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Visto o atual contexto econômico do país, muitos têm começado uma empresa por necessidade e, por isso, atropelado certos cuidados

“Você pode sonhar, projetar, criar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo. Mas precisará de pessoas para tornar o sonho realidade.”

Walt Disney

Divulgação
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Yago Rodrigues Alvim

Diante do atual contexto econômico, muitos se veem empreendendo. Parece que o tão esperado tempo de ter um negócio próprio enfim bate à porta. Sem emprego, a oportunidade de investir em um sonho muitas vezes é atropelada pela necessidade, onde cuidados caros à sustentabilidade de uma empresa ficam fora do jogo.

A gerente de Inovação e Com­petitividade da seccional goiana do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO), Elaine Moura, conta que o ato de empreender não pode se transformar em uma aventura que traga riscos para o empreendedor. “Não é porque estamos em um contexto econômico que aponta um empreendedorismo por necessidade, com as pessoas perdendo o emprego, sem alternativas, que empreender deve ser feito sem cuidado”, diz.

Segundo ela, quando se fala na importância do ato de empreender, se fala em empreender com cuidado, o que é possível através do conhecimento que o indivíduo tem de si próprio e do mundo empresarial. Os conhecimentos de si diz respeito a questões como a própria vocação; afinidade com o seguimento, com o potencial empreendedor no mercado; se está preparado para ser um empreendedor, capacitado para isso. “Essas já são questões muito importantes e que contribuem com esse cuidado necessário”, comenta. Outras reflexões, já referentes ao mundo empresarial, são essenciais: “Há nichos de mercado de acordo com minha vocação? Esse nicho está descoberto, tem o­por­tunidades, lacunas a serem preenchidas com um novo negócio?”.

Vocação e oportunidade têm que andar juntos. Isso é vice-e-versa, diz a gerente. Responder a essas questões iniciais é o primeiro passo ao empreendedorismo sustentável. Visto tal potencial em­preendedor, é possível passar para o segundo passo, que é a busca de informações e capacitações para empreender, onde entra o Sebrae.

Elaine Moura, gerente de Inovação do Sebrae Goiás: “Para empreender é preciso ter a cabeça nos sonhos, mas os pés têm de estar fincados no chão”
Elaine Moura, gerente de Inovação do Sebrae Goiás: “Para empreender é preciso ter a cabeça nos sonhos, mas os pés têm de estar fincados no chão”

O Serviço oferece todo o apoio que o empresário necessita para obter informações e se capacitar. São estudos e pesquisas de mercado, como tendência, oportunidades e ideias de negócios, que fomentam o empreendedor a ter esse conhecimento. “Nós oferecemos também apoio de legislação; nós ensinamos o que é necessário entender de leis e normas para empreender, pois existem muitas leis que regulam os diferentes meios econômicos, seja o de turismo ou alimentação, por exemplo”, acrescenta.

O Serviço também dá apoio no planejamento, que é o que indica todo o caminho que o negócio irá percorrer. “Temos consultorias e cursos de planejamento, gestão empresarial, que é composta de vários temas, como o de gestão financeira, de pessoas, do marketing, de produção”, comenta. A gestão não difere de uma empresa grande, média ou pequena, mas sim sua aplicação para se ter uma boa performance. A inovação é outra área em que o Serviço auxilia. No todo, o objetivo é garantir que o negócio seja sustentável. Por isso o Serviço fornece todo um suporte, seja através de atendimento pontual, consultorias mais aprofundadas ou de capacitações, com cursos, palestras e oficinas.

A informação é algo bem pontual, uma orientação mais simples. Já as consultorias são mais específicas, pois elas entram na empresa de maneira um pouco mais prolongada a fim de encontrar determinadas soluções/alternativas. Por fim, a capacitação que são os cursos, onde os empreendedores buscam informações visando uma habilitação mais ampla para a gestão.

Fornecedores, clientes, análise de mercado, parceiros e concorrentes são itens de estudo atendidos desde o primeiro passo, na busca de informações até a capacitação e execução. Nas diferentes etapas, as específicas áreas onde se quer empreender são consideradas. É preciso ter uma visão geral do nicho e ir se aprofundando.

