Iris Rezende. O Bairro Feliz já tinha problema de alagamento naquela época. Hoje, estamos fazendo uma obra de R$ 10 milhões para resolver o problema e 75% dela ficará escondida abaixo do solo. É um investimento grande que melhora a vida das pessoas, mas que não é visto por quem passa. Muitas vezes, esse esforço não é lembrado depois que o problema é resolvido.

Goiânia está pronta para enfrentar o período chuvoso, então?
É extremamente importante esclarecer, porque na gestão pública temos de ter muita responsabilidade com o que falamos. Nós não temos controle sobre as intempéries do clima ou sobre a arrecadação. Os municípios brasileiros atravessam um momento de dificuldade – basta ver a marcha de prefeitos exigindo do governo federal mais repasses. Goiânia não é uma ilha, estamos sujeitos aos imprevistos. É impossível dizer que os alagamentos deixarão de existir; mas tomamos medidas para que, a partir desta gestão, seja impossível ignorar a drenagem urbana.
Onde fizemos intervenções a questão será sanada. Mas Goiânia completa 90 anos em breve; se nesse período a cidade não olhou de forma crítica para as falhas na drenagem urbana, não podemos esperar que tudo seja consertado do dia para a noite. Conseguiremos fazer intervenções em todos os pontos da cidade? É claro que não, isso deveria ter sido iniciado há 30 anos. Mas corremos atrás do tempo perdido.
A cidade tinha um plano diretor defasado. A capital do estado de Goiás, a décima maior cidade do país, tinha regras para lidar com o assunto que datavam de 2005. Goiânia não pode ter um plano norteado pelo achismo. Por isso, buscamos a Universidade Federal de Goiás (UFG) para planejar ações que resolvam o problema em definitivo. Isso foi um grande acerto. Ninguém teria mais capacidade, competência, sensibilidade e conhecimento da drenagem de Goiânia do que a UFG. Além de já ter estudado o tema com suas teses de doutorado, a academia tem expertise para guiar as políticas públicas de forma científica.
A Seinfra celebrou novo contrato com a Companhia Municipal de Urbanização (Comurg) no valor de R$ 56,8 milhões mensais. O presidente da Comurg, Alisson Borges, já disse que a companhia não consegue realizar os serviços previstos no contrato. Na sua opinião, qual a saída para o problema?
A Comurg, ao longo dos anos, entregou muito para cidade de Goiânia. A gente conhece os problemas e gargalos da companhia de urbanização, mas não deixar de reconhecer que ela fez de Goiânia uma das cidades mais verdes e bonitas do Brasil. Se hoje nossa capital é a queridinha do Centro-Oeste, isso foi em parte contribuição da Comurg. Porém, a companhia foi ganhando mais responsabilidades e se tornou uma espécie de “mãezona” na Prefeitura. A Comurg se tornou a alternativa para resolver os problemas que surgiam e que, originalmente, não eram de sua alçada.
Se ela assumiu trabalhos da Secretaria de Educação, de Saúde, de Assistência Social, como será capaz de orçar esses serviços que não estavam previstos para ser realizados? Se surge um problema e que não estava previsto no contrato, a companhia deixa de realizar o serviço? De forma alguma. Nesse processo, ficou com a remuneração defasada.
O novo contrato foi feito para atualizar os preços, obedecendo à tabela oficial da Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi) e obedecendo aos critérios do Tribunal de Contas. É importante dizer também que o novo contrato atende ao Marco Legal do Saneamento e às recomendações do Ministério Público.

A média dos preços da coleta seletiva no Brasil hoje está muito acima do que a companhia recebe. A realidade é que a Comurg pratica preços menores do que as de outros municípios do país. Isso precisa ser atualizado. Há sete novos itens que não eram cobrados antes e que, de agora em diante, serão computados. Mas é importante lembrar que colocar um valor no contrato não significa que o recurso será totalmente usado. Essa previsão orçamentária é anual e os meses podem apresentar valores diferentes.
Acredita que os serviços devem ser privatizados?
Acredito que precisamos entender a vocação primária da Comurg – a companhia de urbanização. Ela foi criada para cuidar de setores da limpeza da cidade. A coleta, a operação dentro do aterro, a varrição mecanizada, tudo isso pode ser feito via licitação para empresas terceirizadas, até para que os serviços avancem em eficiência, tecnologia e sustentabilidade.
