21 poemas para deixar seu Natal esteticamente mais belo e refinado

18 dezembro 2022 às 00h00

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1
Oração de Natal
Gilberto Mendonça Teles
Jesus, para o Natal minh’alma vos suplica
Um silêncio de paz, uma quietude rica
De áureas recordações, de mística saudade,
De sossego, de calma e de serenidade…
Longe, para bem longe, o tumulto das gentes,
O borborinho insano e as vozes estridentes
Da turba irracional!
Deixai-me ouvir os hinos.
As sagradas canções, o badalar dos sinos,
Estes celestes sons que em minha’alma se adensam…
Entornai sobre mim a luz de vossa benção
Espiritualizada… Arrancai de meu peito
O lúrido rancor com que – néscio – me enfeito!
Jesus, farei com que nesse Natal eu posso
Sentir por um momento a Excelsitude Vossa
No espírito cansado e cheio de saudade.
Insuflai em minha’alma as luzes da Bondade.
E a minha fronte ornai de sonhos mais celestes…
Sejam-me a inspiração as dores que tivestes.
Somente para Vôs seja o meu pensamento
Voltado…
E, então, no som nostálgico do vento,
No quérulo cantar das pequeninas aves,
No cicio feliz das orações suaves
E na festiva voz dos sinos vos verei
— Simples como um Mendigo e altivo como um Rei!
(Natal de 1953)
2
Nos ombros da cruz
Lêda Selma
Cristos em trapos
cristos famintos
cristos descalços
cristos sem nome
cristos em falso
no rito da vida
no giro da lida
na roda indigente
de cristos-meninos,
arremedos de gente.
É Natal!
Cristos que buscam
um rumo, a esmo,
e no medo se escondem,
e nos becos se perdem,
e na dor se consomem.
Cristos que espiam
o arrastar das horas
e nas ruas, exaustos,
furtam escombros
de sonhos andrajos.
É Natal!
Cristos que fogem
de balas fardadas
das armas insanas,
das culpas urdidas,
mas morrem ao som
dos vis estampidos.
Cristos sem vida
nos guetos dos morros,
cristos nas valas
de sua própria sina.
É Natal!
De volta, a Estrela,
da alegria, o alarido,
retiram-se as nuvens
sorriem as luzes
esbatem-se as dores
refinam-se os sinos
em retinir festivo:
renasceu o Menino!
Sobre a toalha de linho,
a imponência da Ceia.
É Natal!
Cristos que vagam,
esmolam um pão
(olhar embaçado
de solidão e sombras),
ouvem repiques,
do cimo da torre,
em dó sustenido,
qual suplício de almas.
Nas sobras do nada
a ceia dos filhos.
É Natal!
Na calçada imunda,
mastigam silêncios
e bênçãos negadas,
os cristos da cruz.
Sobre o chão estriado,
esperas exangues,
inclemência da noite,
dores caladas.
Da instância azul,
o Cristo espia…
É Natal!
E das mãos vazias,
calejadas de nãos,
dos cristos sozinhos,
sem manto, sem rosto,
acenos aos céus
como se em prece:
a luz da Estrela
é o olhar de Jesus!
É Natal!

3
Notícias do Natal
Elias Antunes
Quando alguém divide
O seu pão escasso com
Quem tem fome:
Isso é Natal!
Quando alguém ajoelha
E agradece pelas dádivas
Do sol e da chuva:
Isso é Natal!
Quando alguém se lembra
Que há um menino dentro de si
Cheio de paz e inocência:
Isso é Natal!
Quando alguém encontra
A sua estrela guia
E redescobre a magia da vida:
Isso é Natal!
4
Natividade
Adalberto de Queiroz
A luz piscando na vitrine exposta
as vésperas da Noite de Natal
provoca olhares, entanto me desgosta:
é frio o brilho do esplendor frugal.
Não há entres os presentes mirra, incenso,
nem ouro, que há milênios, ao Menino
os Reis-magos concederam. Qual o senso
da analogia — manjedoura ou destino?
Aqui, mais nada, só há mercadorias:
tristes vazios que a ganância cava
na alma extasiada dessas criancinhas,
a permanente a nódoa, que não sara,
pois o que é falso por fim negocia
o pai: aquilo que em Cristo era Graça.
5
Distraído
Danilo Baldacini
Sentado no sofá
Absorto, do tamanho de um cachorro
A realidade abaulada é vermelha
Verde superporá
Urdidura sem linha
Memória decepciona
Todo o universo da vontade minha
Inverso desmorona
Porém não agora
Em que respiro fundo numa bola
Que pisca centelha
Abafando a turba em colóquio e pasto
Convoluto em silêncio
Por um segundo eu morro
Num enfeite de Natal absorto