Quanto ao quadro econômico e o crescimento de empreendimentos em Goiás, Elaine diz que não há um dado recente, dos últimos meses, mas afirma que as pessoas têm empreitado um negócio por necessidade. “Elas até que têm propensão a ser empreendedoras, mas pegas de surpresa, forçosamente empreendem sem muitos cuidados. O índice deste tipo de empreendedorismo se elevou devido o quadro econômico atual. O individuo não tem se preparado para empreender. Tem sido feito, infelizmente, por necessidade”, comenta.

Portanto, o Sebrae se torna cada vez mais importante no auxilio, em todas as questões abordadas, para que se tenha um empreendimento sustentável, competitivo no mercado. O risco do empreendedorismo por necessidade dar errado é muito maior, por isso requer ainda mais cuidado. É preciso sim ter a cabeça nos sonhos, mas os pés têm de estar fincados no chão.

Veja abaixo alguns casos de Empreendedorismo Pé no Chão de sucesso 

Dali Bombons Finos

A empreendedora Livia Marques começou como estagiária. Após produzir caseiramente, deu início ao Dali, hoje uma fábrica que atende casamentos, aniversários e eventos empresariais
A empreendedora Livia Marques começou como estagiária. Após produzir caseiramente, deu início ao Dali, hoje uma fábrica que atende casamentos, aniversários e eventos empresariais

Graduanda em Gastronomia, Livia Marques, como qualquer estudante, procurou um estágio. Na época, foram os chocolates que surgiram como oportunidade. Já com o diploma, o jeito foi procurar o próprio caminho. Por um tempo, trabalhou em casa com os bombons. Deu certo. Aos poucos, a ideia de abrir uma empresa foi se aflorando, o que se consolidou em 2011 na Dali Bombons Finos.

A vontade de ter um negócio, e a rentabilidade, mostrou a Livia caminhos possíveis para investir. Foi o que fez. Com a ajuda do Sebrae, por meio da Feira do Empre­endedor, que é realizada pelo Serviço, e demais cursos online de capacitação na área de administração de negócio e atendimento, por exemplo, a jovem alçou voo. Procurou outras informações, como financiamento e demais serviços que o Sebrae propicia ao pequeno empresário.

A Dali começou com o foco em casamento e, atualmente, trabalha com aniversários e eventos empresariais, além de produtos especiais na Páscoa e Natal. São ovos de Páscoa e demais produtos artesanais para a época e, no final do ano, chocotones. Isso, com o diferencial da casa: chocolate belga. Livia conta que uma das inovações que buscou foi a importação. Ela destaca que o mercado tem sim dado diversas oportunidades, mas que é preciso sempre buscar inovação.

“Com o atual quadro econômico, nós tivemos que reduzir o lucro livre para manter o preço acessível ao consumidor, pois como trabalhamos com produto importado, cuja alta do dólar implica, os custos aumentaram”, comenta a empreendedora, salientando alguns cuidados também tangentes ao empreendedor.

Espaço Yujin

Atualmente, a saúde tem ganhado os holofotes da mídia. Ainda assim, salienta o empresário Gustavo Medeiros, apenas 6% da população frequenta academias. Ou seja, um vasto campo para investir
Atualmente, a saúde tem ganhado os holofotes da mídia. Ainda assim, salienta o empresário Gustavo Medeiros, apenas 6% da população frequenta academias. Ou seja, um vasto campo para investir

Atleta, Gustavo Medeiros quis ir além com todo conhecimento de karatê. Sempre quis ter um negócio na área. Assim, resolveu se capacitar e abrir a própria academia. Foi em 2013, logo após terminar sua graduação em Educação Física. Já com um currículo dedicado à sociedade, pois realizava serviços sociais, empreitou a possibilidade de abrir seu negócio. O Espaço Yujin começou com recursos próprios. “Vendi um carro na época e contei com a ajuda de alguns amigos, que me emprestaram dinheiro e que fui quitando com o tempo. E, claro, acreditando sempre no meu sonho”, diz.

