A seca e o calor extremo que têm castigado a Amazônia está ligada ao desmatamento na região. A afirmação foi realizada pelo secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, durante entrevista ao portal UOL nesta quarta-feira, 15.

“Está bastante claro que desmatamento na Amazônia gerou uma seca na região e, claro, com isso, há alto risco de maiores temperaturas”, disse o secretário da agência, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU).

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Taalas apresentou também apresentou o informe anual sobre as emissões de gases de efeito estufa, indicando um novo recorde de concentração. Os dados servem como um alerta para os governos que, no final do mês, se reúnem para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP28).

O secretário explicou que a “evaporação que ocorre normalmente numa floresta tropical ameniza essas temperaturas”. Com a derrubada de árvores, o impacto muda. Ao ser questionado se o desmatamento e a seca poderiam afetar as temperaturas no Brasil, Taalas explicou que sim.

“Temos exemplos da história. A região da costa do Mar Mediterrâneo era florestada. Veja a bandeira do Líbano que tem até uma árvore. Hoje, é a região que mais sofre uma elevação de temperaturas, depois do Ártico. Se ela tivesse uma floresta, isso poderia reduzir o impacto”, disse.

De acordo com o governo brasileiro, a taxa de desmatamento na Amazônia caiu em 22% em um ano. Mas, para Taalas, o impacto do que foi registrado nos anos de Jair Bolsonaro pode levar anos para ser recuperado.

Na avaliação da entidade, a situação da Amazônia preocupa, principalmente diante dos primeiros sinais de que a região esteja deixando de ser um local de captação de gases para ser um emissor. “É um ponto de inflexão que estamos preocupados”.

Conforme Taalas, o impacto do desmatamento tem sido visto nas temperaturas e no clima da própria região. “Esse é um dos maiores problemas que temos nas florestas do mundo hoje”, disse.

Ele defende que um sistema de monitoramento seja estabelecido, justamente para entender o impacto da ação humana e da exploração da região, inclusive pela pecuária.

“O sistema climático pode estar próximo dos chamados ‘pontos de inflexão’, em que um determinado nível de mudança leva a uma cascata de mudanças acelerada e potencialmente irreversível”, disse o informe. 

“Os exemplos incluem a possível extinção rápida da floresta amazônica”, destacou a agência, ao lado de casos como a desaceleração da circulação oceânica do norte ou a desestabilização de grandes camadas de gelo.