A crise climática e a seca na região da Amazônia resultaram em uma tragédia humanitária ignorada, afetando severamente as comunidades ribeirinhas ao longo das margens do rio Solimões, um dos afluentes do Rio Amazonas. Em vilarejos situados no Médio Solimões, a mais de 700 quilômetros de Manaus por via fluvial, a situação é desoladora, com falta de água, alimentos, eletricidade, combustível e, para muitos habitantes, a impossibilidade de solicitar ajuda.

A seca apenas exacerbou a evidente negligência. Famílias estão sendo forçadas a consumir água contaminada, pois não têm outra opção. A situação é comparada ao desespero causado pela pandemia.

A situação é particularmente crítica nas comunidades de Amanã, localizadas na confluência dos rios Japurá e Solimões, abrangendo uma área de 23,5 mil km² nos municípios de Maraã, Barcelos e Coari. O nome “Amanã” significa “caminho da chuva”, mas infelizmente, a chuva atrasou e, quando ocorre, é escassa. As estradas se transformaram em caminhos de areia e lama. Trinta e cinco comunidades estão isoladas e sem acesso a água potável.

Os moradores precisam descer barrancos íngremes apoiando-se em tocos e, por vezes, atravessar vastos campos de lama, onde até mesmo arraias e outros animais podem estar escondidos. O lamaçal pode ser tão profundo que o corpo afunda até a cintura.

Além disso, eles enfrentam a constante ameaça de mosquitos e outros insetos que se fixam em suas peles castigadas pelo calor. A água quente do rio, com temperaturas acima de 30°C, deixa a pele marcada com queimaduras. Só os barcos pequenos, as rabetas, canoas motorizadas, conseguem atravessar alguns trechos de rios e canais. Os motores de popa afundam na lama.

A seca repete o terror da pandemia em que pessoas morriam não propriamente da Covid-19, mas da falta de assistência. Rios secos ou rasos demais transformam minutos em horas ou mesmo impedem o transporte dos doentes. Na semana passada, um rapaz que teve o corpo atravessado por pedaço de madeira ao escorregar na lama levou 17 horas para chegar a um hospital de Tefé. Normalmente, a viagem levaria três horas.

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