Por que Bolsonaro é mais popular em Goiás

16 janeiro 2022 às 00h00

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A aprovação ao governo Bolsonaro cresceu no Centro-Oeste, indo de 26% em janeiro de 2021 para 32% em novembro. O Centro-Oeste foi a única região onde a aprovação do presidente cresceu

As primeiras pesquisas eleitorais de 2022 – que durante este ano devem ser cadastradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por meio do sistema PesqEle – começaram a ser divulgadas. Enquanto os institutos apontam que Lula (PT) é o favorito para suceder o cargo de presidente da República, a aprovação de Jair Bolsonaro (PL) no Centro-Oeste permanece acima da média nacional. O Jornal Opção ouviu cientistas políticos para compreender a razão de a aprovação do governo federal continuar relativamente alta em Goiás.
Segundo as pesquisas Exame/IDEIA, o segmento da população que considera o governo de Bolsonaro bom ou ótimo foi de 39% em agosto de 2020 para 23% em novembro de 2021. Sua desaprovação foi de 34% a 51% em um ano. Os autores da consulta afirmam que a CPI da Pandemia foi um dos principais fatores a contribuir com a impopularidade do presidente. O pior momento da avaliação, quando Bolsonaro chegou a 57% dos entrevistados considerando a gestão ruim ou péssima, coincidiu com a citação do nome de Bolsonaro durante os trabalhos dos senadores.
No mesmo período, o conjunto de pesquisas, que revelam dados setorizados por regiões do país, apontam que aqueles que aprovam o governo Bolsonaro cresceu no Centro-Oeste, indo de 26% em janeiro de 2021 para 32% em novembro. O Centro-Oeste foi a única região onde a popularidade do presidente cresceu. Sua desaprovação também cresceu, indo de 43% para 47% no mesmo período. Neste tempo, o grupo daqueles que julgam o governo razoável diminuiu de 29% para 21%.
Segundo o especialista em sistemas eleitorais e cientista político, Guilherme Carvalho, as razões para a popularidade de Bolsonaro no Centro-Oeste estão na natureza votiva e econômica da região. Em Goiás, estado cuja base econômica e social é agrária, a boa relação do presidente com o agronegócio é fundamental. Ressoam na região as pautas defendidas pelo governo, como a liberação de novos agrotóxicos, menor demarcação indígena e de áreas de proteção ambiental, recordes da exportação pecuária, cortes de 35% do orçamento do Ministério do Meio Ambiente (visto como inimigo) e outras. Além disso, para o segmento conservador e o crescente grupo evangélico, a pauta dos costumes tem forte apelo.
“Nas pesquisas, Bolsonaro tem sido resiliente nas regiões Norte e Centro-Oeste”, comenta Guilherme Carvalho. “O sul era um importante ancorador de votos para o presidente, onde ele tinha a maior popularidade do país. Mas hoje a aprovação no Sul está empatada com aquela no Centro-Oeste, segundo o Ipespe. A aprovação de Bolsonaro caiu seis pontos percentuais no Sul durante 2021; o que reforça a tendência histórica da região. Entre os sulistas, existe uma inclinação para a mudança de voto nas vésperas da eleição. A região não costuma repetir votos em eleições consecutivas”.