6
Haicais de Natal
Eduardo Lima
Do Passado
Breves lembranças
Momentos reprimidos
Entre guirlandas
Do Presente
Ouço um sino
Sinto a brisa passar
Canto um hino
Do Futuro
Espero natais
Encontro esperança
Em dias letais
7
Sagrada família? (ou Poema baseado em fatos reais)
Simone Athayde
Ontem vi Maria
no semáforo da Avenida Brasil.
Vi também o
menino Jesus
nos braços dela.
Já José
Cadê José?
E agora?
Maria não era linda,
Não tinha manto,
nem olhos verdes, bondosos.
Era desgrenhada, desdentada, desiludida.
Sozinha,
Tentava sua triste lida,
Estendendo a mãozinha
Não para abençoar
Mas para pedir.
Alguém se compadece da família incompleta
e dá uma esmola melhorzinha.
Nesta época, todos ficam mais generosos.
Até o prefeito, que encomendou
a maior árvore de natal que a cidade
já viu.
8
Luzes
Rodrigo Celestino Rocha
Acendem-se os olhos
os corpos
as mentes…
as gentes.
Vez ou outra
desajustadas ao longo do ano.
Unem-se num encontro amistoso,
amoroso, caloroso
embora,
às vezes…
nem tanto.
Trago
presentes…
na cachaça…
no charuto.
Vejo sumir na fumaça
mais um ano que se foi.
Unidos agora
mas talvez, quem sabe…
distantes depois.
Que o Natal una
aqueles que possam doar suas luzes
para ascender…
um outro alguém.
9
O que é o Natal para você?
Matheus Nunes
Não esperarei por uma pessoa
Até a madrugada
Com toda certeza, que não virá.
Neste Natal nascerá um menino
Ungido pelo Divino Espírito Santo
Que nasceu em uma manjedoura
E reinará para todo o sempre.
Tem pessoas que ainda não entendem a verdadeira magia do Natal.
O que é o Natal para você?

