Por que é difícil estabelecer Corredor Humanitário em Gaza

16 outubro 2023 às 19h16

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Antônio Caiado*
Especial para o Jornal Opção
Em tempos de conflito e instabilidade, a criação de corredores humanitários torna-se uma ferramenta vital para aliviar o sofrimento humano. Contudo, na complexa geopolítica do Oriente Médio, há diversos obstáculos ao estabelecimento dessa passagem segura para os civis na fronteira sul da Faixa de Gaza, entre Palestina e Egito.
Uma das principais preocupações egípcias é a de que membros do Hamas podem entrar em seu território, infiltrados em meio aos refugiados palestinos. A afinidade ideológica entre o Hamas e a Irmandade Muçulmana (organização radical islâmica originada em Cairo) agrava o temor de que uma aliança pode surgir entre eles. Se tal união se consolidar, não apenas a oposição ao atual governo egípcio seria fortalecida, mas também a ameaça contra Israel. Vale lembrar que o Egito mantém alianças cruciais com países ocidentais, cujo apoio é fundamental para sua estabilidade.

A Multinational Force and Observers (MFO) foi estabelecida após o tratado de paz entre Egito e Israel no início dos anos 1980 para garantir a segurança na Península do Sinai dentro dos termos que foram acordados no tratado. Composta por militares de mais de 10 nacionalidades, essa força multinacional desempenha um papel crucial na manutenção da paz na região. Somente os Estados Unidos, que desempenham um papel destacado na MFO, já empregaram mais de 35 mil militares de sua Guarda Nacional na missão do Sinai, conhecida como Task Force Sinai, desde 2003.
Diante dessa complexa configuração, a criação de um corredor humanitário traz à tona preocupações sérias sobre a segurança destas forças internacionais. Além disso, é impossível ignorar exemplos históricos, que recomendam cautela. Em 2016, a Jordânia fechou suas fronteiras para refugiados sírios após um ataque suicida que vitimou guardas jordanianos.
A administração e distribuição da ajuda humanitária é outro ponto de atenção. Um corredor humanitário envolve mais do que apenas abrir portas; é crucial garantir que a ajuda alcance quem precisa. Com o Hamas potencialmente encarregado da administração da ajuda, surge o questionamento: como assegurar que apenas suprimentos essenciais sejam transportados? A possibilidade de contrabando de armas sob o pretexto de assistência humanitária é uma preocupação válida.
Em conclusão, a urgente necessidade humanitária em Gaza está enraizada em uma rede de desafios geopolíticos e de segurança. Ao buscar soluções, a comunidade internacional precisa ponderar cuidadosamente essas complexidades para oferecer uma resposta eficaz e segura.

*Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente, serve no 136ª maneuver enhancement brigade (MEB) senior advisor analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.