Até julho deste ano, 37 pessoas já morreram em acidentes de trabalho em Goiás

27 julho 2023 às 09h42

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Até 26 de julho deste ano, os acidentes de trabalho mataram 37 goianos. Destes, 24 trabalhadores tinham menos de 50 anos de idade e a grande maioria, 34, eram do sexo masculino. Os dados são da Superintendência Regional do Trabalho em Goiás (SRTb-GO) e servem como alerta para as condições de trabalho e práticas trabalhistas inseguras e suas repercussões.
A superintendente Sebastiana Batista reafirma a necessidade de desenvolver e manter ambientes e processos de trabalho seguros e saudáveis, sendo de responsabilidade compartilhada entre empregadores, trabalhadores, sindicalistas, médicos do trabalho, engenheiros do trabalho, técnicos de segurança do trabalho e demais profissionais que atuam com segurança do trabalho, além das autoridades trabalhistas, governantes e sociedade. “A SRTB-GO, por meio de seus servidores, quer ver uma gestão trabalhista segura, com a visão voltada ao bem estar dentro do local de trabalho, este é o nosso propósito”, afirmou ao lembrar a data de 27 de julho.
Acidentes de trabalho
Uma pesquisa do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, disponibilizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), mostra que, em 2022, o Brasil registrou 612,9 mil notificações de acidentes relacionados à jornada profissional. Isso resultou em 148,8 mil benefícios concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Já o número de óbitos por acidente de trabalho no país atingiu 2.538 no ano passado. Nesse estudo, Goiás ocupa a oitava colocação nacional de casos de acidente de trabalho, concentrando 3% de todas as notificações no País com 16.879 registros em 2022. Nesta quinta-feira, 27, comemora-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho.
Entre os principais agentes causadores de acidentes, destacam-se máquinas e equipamentos (14%), agentes químicos (12%), quedas do mesmo nível (12%), veículos de transporte (11%), agentes biológicos (11%), ferramentas manuais (8%) e motocicletas (8%).
As lesões mais frequentes são corte, laceração, ferida contusa e punctura (totalizando 20%), seguidas por fraturas (18%). Os dedos são as partes do corpo mais afetadas, representando 24% dos casos. Os setores econômicos com maior incidência de acidentes foram atividades hospitalares, comércio varejista de mercadorias em geral, administração pública em geral, transporte rodoviário de carga e construção de edifícios.
Os trabalhadores que não fazem contribuições independentes à Previdência Social não têm direito a benefícios financeiros caso sofram acidentes que resultem em sequelas definitivas, afetando sua capacidade de trabalho. A concessão de indenização ocorre apenas para segurados após avaliação médica realizada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Segurança
O presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANMAT), Francisco Cortes Fernandes, explicou que a questão da segurança e da medicina do trabalho é um processo interligado. O engenheiro ocupacional, por exemplo, reconhece os riscos existentes no local de trabalho, comunicando se estão acima ou abaixo do limite de tolerância de exposição ocupacional.
Ao engenheiro de segurança e trabalho cabe propor medidas de segurança quando os riscos que estão dentro do ambiente de trabalho ultrapassam os limites de segurança. Ao médico do trabalho, por sua vez, cabe identificar, através de exames ocupacionais, as doenças relacionadas à exposição ao risco ou que não foram ou não estão sendo bem controladas.
Fernandes afirmou que existem empresas no Brasil com padrões de excelência em segurança e cumprem a legislação vigente. Outras, por sua vez, estão fora da normativa de segurança do país. “Como existe em todas as profissões e setores, há casos ótimos, bons e ruins”, externou o presidente da ANMAT à Agência Brasil.
Célula de cultura
A mestre em fisiologia do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Bianca Vilela, afirmou que as empresas têm um papel preponderante para evitar acidentes no ambiente corporativo. “É o exemplo que, depois, deve ser levado para fora da empresa”. Bianca destacou que a empresa é uma célula de cultura que vai abordar ali a saúde e a segurança de seus colaboradores.
Em uma linha de montagem de veículos, por exemplo, há vários materiais como prensa, martelos, e uma série de situações que podem gerar acidentes. Para evitar que esses acidentes aconteçam, existem normas que vão regulamentar a segurança do colaborador. Aí entram os chamados EPIs. Se a pessoa vai manusear algo cortante, ela tem que ter uma luva específica. Para suportar ruído maior do que deveria, o trabalhador deve usar um protetor auricular.
“Todos esses cuidados devem ser o coração da empresa, para que o colaborador volte para casa saudável. Ninguém quer voltar sem um dedo ou com alguma torção ou, até mesmo tendo um incidente de trabalho, que é antes do acidente. São coisas que você quase tropeça, quase se corta. Todos esses cuidados fazem parte do dia a dia da empresa”, ressaltou a fisiologista.
Conscientização
É necessário, também, que haja conscientização da parte dos trabalhadores, porque existe muita gente resistente a seguir as normas. A fisiologista salientou que quem desempenha um serviço há muitos anos sem problemas, pode ter uma falsa impressão que está imune a acidentes.
“Isso é muito perigoso. A empresa precisa dar esse fomento de treinamento e de equipamentos, mas o colaborador tem uma palavra muito importante nesse processo, que é a aceitação. Ele precisa aceitar aqueles procedimentos corretos para que ele mesmo seja o beneficiado”. Questões importantes no dia a dia de trabalho, como a ginástica laboral, vêm em seguida. “Aí você vai criando a cultura de saúde e segurança, que são inseparáveis”, afirmou Bianca Vilela.
*com informações da Agência Brasil