Tal tendência, que não dita regras mas aponta um padrão, não existe no Centro-Oeste. O perfil das pessoas que apoiam o governo em Goiás parece estar mais ligado a um receio do retorno do PT ao poder do que a um genuíno entusiasmo com Bolsonaro, afirma Guilherme Carvalho.
“No estado, o PT só obteve votação da maioria na ocasião da vitória de Dilma Rousseff em 2010”, diz o cientista político. “Houve repúdio contra o Partido dos Trabalhadores na eleição de Bolsonaro em 2018, mas também em 2014 com Aécio Neves (PSDB), em 2006 com Geraldo Alckmin (então do PSDB). Esse repúdio pode ser verificado com o mau desempenho do partido nas eleições a cargos do legislativo”.
O perfil explica também o aumento de intenções de voto em Bolsonaro com o aproximar das eleições. “Não é necessariamente um eleitorado fanatizado por Bolsonaro, mas um que foi silencioso durante seu governo e que tende a reaparecer, ativado pelas discussões eleitorais e com o avanço de Lula (PT) nas pesquisas. Esta é uma forma de reação à possibilidade de as políticas de esquerda retornarem ao Brasil”.
De acordo com o levantamento realizado pelo instituto Ipespe, o ex-presidente aparece em primeiro lugar nas intenções de voto com 44%. Além disso, em cenário de segundo turno, o candidato do PT venceria de qualquer dos concorrentes. O avanço de Lula nas pesquisas, entretanto, não significa uma vitória do partido em Goiás, comenta Guilherme Carvalho.
“Lula é mal avaliado em Goiás e o PT enfrenta grandes entraves no estado (com exceção de Goiânia, que já foi governada pelo PT). Mas Lula é uma figura diferente porque não é necessariamente assimilado como parte de seu partido; é lembrado pela população como aquele da retomada do crescimento, ascensão econômica e programas sociais. Desta forma, haveria grande recompensa pelo apoio de Lula, mas seu partido cria um problema para os palanques locais, onde a articulação com partidos de centro é importante. Se Lula quiser se tornar mais competitivo em Goiás, terá de resolver esse entrave”, conclui o cientista político.
A visão da direita
Wilson Ferreira Cunha é antropólogo, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Puc-GO). “É cedo para levar o resultado das pesquisas ao pé da letra”, afirma ele. “As tendências apontadas neste momento são exageradas. No Centro-Oeste, os governadores têm apoiado Bolsonaro, apesar de alguns atritos, e creio que o eleitorado seguirá este caminho.”

O professor da Puc afirma que o passado dos governantes petistas justifica a alta aprovação do atual presidente. “Lula é um condenado, com mensalão e petrolão em seu histórico, e não foi absolvido. O descrédito é grande com os políticos estabelecidos. Há um desânimo geral da população com políticos estabelecidos e essa frustração se converte em votos para Bolsonaro.”
Wilson Ferreira desconfia da credibilidade das pesquisas: “Se Lula é tão popular, por que não vai à Avenida Paulista? Muitas dessas pesquisas tentam emplacar Lula em um clima de ‘já ganhou’ que não condiz com a realidade. Sabemos que os veículos de informação recebiam maior financiamento no período do PT e têm interesse no retorno ao antigo sistema. A grande imprensa só tem críticas a Bolsonaro, todos os dias, e acredito que a política precisa ter contraponto.”
Um representante
Alan Bessa Júnior é agricultor da zona rural próxima ao município de Barro Alto e em seu currículo conta diversas caravanas organizadas para Brasília em apoio ao presidente Bolsonaro. O proprietário de terras comercializa soja e afirma manter uma ampla rede de contato com outros fazendeiros pelo estado por aplicativos de mensagens. Mais do que atividade política, Alan Bessa diz que o ato de mobilizar as bases de apoio ao governo ganhou importância social entre seus amigos e colegas.
“Começamos em 2020, com aquela primeira reação forte ao presidente por conta da pandemia, mas sempre surgem pautas novas que precisam da nossa atuação”, conta Alan Bessa. “Já fomos apoiá-lo na crise com o STF (no 7 de setembro de 2020), conversar com ele na saída do Alvorada e tantas outras vezes.”
A concordância com o presidente se deve a um alinhamento do discurso de Bolsonaro com diversas ideias de Alan Bessa. O agricultor enumera: o patriotismo, o enfrentamento à imprensa, a defesa de valores tradicionais e da religiosidade são algumas das qualidades que o fazem admirá-lo. Perguntado se essas ideias já faziam parte da vida de Alan Bessa antes de Bolsonaro articulá-las, ele responde que o sentimento estava presente, apesar de nunca ter de fato atuado politicamente antes.
“São sentimentos que foram gerados no governo do PT e Bolsonaro é a figura que chamou a responsabilidade de representar”, Alan Bessa diz. “Depois de Bolsonaro ficou mais fácil se assumir de direita; ficou mais fácil para nós identificarmos o que somos e contra o que lutamos. Antes, ‘conservador’ era quase um palavrão. Foram por causa desses grupos [de WhatsApp], onde as falácias da esquerda não são verdade inquestionável, que as pessoas entenderam que existe lugar para elas.”