O projeto que altera o nome da Avenida Castelo Branco para Agrovia Iris Resende Machado não foi votado na sessão desta quarta-feira, 16, da Câmara Municipal de Goiânia. O autor da matéria, vereador Clécio Alves (Republicanos), resolveu pedir vistas ao próprio texto, sob a justificativa de “que preciso melhor entender esse projeto”. A matéria entrou na pauta do dia após pedido de inclusão e inversão de Sargento Novandir (Avante), que foi aceito pelo plenário.

A articulação de Clécio gerou duras críticas e restrições dos vereadores que querem rejeitar a propositura do atual presidente da Casa. Ao final, o presidente não informou se pretende devolver nesta quinta-feira, 17, ou na próxima semana o projeto para que seja colocado na pauta de votação.

O vereador Sargento Novandir, principal opositor e articulador pela derrubada do projeto, foi contundente ao criticar o adiamento da votação. “Isso é uma baixaria, uma manobra covarde e desrespeito aos vereadores, bem como aos empresários e trabalhadores que atuam naquela avenida”. Novandir disse que pretende inclusive recorrer à Justiça para que a matéria seja votada o quanto antes.

O vereador acusou ainda que o pedido de vistas foi votado de forma irregular: “Desafio o Clécio a colocar novamente o pedido em votação”, desafiou. “Sargento Novandir matéria vencida”, respondeu Clécio. Vários vereadores criticaram a Mesa pela rapidez na votação do pedido de vistas, como Gabriela Rodart (PTB), Lucas Kitão (PSD), Pedro Azulão Jr (PSB), Cabo Senna (Patriota), dentre outros.

Ao se posicionar favorável a permanência do nome da via, a vereadora Gabriela Rodart explicou que a discussão não é sobre a relevância política de Iris Rezende para a Capital, mas em relação aos transtornos que podem gerar aos empresários da região. “Não vejo como pauta ideológica. Não é sobre Castelo Branco, é sobre a vontade do povo. Qualquer projeto que vem aqui para alterar rua precisa de abaixo-assinado, ou seja, é necessário que a maioria dos trabalhadores ou comerciantes daquele local que sejam favoráveis”, pontua.

Por outro lado, Paulo Magalhães (União Brasil) apontou que Iris Rezende foi vítima da ditadura militar (ao ter mandato cassado) e que Castelo Branco “foi o primeiro ditador do Brasil”. “Clécio, quero parabenizar pelo projeto e dizer que sou favorável a Iris Rezende. Vamos aplaudir um ditador desse?! É taca nesse camarada”, disse.

Aava Santiago (PSDB) disse que não se intimida por grito de galeria, se referindo à claque que protestava no momento. A vereadora ainda denunciou que há ameaças de colocar fotos dos vereadores que votaram a favor do projeto de mudança da avenida.

Críticas

As galerias da Câmara foram ocupadas integralmente por empresários e trabalhadores da Castelo Branco, que vaiaram o vereador Clécio. As manifestações foram contundentes contra os apoiadores do projeto que muda o nome da Avenida. “Esse projeto vai prejudicar mais de 400 empresários que atuam naquela via pública. A maioria ali não quer essa alteração no nome. Isso é um absurdo”, garante Novandir. “Creio que é preciso respeitar a memória do maior líder da história política de Goiás. Iris merece essa homenagem. Daí nosso empenho e da maioria dos colegas deste Poder”, retrucou Clécio.

Entre as entidades que participaram do ato contrário a mudança de nome foram a Associação Comercial, Industrial e Serviços de Goiás (Acieg), Associação Goiana de Empresários de Auto Peças (Ageap), Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio), Sindicato do Comércio Varejista de Veículos e Peças e Acessórios para Veículos (Sincopeças), Sindicato do Comércio Varejista de Goiás (Sindilojas), Sindicato do Comércio Atacadista, Distribuidor e Atacarejo no Estado de Goiás (Sinat) e Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Automotores (Sincodive).

Proprietário da Águia Diesel, Luiz Mauro é um dos coordenadores do ato. “Apesar de reconhecer o legado do ex-governador e ex-prefeito e, inclusive, defender que homenagens a Iris sejam feitas em outros pontos da capital, nós comerciantes não vemos razões para ressuscitar esse projeto”, disse.

Ainda segundo ele, a mudança prejudicará muito as empresas da região. “Se essa alteração ocorrer de fato, as lojas terão de trocar todas as peças da sua identidade visual, como fachadas, cartões de visita, folders, panfletos, plotagem de veículos, letreiros etc. Isso terá altos custos, já que as empresas deverão fazer também alterações cadastrais, por exemplo, em operadoras de telefonia, nas companhias distribuidoras de energia elétrica e água, e na Receita Federal, impactando em todas as certidões que deverão ser emitidas novamente em função da atualização do endereço no CNPJ.”

Histórico

O projeto é uma nova tentativa do vereador Clécio Alves de mudança da via. Desta vez, a intenção é que seja chamada de Agrovia Iris Rezende. É que a primeira tentativa chegou a ser aprovada na Câmara Municipal, mas foi vetada pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) diante de pressão de empresários da região. O veto chegou a ser avaliado pelos vereadores, mas foi mantido, mesmo com assinatura de 32 vereadores favoráveis ao projeto. Vale lembrar que a prefeitura tem projeto de criação de um polo de comércio agropecuário, previsto, inclusive, nas alterações aprovadas no Plano Diretor.