Com raros registros, o cachorro-vinagre foi avistado no início deste ano no Parque Nacional das Emas, no Sudoeste de Goiás. Cientificamente, a espécie foi batizada de Speothos venaticus e faz parte da família Canidae, que é composta por mamíferos da ordem carnívora como cães, lobos, coiotes, raposas e chacais. Ele é conhecido popularmente como cachorro-do-mato-vinagre, janauira, janauí, cachorro-do-mato-cotó e pitoco, e está na lista crítica de ameaça de extinção. 

O biólogo Kennedy Borges, que coordena pesquisa e visita no Parque, contou ao Jornal Opção que, em mais de dois anos, flagrou apenas duas vezes – outubro de 2022 e março de 2023 – animais dessa espécie no local. “Eu já vi quatro cachorros-vinagres. Dois em uma ocasião e dois em outra ocasião, em outro ponto, a vinte e poucos quilômetros do primeiro ponto de avistamento. Eu creio que eram casais”, ressalta. 

Borges explica que esses animais são de pequeno porte, com cerca de 60 e 75 centímetros de comprimento e peso que varia de cinco a sete quilos. “É do tamanho de um cachorro doméstico pequeno”, compara. Embora dois casais tenham sido vistos dentro do Parque, essa espécie se organiza em matilhas, com grupos de até 10 indivíduos que cooperam durante as caçadas. 

Cachorro-vinagre no Parque Nacional das Emas | Foto: divulgação/PublicDomainPictures por Pixabay

Segundo Borges, apesar de haver cachorro-vinagre no Parque, encontrá-los é bastante difícil. Essa dificuldade faz com que a espécie seja pouco estudada. Apesar de pequenos, os cachorros-vinagre se alimentam de crustáceos, aves, anfíbios, pequenos répteis e roedores. Ele cita que outras espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará, podem ser vistos no local a cada dois dias. 

Além do Cerrado, o biólogo destaca que a espécie é encontrada em grande parte do Brasil, como na Floresta Amazônica e no Pantanal, e outros países da América do Sul e Central. No entanto, conforme a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a população de cachorro-vinagre tem diminuído. O órgão pontua como origem do problema a destruição e degradação do habitat. 

Biólogo Kennedy Borges | Foto: Arquivo pessoal

Diferente de outros animais, os cachorros-vinagre exploram grandes dimensões territoriais. Um monitoramento feito pelo biólogo Edson Lima, em Nova Xavantina (MT), divulgado em 2011, mostra que em 20 meses uma matilha percorreu entre 658 km² a 720 km². O espaço é superior a dos canídeos sulamericanos, como o lobo-guará (entre 65 e 80 km²) e da onça-pintada, maior carnívoro da América do Sul (50 a 150 km²).

Primeiro registro no Parque 

Em 2015, o biólogo Marcus Buononato, ao visitar o Parque Nacional das Emas, filmou pela primeira vez um grupo de cachorros-vinagres. Eles estavam caminhando por uma estrada de terra. No momento, ele se preparava para apreciar o fenômeno da bioluminescência dos cupinzeiros – larvas do vagalume Pyrearinus termitilluminans que produzem e emitem uma luminosidade para atrair as presas. 

“O mais curioso é que eles [os cachorros-vinagre] não demonstraram nenhum tipo de reação de medo à gente. E é uma coisa engraçada: ou eles estão acostumados ou ao contrário, tiveram pouco contato com humanos”, relatou na época. Já Kennedy contou que não teve a mesma sorte, pois ao avistar os últimos dois casais, ao descer da caminhonete, os viu fugindo rapidamente, antes de serem registrados por uma câmera fotográfica.

Assista o registro no Parque Nacional das Emas:

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