China e EUA disputam dados do mundo em guerra pelo fornecimento de 5G

04 agosto 2019 às 00h00

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Carros autônomos e outras facilidades exigem entrega de dados pessoais que devem valer trilhões de dólares até 2030

A tecnologia cresce exponencialmente, com computadores dobrando seus poderes de cálculo a cada 18 meses. Isso significa que desde que foram lançadas as redes 3G, em 2006, a computação se tornou nove vezes mais veloz. Por isso, as redes 5G têm o potencial para mudar o mundo. A promessa é de uma “rede sem fronteiras”, transferência veloz dados entre pessoas e máquinas em todo o ambiente.
Na prática, isso possibilitará a decolagem da internet das coisas – realidade aumentada, dispositivos vestíveis, jogos, visualização 3D, veículos autônomos, redes de drones voadores, uma gama de aplicações da internet ainda não inventada. Quem explica é o professor do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás, Vinicius da Cunha Martins Borges:
“Para alcançar isso, os fornecedores devem se concentrar não apenas na melhoria contínua das velocidades de acesso como aconteceu na 2G, 3G e 4G, mas também em conectar todo o mundo de uma maneira personalizada. Smartphones conscientes do comportamento humano permitirão flexibilidade na era da ‘softwarização’ das redes sem fio e móveis.”
Atualmente, quem toma a dianteira na corrida pelo fornecimento dos serviços são as chinesas Huawei e ZTE. As empresas fizeram isso através de investimento de U$ 441 bilhões e da competição por patentes e direitos de prestação de serviços. Há uma grande recompensa pelo esforço, além do ganho financeiro pelo fornecimento da rede 5G, estimado em 17.5 trilhões de Yuans (2,5 trilhões de dólares) até 2030, segundo o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT), em Pequim.
O ministério chinês MIIT também prevê que provedores e-commerce, streaming de vídeo, desenvolvimento de aplicativos móveis, telemedicina e softwares especializados em áreas como carros autônomos devem gerar outros 10,7 trilhões de Yuans no volume total de negócios relacionados ao 5G até 2030.

Por último, e talvez mais importante, está o poder do controle da informação. A 5G fornecerá até 20 gigabits por segundo de taxa de download e nós, usuários, não temos demonstrado autocontrole ou preocupação com quem tem acesso a nossos dados pessoais. Esse fator levou Wilbur Ross, secretário de Comércio dos EUA a compartilhar informações reservadas com “pessoas relevantes” no Brasil, no sentido de alertar a riscos que virão com a 5G, conforme apurado por reportagem da Valor Econômico de 2 de agosto.
O Brasil leiloará frequências para implementação da 5G em 2020. Na entrevista ao jornal Valor Econômico, Wilbur Ross afirmou que o 5G é muito mais vulnerável a invasões do que as demais redes, pois com a interconectividade, uma invasão também significará um ataque mais generalizado. Além disso, o oficial americano também exortou todos os países a “ficarem muito, muito atentos sobre quem é o vendedor de tecnologias 5G”.
O que motiva o secretário de Comércio americano a fazer o alerta em parte é a guerra econômica entre China e Estados Unidos. Por outro lado, Wilbur Ross lembra que a legislação chinesa obriga empresas privadas a cooperar com serviços militares e de inteligência sem revelar o nível da cooperação. Ou seja, em dez anos o governo chinês poderá ter quantidades astronômicas de dados de cidadãos e companhias de todo o mundo.