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Até 30 de março de 2019, o público poderá conferir na mostra “Diáspora, Convergências e Conexões”, no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), 180 obras do artista chinês

As quatro décadas de transformações no trabalho do artista Tai Hsuan-an são o tema da exposição “Diáspora, Convergências e Conexões”. Foto: Divulgação

A marca de 40 anos é extremamente significativa para qualquer pessoa, e não seria diferente para Tai Hsuan-an. Em quatro décadas, foram muitas as transformações na vida e obra deste artista plástico que, aos 15 anos, deixou a China da Era Mao com a família, em busca de um futuro pacífico no país onde “até gatos cantam”. O resultado de todo este processo agora poderá ser conferido pelo público em “Diáspora, Convergências e Conexões”, exposição que esteve em cartaz Museu de Arte de Sichuan (China), no primeiro semestre de 2018, e que foi aberta no sábado (15/12) no Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), no complexo do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). A mostra prossegue até 30 de março de 2019 e tem entrada franca.

Com curadoria de José Roberto Teixeira Leite e produção de PX Silveira, “Diáspora, Convergências e Conexões” reúne cerca de 180 obras, entre pinturas e esculturas, que recapitulam os 40 anos da produção artística de Tai e sua atuação no ensino de artes na Escola de Artes e Arquitetura da PUC-Goiás. Uma pequena parte das obras expostas é retrospectiva, mostrando trabalhos criados desde 1977, enquanto que a maior parte é constituída de pinturas e esculturas produzidas nos últimos anos. Mas em todas, o público poderá fruir de uma arte na qual a técnica oriental milenar se une à temática tropical para retratar paisagens de um mundo particular, de modo muito sensível, colorido e repleto de afetividade.

Tai afirma que buscou trazer para a exposição as obras que eram mais representativas das várias fases que marcaram sua carreira: “fundos de quintal” (encontro com a periferia da cidade), “a natureza silvestre” (encontro com a natureza brasileira) e “a natureza imaginária” (encontro com a natureza ideal). A mais recente destas etapas – “sonhos e fantasias” (encontro com memórias, imaginação, sentimentos e emoções)-, traz criações ainda mais intensas, ricas e grandiosas, externando memórias, desejos e ideias por meio de múltiplas formas, materiais e técnicas, incluindo desenhos, xilogravuras, aquarelas, pinturas em tela, pinturas em madeira, esculturas e objetos.

Para PX, o legado do artista chinês é tamanho, que o produtor cultural o considera um dos “bem-vindos forasteiros”, a exemplo de DJ Oliveira, Cleber Gouvêa, Antônio Poteiro, Gustav Ritter e frei Confaloni, tendo em muito contribuído com sua enorme bagagem para o desenvolvimento das artes visuais em Goiás. “A expressão artística de Tai ganha contornos de grandes horizontes quando sabemos que ele persegue um mundo interior que vai criando, municiado por uma gama de aparatos técnicos sem igual em outro artista que conhecemos, por sua multiplicidade e sua precisão. Ele pinta, desenha, aquarela, esculpe, molda, imprime, confecciona, esgrafia, xilograva e o que mais puder”, enumera.

A versatilidades das possibilidades de expressão artística que os pincéis e tintas proporcionam é justamente, segundo Tai, o fator que mais o inspira e mantém acesa a paixão pela arte após quatro décadas de atuação. “Cada técnica, cada material e cada forma artística tem o seu potencial para gerar linguagens, expressões e mensagens. Por isso, eu transito entre diversas formas e técnicas para expressar e representar”, comenta.

Tai Hsuan-an nasceu na China em 1950. A mãe era professora. O pai, fotógrafo, músico, artista plástico e também professor. Estimulado pelo ambiente doméstico, começou a desenhar e a pintar aos 3 anos. Em 1965, mudou-se com a família para o Brasil. Trabalhou em fazendas no Paraná e em São Paulo, onde mais tarde cursou Arquitetura. Mesmo nos períodos mais difíceis, continuou estudando e praticando a pintura. Em 1977, radicou-se em Goiás. Tornou-se professor da Escola de Arte e Arquitetura da Universidade Católica de Goiás (atual PUC Goiás) – ocupou a vaga de Frei Confaloni. Passou a conviver e a trocar experiências com Sáida Cunha, Amaury Menezes, DJ Oliveira e outros artistas goianos. Em entrevista ao Jornal Opção, falou um pouco mais sobre sua vida e carreira. Confira:

