Apenas 20% dos brasileiros com demência têm diagnóstico da doença

25 novembro 2023 às 11h15

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A demência, uma preocupação crescente no Brasil e no mundo, afeta atualmente cerca de 1,76 milhão de idosos brasileiros. No entanto, um cenário alarmante se revela, pois 8 em cada 10 pessoas desse grupo desconhecem que estão enfrentando essa condição.
Esse elevado subdiagnóstico é motivo de preocupação para especialistas, pois impede que os pacientes recebam a assistência necessária para desacelerar a progressão da doença e melhorar sua qualidade de vida. Além disso, deixa os familiares no escuro, sem a oportunidade de se preparar para lidar com o avanço da condição.
A estimativa do tamanho desse subdiagnóstico foi divulgada em abril por pesquisadores brasileiros em um artigo no periódico The Journals of Gerontology. Diferentemente de estudos anteriores concentrados no Sudeste, principalmente em São Paulo, este trabalho teve uma amostra representativa de idosos de todas as regiões brasileiras, totalizando cerca de 5,2 mil participantes.
Os resultados indicaram uma prevalência de 5,8% de demência, mas surpreendentemente apenas 20% desse grupo (ou 1,2% do total de participantes) tinha um diagnóstico prévio, resultando em um índice de 80% de pacientes sem conhecimento da condição.
Cleusa Ferri, psiquiatra e epidemiologista, pesquisadora da área de sustentabilidade e responsabilidade social do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e uma das autoras do estudo, aponta que o baixo índice de diagnóstico da demência pode ser atribuído a diversos fatores, desde questões culturais até a falta de preparo adequado por parte dos profissionais de saúde.
Especialistas em desordens neurológicas buscam combater o estigma associado à demência, inclusive eliminando o uso do termo “demência senil” na prática médica. Pedro Melo Barbosa, neurologista do Saúde Digital do Grupo Fleury, destaca que esse termo é prejudicial, pois cria a impressão perigosa de benignidade, sugerindo que a demência seja esperada com o envelhecimento. Ele ressalta que embora algum declínio cognitivo seja normal com a idade, a demência é caracterizada por um comprometimento cognitivo que afeta a funcionalidade da pessoa, sendo progressiva ao longo do tempo.
A Doença de Alzheimer, representando de 50% a 70% dos casos de demência, é a forma mais comum, mas existem outros tipos, como demências vascular, frontotemporal e de corpos de Lewy. Embora não haja cura, medicamentos podem tratar os sintomas e proporcionar uma melhora cognitiva parcial em alguns pacientes, especialmente nos estágios iniciais. O diagnóstico precoce é crucial para desacelerar a progressão da condição, ressaltando a importância de superar as barreiras que contribuem para o subdiagnóstico.
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