10
Natal é genial
Hélverton Baiano
Quis a genialidade de quem inventou o Natal
Do marqueteiro de Jesus
e de quem pôs a virgindade na mãe.
Muitas vezes quis a inocência cega de acreditar
Para meus socorros nas agruras.
Adoro conviver com quem me deseja Feliz Natal
Porque é doce e verdadeiro.
Mas, para mim,
O melhor do Natal é o décimo terceiro.
11
Time lapse slow motion
Veronika Topic Eleuterio
A verde ramada sem vida
desnuda, aguarda impotente
e o pequeno de cabeça amarela desponta
acelerado, baixa, levanta e encontra
da cesta capta as esferas coloridas!!!
Poft.. bolas espalhadas
Cabeça grande interfere
ela abaixa, recolhe
Bolas em seu lugar
Entra em cena o barrigudinho bailante
que dá nove voltas
E a não tão mais pelada
agora pisca colorida
Ganha adornos, brincos
biscoitos que não se comem mas enfeitam
bonecos de neve que não se derretem
bolas cafonas de porta retrato
ou com minúsculas frases clichês
o menino chora porque não alcança
e deixar pela metade traz desesperança
O pai sem escadas
ergue prontamente o pequeno
esquecido da sua quarentagem
ganha de presente costas travadas
depositam as últimas bolas e estrelas,
No chão abandonam um boneco velho
barbado e de roupa carmim
montada toda parafernália
desligam a câmera para ver como ficou
Mas a rapidez aniquilou cada detalhe
postar a intimidade é o que vale
Hora de fazer a carta para o Santa Claus da Amazon
Cabeça amarela pediu um carro giroflex
Enquanto a mãe compartilha o vídeo
O pai corre para tomar um dorflex.
12
Natais de outrora
Elizabeth Caldeira Brito
Aqui, neve não há.
E o frio que brota
dos olhos vorazes
congelam sorrisos
que teimam o silêncio.
Aqui, Noel não há.
E a ausência sentida,
na sombra da árvore,
que sonha saudades
de outros natais.
Aqui, a estrela não guia.
Seu cadente trajeto
espatifa horizontes
na geografia.
E do céu, antes aberto,
a saudade aproxima.
Invade o passado
e o traz para perto.
13
É Natal!
Luiz Castro
Há uma guerra acontecendo,
Causando dor e sofrimento a uma nação inteira,
Mas, é Natal!
Há crianças e velhos passando fome,
Sofrendo violência e abandono,
Mas, é Natal!
Há pessoas sofrendo preconceitos
Pela sua cor, origem ou sexualidade,
Mas, é Natal!
Há pessoas vagando pelas ruas das cidades,
Dormindo ao relento, sem um teto para se abrigarem,
Mas, é Natal!
Há pessoas escravizadas pelas drogas
E há pessoas planejando violência e mortes,
Mas, é Natal!
Há um planeta inteiro sendo destruído,
Animais sendo mortos e árvores sendo derrubadas,
Mas, é Natal!
E apesar de tudo,
Num mundo impiedoso e injusto,
Ainda há fé e esperança.
É Natal!
14
Noite Feliz
Gabriel Emiliano Rodrigues
Somos todos feitos de amor e esperança
aos pés da árvore de arame e luz led
“Feliz Natal”
Bendito sejam os corações amolecidos
pela bondade sazonal dos panetones
De fato, a cesta mais que básica chega a mãe e seus doze filhos. Com uma garrafa de cidra de maçã
Ela vem com panfletos e dura o tempo de se agradecer, e de silenciar a todos os críticos que só criticam
No shopping, nevam bolinhas de isopor
há renas, trenós e promoções imperdíveis
Mas fora do ar-condicionado chove e faz calor, é tempo de jacas e mangas
Há também os presépios e advertências das avós
Afinal, essa festa é aniversário
do menino deus de Nazaré
Que nasce todo ano em dezembro
só para ser crucificado em abril
E com ele vão todos os bons irmãos
Mais uma vez mortos para o mundo
assim que se apagam os pisca-piscas
sepultados em caixas empoeiradas
Até o ano que vem
15
Então se foi, o Natal
Émerson Falkenberg
E se Natal fosse o nome de uma criança,
Batizado pobre, que herdou a rua fria,
Que fantasia a ajuda na próxima pessoa,
E na próxima, e no próximo…sinal fechado.
Aquecido pela cachaça e esquecido pela criança,
Sujeitado a dança trágica e desfecho abrupto.
Mas no final, todos brindam ao Natal.
16
Natal à mesa
Ernani Catroli
Ecos rendados egressos
dos longes
Tudo de imutável
da noite única
O que se vê
– quadro a quadro –
se emoldura do sagrado
As janelas todas abertas
Janelas de Matisse
17
Então, é Natal!
Lucien Guymen
Comidas, festas, e bebidas.
Mesas grandes, enfeites coloridos, roupas elegantes.
Brindes e mais brindes.
Beijos e abraços, contendas também.
Passeios, viagens e muito mais.
Presentes, brinquedos e distração.
Tudo pra divertir e comemorar.
Mas, comemorar o quê mesmo?
Alguns lembram, outros esqueceram, mas o que importa?
Nas casas de poucos a festança se repete todo ano.
Nas casinhas de muitos o prato vazio continua “gritando”.
Flagelos naturais seguem por aí matando.
Fome, miséria e sede pululam em cada canto.
Em que lugar esconderam o tal “espírito de Natal “?
Política e Economia continuam ditando.
São os deuses de ontem e de sempre.
Para onde a carruagem, sem renas, nos levará?
18
Refazendo o Natal
Maria Helena Chein
Há um menino acordado
olhando o mundo: é Natal.
Bebo-Te
na alegria desta noite,
enquanto Te contemplo, Menino,
na manjedoura iluminada
do meu peito.
Busco-Te
em cada gesto,
em todo olhar,
e no meu irmão,
no sol e na flor,
Te encontro.
Busco-Te
mais ainda,
e chegas
na dor do próximo,
minha dor,
e quase Te perco
na violência dos tempos.
Bebo-Te, Senhor,
de olhos fechados,
bendizendo Teu nome
e Tuas criaturas
neste universo
de transgressões e doçuras.
Bebo-Te
em Teu nascer
para que eu nunca
Te deixe ou Te crucifique.
19
A luz Natalina
Línea Sousa e Silva
As luzes se acendem
e com elas os sentimentos
depois de um ano atrás da tela
que os apps descansem
organizamos momentos
a retrospectiva paralela
analisamos os que precedem
preparamos os eventos
mais parece uma novela
as misturas acontecem
Árvore, presépio, ornamentos
estrela, guirlanda, vela
abraços, presentes, elementos
que até janeiro desaparecem
desliga a luz, outro ano se revela
em cada olhar dos que agradecem
o devenir de conhecimentos
que inicia enquanto outro sela.
20
Desencanto
Cristiano Siqueira
apesar de ter sido
igual qualquer natal,
aquele ano foi diferente.
também debaixo da árvore:
meu presente
não fui dormir
mais cedo
sequer houve segredo
não houve a meia
pedido nem carta
mistério e madrugada
somente a ceia
ninguém entrou pela janela entreaberta…
quando eu ainda era menino
antes mesmo do dia vinte e cinco,
morria o bom velhinho.
21
Empreitada natalina
Solemar Oliveira
o anúncio do Messias – dizia o homem
e contratou um artesão de mãos sutis
e mais dois pedreiros para a gruta de cimento
e fizeram um presépio desconcertante e ridículo
assim mesmo, botaram nele um menino e um jumento
vieram outros e mulheres
um conjunto de indigentes
feios, grotescos, velhos e infantes
inocentes e vividos,
católicos e protestantes
numa tarde ocuparam a gruta
e botaram o bebê do berço na estrada
e, sem romperem sua crença,
anunciaram uma filosofia de incógnitos
e sua ordem firmou-se de nascença
e todas as manhãs que se seguiram
renderam odes gloriosas à mesmice¹
¹ para que as notas não passem em branco.