E esse processo de licitar a terceirização de alguns serviços da Comurg já está em andamento. Tivemos várias rodadas de conversa com a participação do Ministério Público e Tribunal de Contas do Município. Desde agosto, estamos autorizados a lançar o novo edital, que está em fase final de formulação.
O senhor mencionou que a Comurg cumpre funções que não eram originalmente dela. Atualmente, atravessamos uma greve na educação e tivemos notícias de que a Comurg está desempenhando o papel de servidores da educação. Como o senhor vê esse caso? É desvio de função?
A greve tem um tempo legalmente determinado para começar e acabar; nenhuma greve dura para sempre. Quando os serviços forem retomados, precisamos que as coisas funcionem. Não existe a opção de deixarmos as unidades de educação se deteriorar por falta de manutenção que a prefeitura pode prestar, não apenas com a Comurg. Nós vemos os funcionários da Comurg trabalhando porque a companhia tem muita mão de obra, mas os servidores da Seinfra também estão aptos a manter os prédios, que são patrimônio público. Fazer greve é um direito constitucional, isso não se discute. Mas não podemos deixar que a paralisação de um setor cause prejuízo ao patrimônio e aos alunos.
As obras do BRT finalmente entram na reta final. Qual balanço o senhor faz dessas obras?
Não podemos falar do BRT sem contextualização. É verdade que as obras serão inauguradas na gestão de Rogério Cruz, mas esse não foi um projeto de Rogério Cruz; a construção durou mais de dez anos problemáticos, mas não partiram do atual prefeito. As soluções podem ser dele, mas os problemas não.
Temos dados para afirmar isso: dos quatro terminais do BRT, três foram feitos majoritariamente por Rogério Cruz e um parcialmente por ele. As obras de alguns, como o terminal Paulo Garcia, foram 100% tocadas e concluídas pelo atual prefeito. Concluir quatro grandes terminais em dois anos e nove meses é uma loucura; Iris Rezende concluiu apenas um complexo viário no seu último mandato.
O senhor é um dos principais aliados de Rogério Cruz. Há perspectiva de que o prefeito migre para o seu partido, Solidariedade?
Eu acredito que o prefeito Rogério tem uma história muito forte com o Republicanos. Acredito ainda que esse passado conta muito e que, apesar das crises que vemos, o legado será maior do que as discussões passageiras. As pessoas que têm problemas com o prefeito, são políticos que chegaram ao partido agora. Rogério Cruz tem um histórico sólido, além de ser o prefeito da capital do estado de Goiás. É o principal ícone do partido no estado, sem sombra de dúvidas. Acho que a legenda vai evitar ao máximo perder esse quadro valioso.
O novo presidente estadual do Republicanos, Roberto Naves, é um político muito experiente, tanto em gestão, porque comanda a terceira maior cidade do estado, quanto politicamente. Acho que ele será hábil o suficiente para compreender que o partido deve auxiliar o prefeito de uma cidade importante, e não atrapalhar. A realidade da crise recente foi que o partido chegou a atrapalhar a gestão do prefeito, mas acredito que isso foi superado.

Entretanto, se, porventura, o prefeito Rogério tiver qualquer tipo de dissabores ou dificuldade, o Solidariedade está de portas abertas. Eu, como presidente estadual do Solidariedade, já deixei isso claro na ocasião em que o apresentei ao presidente nacional do partido, Eurípedes Júnior, e ao Paulinho da força. Nessa conversa que tivemos pessoalmente com o prefeito Rogério, dissemos que estaremos à disposição do prefeito para ajudá-lo em sua gestão.
Enfim, acredito que ele vai continuar nos Republicanos porque Roberto Naves vai ajudar a aparar as arestas. Essa dificuldade deve ser esquecida em breve, pois os partidos precisam contribuir e não atrapalhar as gestões, até para que consigam a reeleição do prefeito, que é um quadro histórico no partido. Enquanto presidente estadual do Solidariedade, só posso garantir que o apoiaremos em qualquer que seja a sua decisão.
Existe perspectiva de outra reforma do secretariado? Se fala sobre isso no Paço?
Não. Esse assunto é de foro pessoal do prefeito, não é? A impressão que tenho é a de que as últimas mudanças ajustaram as secretarias conforme a proposta. Acredito que o alinhamento desejado foi atingido. É claro que podem haver novas mexidas, porque isso é natural no governo municipal, estadual e federal.
