O que se sabe sobre Claudine Gay, a reitora de Harvard que renunciou após acusações de antissemitismo

03 janeiro 2024 às 08h41

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Após pouco mais de seis meses de assumir o cargo, Claudine Gay, a reitora da renomada Universidade Harvard, instituição privada de ensino superior dos Estados Unidos, renunciou nesta terça-feira, 2.
Em uma carta aberta, ela explicou que tomou a decisão “com um peso no coração, mas um profundo amor por Harvard”. Claudine Gay afirmou que é melhor para Harvard que ela renuncie, permitindo que a comunidade navegue por esse momento desafiador com foco na instituição em vez de em qualquer indivíduo.
“Ficou claro que é do interesse de Harvard que eu renuncie para que nossa comunidade possa navegar. […] Em meio a tudo isso, tem sido angustiante ter dúvidas sobre meus compromissos de enfrentar o ódio e defender o rigor acadêmico – dois valores fundamentais que são fundamentais para quem eu sou – e assustador ser submetido a ataques e ameaças pessoais alimentados por uma animosidade racial”
Claudine Gay, ex-reitora da Universidade de Harvard em comunicado informando sua renúncia
A reitora enfrentava acusações de plágio e descontentamento de doadores, congressistas e parte do corpo docente e discente, devido à sua abordagem em relação aos protestos anti-Israel no campus após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro.
Em uma audiência na Câmara americana, Claudine Gay respondeu a perguntas sobre os protestos e foi criticada pela deputada Elise Stefanik por suas respostas em relação ao genocídio dos judeus. Houve também acusações de ressurgimento da segregação racial, com o deputado Burgess Owens mencionando cerimônias de formatura exclusivas para diferentes grupos.
Após a audiência, surgiram denúncias de plágio na obra de Claudine Gay, com alegações de que ela fez paráfrases não creditadas em sua escrita. A reitora pediu desculpas, mencionando ser alvo de ataques pessoais e ameaças relacionadas à animosidade racial. O conselho diretor de Harvard inicialmente tentou defendê-la, mas novas denúncias continuaram a surgir, levando à sua renúncia.
Saiba mais
O conflito entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza, iniciado em 7 de outubro de 2023, tem mobilizado estudantes universitários americanos, elevando a tensão entre grupos a favor da causa palestina e a favor do Estado judeu. Casos de antissemitismo e islamofobia têm ganhado destaque no ambiente acadêmico.
Em 5 de dezembro, Gay, Elizabeth Magill, presidente da Universidade da Pensilvânia, e Sally Kornbluth, presidente do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, da sigla em inglês) foram questionadas na Câmara dos EUA sobre casos de antissemitismo nas universidades, como relembrou o jornal Folha de S.Paulo. Na sessão não houve menção à islamofobia.
Durante a audiência, conforme relatou o jornal britânico The Guardian, a deputada republicana Elise Stefanik, ex-aluna e crítica de Harvard por considerar a instituição de esquerda, tentou associar o termo “intifada” – “agitação” ou “levante”, em árabe – ao genocídio de judeus. Depois, questionou as três presidentes sobre se o apelo ao genocídio dos judeus violaria os códigos de conduta de cada instituição.
As presidentes responderam que dependeria do contexto, mas destacaram que o código seria violado se o discurso se tornasse uma conduta, uma ação. A posição das reitoras, no entanto, foi deturpada por grupos de extrema direita americanos, como explicou o jornal The New York Times.
Gay foi a primeira reitora negra de Harvard, universidade que integra a Ivy League e figura entre as mais relevantes do ocidente, como relembrou o site G1.