Em risco de extinção, cágado é ameaçado com expansão de hidrelétricas

30 junho 2023 às 15h46

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Um grupo de pesquisadores de universidades federais e colaboradores do terceiro setor uniram esforços para publicar um estudo inovador que indica um aumento no risco de extinção de uma espécie de cágado endêmica devido à expansão das hidrelétricas. O estudo pioneiro, liderado pelo professor e pesquisador André Luis Regolin do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), foi publicado no Journal of Applied Ecology na última segunda-feira, 26.
O estudo avaliou os impactos das usinas hidrelétricas na distribuição do cágado-rajado (Phrynops williamsi), uma espécie de quelônio ameaçada. Para prevenir e mitigar esses impactos, os pesquisadores classificaram as futuras usinas hidrelétricas de acordo com seus efeitos adversos na distribuição da espécie.
A conclusão dos pesquisadores foi baseada em modelos de nicho ecológico, que estimaram a distribuição da espécie e a compararam com as localizações das usinas hidrelétricas existentes e planejadas no Brasil. O estudo investigou se as usinas hidrelétricas estavam localizadas em áreas altamente adequadas para a espécie. Além disso, foram avaliadas as diferenças na magnitude dos impactos causados, levando em consideração a fase de licenciamento e o tipo das usinas.
O estudo também identificou áreas prioritárias para a conservação da espécie nos locais onde estão planejadas novas usinas hidrelétricas. Isso foi feito através de uma análise integrativa de modelos de nicho ecológico e conectividade hidrológica. Por fim, os cientistas avaliaram o risco de extinção da espécie em diversos níveis.
Os resultados evidenciam que as usinas hidrelétricas superpõem áreas de alta adequabilidade para a espécie, independentemente de seu tipo ou estágio de licenciamento. As discrepâncias nos efeitos adversos entre os diferentes tipos de usinas hidrelétricas são determinadas pelo tamanho da área afetada e pelo grau de interrupção na conectividade.
No futuro, espera-se que as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) causem um impacto quase equivalente ao das grandes usinas hidrelétricas (UHEs), que são atualmente as que mais impactam a espécie. De acordo com o professor e pesquisador da UFG, André Luis Regolin, autor deste estudo, essa pesquisa é pioneira ao abordar de maneira integrada os impactos das hidrelétricas sobre a espécie.
“Os resultados poderão auxiliar no planejamento da redução dos impactos da expansão hidrelétrica sobre o cágado-rajado. O mesmo método pode ser aplicado para o estudo de outras espécies ameaçadas por empreendimentos do setor elétrico”, pontuou em entrevista ao Jornal da UFG.
O professor também avalia a importância do estudo: “Acredito que a publicação é uma importante contribuição para a conservação do cágado-rajado. Revelamos o padrão geral dos impactos cumulativos dos empreendimentos sobre a distribuição da espécie, o que era urgente. Os resultados têm alto potencial de aplicação para subsidiar tomadas de decisão relacionadas à expansão da matriz hidrelétrica”.
“Porém, ainda há muito a ser feito. Existem diversas lacunas de conhecimento sobre o cágado-rajado e será necessário investimento em pesquisa de ponta para poder avançar com propostas concretas para sua conservação”, completa.
A reavaliação do status de conservação da espécie confirmou parcialmente as avaliações anteriores e indicou que o risco de extinção foi subestimado em certos aspectos. Uma nova abordagem metodológica de modelagem foi utilizada, o que revelou possíveis conflitos entre a geração hidrelétrica e a conservação da espécie.
Essa análise pode ser uma ferramenta complementar valiosa para orientar as decisões relacionadas à sustentabilidade ambiental de usinas hidrelétricas, ao destacar os padrões de impacto acumulativo dos empreendimentos nas espécies fluviais e nos ecossistemas de água doce. Essas informações podem subsidiar o planejamento de fornecimento de energia sustentável, permitindo uma abordagem mais informada e equilibrada em relação aos impactos ambientais.
O estudo foi produzido pelos seguintes pesquisadores: André Luis Regolin (UFG), Raíssa Bressan (era pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o estudo é também uma homenagem in memorian a ela), Tobias Kunz (UFRGS), Felipe Martello (UNESP), Ivo Rholin Ghizoni-Jr (UFSC, Florianópolis, SC), Danilo José Vieira Capela (Grimpa Consultoria Ambiental, Curitiba, PR) Jorge José Cherem (Instituto Tabuleiro, Florianópolis, SC), Luiz Gustavo R. Oliveira Santos (UFMS), Rosane Garcia Collevatti (UFG), Thadeu Sobral-Souza (UFMT).