A exposição reúne o trabalho de seus 40 anos. Neste período, o que o senhor acha que se manteve e o que mudou em seu estilo?
Em 40 anos, a minha arte tem evoluído de forma gradual e sem pressa, porque mantém uma temática que é a Natureza; quase todas as criações minhas têm essa inspiração devido à minha afinidade com o tema, que sempre me fascina. A minha pintura expressa a Natureza de forma abstraída e não realístico-representativa. A mudança de estilo que existe se deve às variações nos temas, técnicas, materiais e principalmente da minha vontade de expressar as minhas vontades, sonhos, desejos e emoções. Hoje, depois de 40 anos, acredito que cheguei a uma fase mais madura e com mais liberdade em criar e expressar-me, podendo exteriorizar o meu interior, com a ânsia de levar mensagens para o público. Essas mensagens são as minhas preocupações de sempre: a harmonia, a paz e a felicidade, em sentidos bastante amplos, muito discutidos nos pensamentos chineses tradicionais (taoísta, confucionista e budista).

Fale um pouco mais de sua vida. Por que sua família escolheu vir para o Brasil? E por que depois o senhor veio para Goiás?
Desde a infância, quando podia andar, eu já desenhava e pintava, fascinado por imagens que via em revistas e livros que meus pais tinham em casa. Eles também eram amantes de artes, profissionais envolvidos com diversas formas artísticas e o ensino de artes. Estimulado por essa atmosfera, eu nunca parei de explorar todas as possibilidades de expressar por meio de desenhos, aquarelas, pinturas e até esculturas em argilas. Na verdade, a minha vida artística já completou no mínimo 65 anos. Cheguei ao Brasil com 15 anos, em agosto de 1965, junto com meus pais e irmãos, como imigrantes que buscavam uma vida diferente. Como amantes de música, meus pais foram informados pelas revistas que o Brasil era movido pela música onde “até gatos cantam” e um país de grande futuro e pacífico. Para ficar longe das ameaças de guerras, o Brasil seria a terra ideal para viver. Assim, ficamos até hoje. Meus pais já se foram, mas deixaram os descendentes bem brasileiros. Vim a Goiânia em 1977 com minha namorada e atual esposa, Dra. Lee Chen Chen (física e professora do Instituto das Ciências Biológicas da UFG), que recebeu na época uma boa proposta para trabalhar na Universidade. Consegui um emprego em um escritório de arquitetura onde, indiretamente, conheci algumas das pessoas mais importantes da minha vida, justamente os artistas que me ajudaram incondicionalmente a me estabelecer aqui. Sáida Cunha e Cleber Gouvêia possibilitaram a realização da minha primeira exposição individual em Goiânia. Sáida levou-me à Escola de Artes e Arquitetura da Universidade Católica de Goiás (atual PUC-GO) para ficar na vaga deixada por Frei Confaloni que tinha acabado de falecer, em 1977. Assim, tornei-me professor, atuando até hoje.

Após todos estes anos por aqui, ainda existe alguma coisa ou hábito com o qual ainda não tenha se acostumado? Ou que o senhor ache estranho ou curioso?
Naturalizei-me brasileiro em Goiânia, em 1980, e fiz esforço para integrar-me na cultura brasileira. Hoje, posso dizer que sou um goiano, embora não deixei de ser um chinês, mantendo as tradições e hábitos. Eu, na realidade, transito nas duas culturas muito diferentes sem problema. Sou um chinês dentro da minha casa e um brasileiro com os brasileiros. Felizmente, adoro comidas brasileiras e chinesas. Adoro pequi, guariroba, feijoada, galinhada, feijão tropeiro com arroz e tudo mais. Em minhas obras artísticas consegui conectar e unir os elementos, características e linguagens que vêm das duas culturas. A história da minha vida e minha arte reflete o encontro dessas culturas de maneira harmoniosa e pacífica. A minha exposição “Diáspora, Convergência e Conexões” mostra isso.

Serviço:

Exposição “Diáspora, Convergências e Conexões em 40 anos na arte de Tai Hsuan-an”
Local: Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAC), dentro do complexo do Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON)
Endereço: Avenida Deputado Jamel Cecílio, Lote 01, Quadra Gleba, 4490 – Setor Fazenda Gameleira, Goiânia (GO)
Visitação: Até 30 de março de 2019 (terça a sexta, das 9 às 17 horas; sábados, domingos e feriados, das 11 às 17 horas)
Entrada franca