Polícia diz que acidente que matou Marília Mendonça foi provocado por imprudência de pilotos

04 outubro 2023 às 13h00

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O inquérito do acidente aéreo que matou a cantora Marília Mendonça e mais quatro pessoas em novembro de 2021 foi concluído pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), que apontou que a queda da aeronave foi causada por um erro dos pilotos, Geraldo Martins de Medeiros Junior e Tarcísio Pessoa Viana. O anúncio foi realizado durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 4. O caso foi arquivado.
A coletiva foi conduzida pelos delegados Gilmar Alves Ferreira, Ivan Lopes Sales e Sávio Assis Machado Moraes, além do inspetor Whesley Adriano Lopes Data, no município de Ipatinga. De acordo com o delegado regional de Caratinga, Ivan, houve negligência e imprudência por parte da tripulação, que não cumpriu as instruções operacionais da aeronave.
“O manual de treinamento da aeronave estipula a velocidade a ser feita na perna do vento, e o que ficou evidenciado é que os pilotos ultrapassaram essa velocidade, desrespeitando o manual e saindo da zona de proteção do aeródromo. Qualquer responsabilidade cabia aos pilotos observar. Dessa forma, houve negligência e imprudência”, afirmou.
Ainda de acordo com o investigador, houve duas apurações conduzidas por diferentes órgãos: a PCMG e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Sales aponta que os inquéritos tinham objetivos distintos, já que a polícia analisa e aponta a materialidade de crime. Segundo ele, diversas situações foram descartadas, inclusive um atentado a aeronave, até que se chegasse à conclusão final.
“O resultado dessa investigação é com absoluto respeito a todos os familiares de todos os envolvidos. A investigação transcorreu, em quase dois anos, na busca de descartar várias possíveis causas do acidente, até que se chegasse à causa fundamental da queda da aeronave. Precisávamos aguardar o laudo do Cenipa para descartar qualquer problema na aeronave. O IML descartou qualquer problema com os pilotos, por meio dos exames”, disse Sales.
Avião se chocou com torre
Conforme o delegado regional Ivan Sales, o avião se chocou com a torre e, de fato, não havia sinalização, mas ela não era obrigatória. “Os manuais de procedimento dessa aeronave não foram analisados pelo piloto, era dever de quem comandava a aeronave ter feito essa análise prévia. Havia documentos que possibilitariam aos pilotos identificar essas torres, as linhas de transmissão”, disse.
“A aeronave também dispunha de um equipamento que emite sinais sonoros na proximidade de obstáculos, mas ele pode ser desligado pelos pilotos; à medida que o avião se aproxima do solo, esse equipamento emite avisos. A aeronáutica não conseguiu chegar a essa conclusão em razão da deterioração da aeronave”, completou.
De acordo com o delegado de polícia Sávio Assis, os pilotos não tomaram ciência das cartas de orientação nem das consequências, tendo em vista a experiência do piloto, com mais de 33 anos de carreira.
“Devido a uma consciência da situação, por ter pilotado aviões de grande porte, visando conforto dos passageiros, ele alongou a perna do vento para fazer um pouso mais suave, e foi uma tomada de decisão equivocada”, aponta ele.
Relatório Cenipa
O relatório final das investigações do acidente aéreo, registrado em novembro de 2021, em Minas Gerais, foi divulgado pelo Cenipa, vinculado à Força Aérea Brasileira (FAB), em maio deste ano. Antes de o laudo ser disponibilizado na íntegra pela FAB, o advogado da cantora, Robson Cunha, disse, em coletiva de imprensa, que não houve falha mecânica e humana.
No entanto, o documento aponta, na página 62, que pode ter havido, por parte do piloto, “avaliação inadequada acerca de parâmetros da operação da aeronave, uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada”.
“Perna do vento” é a expressão utilizada para indicar que a aeronave estava na trajetória de voo paralela à pista, no sentido do pouso. Ainda conforme a investigação da Aeronáutica, os cabos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) foram um obstáculo para o avião.
O documento aponta que a aeronave manteve contato integral, via rádio, com os órgãos de controle de tráfego aéreo, e que não houve qualquer anormalidade técnica de equipamentos de comunicação durante todo o voo.
“As comunicações do PT-ONJ com o Area Control Center Brasília (ACC-BS – centro de controle de área de Brasília) foram realizadas de maneira coordenada e clara”, indica o relatório.
Minuto a minuto
Segundo as informações que constam no laudo, as gravações tiveram início às 17h49min25s, no momento em que houve transferência de setor. Na sequência, o centro de controle aéreo orientou a aeronave a manter o voo e a informar quando estivesse pronta para descida.
Às 17h49min57s, a aeronave reportou que estava pronta para a descida. O centro de controle autorizou a descida até o nível de voo e, abaixo dessa altura, ficaria a critério da tripulação. O controle solicitou, ainda, que fosse reportado quando estivesse em condições meteorológicas visuais para mudança de regras do plano de voo.
Por volta das 17h56min59s, o controle aéreo informou à aeronave que o serviço de radar estava encerrado e solicitou que reportasse as condições meteorológicas visuais para modificação do plano.
Em seguida, o avião afirmou que iria cruzar o nível de voo, informou que estava em condições visuais e propôs o cancelamento do plano de voo por instrumentos.
No último contato realizado com o centro de controle, este órgão confirmou o cancelamento do plano de voo por instrumentos às 17h57min e informou desconhecer tráfego que interferisse na descida da aeronave, liberando-a da frequência daquele centro.
Morte da tripulação
Marília Mendonça morreu em um acidente aéreo em 5 de novembro de 2021, aos 26 anos. A cantora, acompanhada do produtor Henrique Ribeiro e do tio Abicieli Silveira Dias Filho, embarcou em um táxi aéreo em Goiânia com destino a Caratinga, no interior de Minas Gerais, onde tinha um show agendado.
O avião, um bimotor Beech Aircraft fabricado em 1984, caiu na zona rural de Piedade de Caratinga, cidade vizinha ao destino, poucos quilômetros antes do aeroporto onde faria o pouso.
Além da cantora, também morreram Henrique Bahia, Abicieli Silveira Dias Filhos, e o piloto e o copiloto do avião, Geraldo Martins Medeiros e Tarcísio Pessoa Viana.