O Sebrae veio com um grupo de empreendedores do nicho de saúde, academias, que existiu por dois anos. O grupo se extinguiu em 2016, mas durante sua existência Gustavo bem se aproveitou de palestras de gestão, marketing, estratégias de mercado e outras. “A ajuda do Sebrae é algo fundamental, pois nos ajuda a manter o foco. Você se sente mais motivado, até porque está em contato com outros empresários; assim, você vai tocando o barco.”

O Espaço Yujin disponibiliza diversas modalidades, mas o carro-chefe é o karatê e o balé. Seu público-alvo é o familiar; porém, Gustavo conta que tem muitas crianças, um total de 60%. Segundo ele, perto da academia, têm muitos prédios e, por isso, as crianças já não sobem mais em árvore, não usufruem de um espaço de lazer para recrear, o que acabou se tornando uma oportunidade. Na Yujin, elas se movimentam com exercícios que as deixam mais saudáveis.

O empreendedor comenta que, graças aos programas televisivos, a mídia em geral, o tema Saúde, sendo debatido com mais frequência, tem refletido na sociedade. “Atualmente, apenas 6% da população brasileira pratica atividade física. Ou seja, ainda temos um campo muito vasto a investir”, diz Gustavo.

Instituto Dêandhela

Empresária Tathiane Dêandhela: “Quando temos um sonho e acreditamos nele, considerando as circunstâncias, você precisa lutar por aquilo, afinal você acredita”
Empresária Tathiane Dêandhela: “Quando temos um sonho e acreditamos nele, considerando as circunstâncias, você precisa lutar por aquilo, afinal você acredita”

Fruto de um sonho, o Instituto Dêandhela hoje transforma vidas. A ideia surgiu com a administradora Tathiane Dêandhela. O trabalho começou na educação e, aos poucos, foi se solidificando enquanto negócio próprio. Das aulas ministradas em pós-graduações, sempre na área de liderança, trabalho de equipe e gestão de pessoas, Tathiane percebeu o quanto o conhecimento tem um poder transformador na vida das pessoas.

“Eu quis, então, montar uma empresa que tivesse os meus valores, o que eu acreditava e que eu pudesse experimentar tudo o que eu ensinava na prática; assim, criei um spa de transformação”, diz. Como nos programas de tevê, em que o convidado ganha um banho de roupas, salão e sai transformado — transformação ex­ter­na e superficial, mas que ajuda na autoestima —, ela pensou em criar um spa interior. O Instituto trabalha no indivíduo, potencializando-o para que solucione qualquer problema.

Para criá-lo, a empreendedora conta que atravessou algumas dificuldades, pois o contexto econômico atual já se apresentava em meados de 2014. Mas ela pondera: “Quando te­mos um sonho e acreditamos nele, independente do cenário, das circunstâncias, claro que as considerando, você precisa lutar por aquilo, pois você acredita”.

Tathiane alerta que o primeiro ano é de investimento. “A pessoa empreendedora tem que se preparar para isso. É preciso ter uma reserva de dinheiro, trabalhar com margem, ter planos B e C, ter os pés nos chão, já que imprevistos ocorrem.” Além disso, buscar auxílio. O contar com o Sebrae veio através do Empretec; deste modo, descobriu diversas ações do Serviço em auxílio ao pequeno empreendedor. “Eles dão dicas, consultorias, cursos, afinal, para uma empresa crescer sustentável, ela precisa passar por várias etapas que, às vezes, sendo leigo, você não consegue ultrapassar.”

Por fim, a empreendedora destaca a importância da liderança para quem quer empreender. “Liderança é essencial, pois ninguém cresce sozinho e ninguém chega a lugar nenhum sozinho. Por isso, é preciso desenvolver esta habilidade de engajar, encorajar as demais pessoas para que elas deem o melhor de si e para que a empresa aconteça. Assim, todos vão longe.”