Como suas boas relações com a Câmara Municipal auxilia a Seinfra?
Tenho relação muito tranquila e próxima com 90% dos vereadores. Conheço muitos de outros mandatos. Mais do que gostar da articulação política, minha vocação é a gestão, sou apaixonado pela execução dos projetos; mas sou um animal político, presidente de partido há muito tempo. Sem sombra de dúvidas, ter habilidade política ajuda a esclarecer aos parlamentares as necessidades da Prefeitura e as oportunidades que eles têm para superar os desafios da cidade.
Por exemplo, recebemos mais de R$ 600 mil em emendas parlamentares do vereador Anderson Sales, Bokão (Solidariedade) para recapeamento no Residencial Vale do Araguaia. Então, temos muita tranquilidade e facilidade para tratar com a Câmara Municipal de Goiânia.
Como o Solidariedade tem se preparado para 2024? O senhor pretende se candidatar?
Eu não tenho projeto político para 2024; meu projeto é para 2026. É um trabalho que tenho muito claramente, apesar do fato de que a política é dinâmica, muda muito. Talvez eu seja requisitado em 2024 – pode acontecer, mas não é meu projeto. Por enquanto, fortaleço a gestão do prefeito Rogério em Goiânia e atuo na presidência do partido selecionando as grandes lideranças que vão disputar as eleições pelo Solidariedade em 2024.
Não abrimos mão de ser a grande surpresa das próximas eleições e trabalhamos muito por esse resultado. O Solidariedade hoje é a terceira maior bancada do estádio do estado de Goiás, com três cadeiras na Câmara Municipal e está preparando para se tornar, sem sombra de dúvidas, o grande partido nas eleições municipais em Goiânia e em vários outros municípios goianos.
Na última semana tivemos reuniões em São Paulo e na quarta-feira, 4, em Brasília para discutir o fortalecimento do partido em outras cidades. O plano, é claro, é chegar a 2026 com uma base sólida, que passa pelas eleições de 2024. Em Anápolis, por exemplo, temos o pré-candidato Coronel Adailton, que é muito respeitado na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e foi bem votado na cidade. Em Trindade, com o deputado Cristiano Galindo que caminha com o prefeito Marden Junior. Em Senador Canedo, com o deputado Júlio Pina, o único parlamentar eleito para representar a cidade na Alego.
Silio Junqueira, o vice-prefeito de Caldas Novas, é o pré-candidato a prefeito pelo Solidariedade. Em Morrinhos, o ex-deputado Maycllyn Carreiro. Em Rio Verde, Lissauer Vieira. Em Jataí, Itumbiara, Mineiros, temos trabalhado muito. Mas Goiânia é nossa prioridade, onde estaremos caminhando ao lado do prefeito.
Quais suas perspectivas para a reeleição de Rogério Cruz em Goiânia?
As entregas das obras vão pesar a favor dele. Não é historinha de “vamos fazer”, é que já estamos entregando 630 km de recapeamento das vias com anúncio de mais 500 km. A recuperação da Perimetral Norte, outra obra difícil, foi enfrentada por ele. É impossível que esses números sejam ignorados na eleição. O eleitor vai se lembrar de que sua rua foi restaurada e os alagamentos em seu bairro acabaram.
Ele será o prefeito que mais vai entregar Unidades Básicas de Saúde (UBS) na história da capital. Fez um complexo viário e quatro terminais em um mandato. Está visitando e asfaltando bairros com décadas de abandono. Está projetando um plano de drenagem que pensa nas próximas gerações. Está trazendo tecnologia para os serviços de urbanização. Por tudo isso, acredito que conquistar a reeleição é só uma questão de comunicar todas essas obras.
Mas, por fim, tenho andado muito com o prefeito Rogério e tenho ficado impressionado com a receptividade das pessoas. Onde a gente anda na cidade de Goiânia, as pessoas fazem questão de cumprimentá-lo.
As greves na educação e maternidades não vão pesar?
Temos 45 mil funcionários públicos. Quem foi o prefeito que mais atendeu e reconheceu o funcionário público da cidade de Goiânia nos últimos 30 anos? No ano passado, a prefeitura atendeu três datas-bases. Qual outro prefeito que fez isso saindo de uma pandemia? Quantas progressões na educação esse prefeito cumpriu? Mais de mil. Realizou um concurso público, que há mais de 12 anos não existia, e fez o chamamento de mais de 1,8 mil profissionais.