Conheça a Distonia, doença rara que afeta os movimentos; pode ser genética ou adquirida

07 maio 2023 às 08h00

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Em São Paulo foi definido que o 6 de Maio seria o Dia da Conscientização sobre Distonia, mas há iniciativa da data ser lembrada em Goiás ou até nacionalmente. Então, o que vem a ser esta doença? A neurocirurgiã Ana Maria Moura explica se tratar de uma condição neurológica dos músculos, podendo afetar o corpo, com contração, distorcendo a posição de parte ou de todo o corpo, com cãibra, o que causa fortes dores e até a morte do paciente. A doença não tem cura, sendo tratada com medicação e cirurgia.
De acordo com a literatura médica, a Distonia é uma condição neurológica caracterizada por movimentos involuntários e repetitivos. Todavia, a doença pode atingir pessoas de todas as idades. Um exemplo é do maestro João Carlos Martins. Ele revelou sofrer da doença desde os 16 anos. “Ele tem a distonia do músico”, classifica, citando que há os casos de músicos, que desenvolvem a doença na musculatura da boca.
Ana Maria Moura destaca que a Distonia afeta a coordenação muscular, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes. Ela explica que as contrações repetidas de um músculo ou de um grupo de músculos podem ser bastante dolorosas. “Operei uma criança com cãibra pelo corpo todo. Imagina ter cãibra por todo o corpo? É uma dor inimaginável”, pontua. A doença leva a pessoa a ter movimentos e posturas anormais dificultando a mobilidade voluntária, podendo ser incapacitante e até levar à morte.
Outro exemplo ressaltado pela especialista pode ser considerado mais ‘leve’. “A piscadinha, por exemplo, é o blefaroespasmo no olho ou tremor no olho. Isso pode ser um tipo de Distonia focal”, frisa. Existe também a ‘cãibra do escrivão’. “De tanto a pessoa escrever, ela começa a ter distúrbio do movimento. Quando vai praticar aquela ação surgem as falhas musculares”, enfatiza.
De acordo com a médica, os casos de Distonia genética são mais graves em comparação com a doença adquirida. A doença genética se manifesta mais em crianças. A especialista ressalta que medicamentos também podem provocar a doença. “Alguns medicamentos para tratar quadros depressivos graves, podem ocasionar distúrbios de movimentos, como os antipsicóticos. A exposição a alguns metais pesados, por exemplo. Acúmulo no corpo de ferro e cobre. Isso tudo pode provocar a Distonia”, explica a médica. Ela acrescentou que casos de lesões graves, como traumatismos, também estão relacionados com casos da doença.
Tratamento da Distonia
Devido à complicação da doença, o tratamento é feito por equipe multidisciplinar. O que inclui fisioterapeutas, fonoaudiólogos e o uso de música, para proporcionar um maior relaxamento da pessoa. Apesar de agir no corpo, a doença dificilmente compromete a cognição do paciente. No entanto, outros fatores podem afetar a saúde mental. “Então o psicólogo é muito importante, porque quando a pessoa vai se vendo naquele quadro, ela começa a ficar ansiosa e depressiva. Ela mesma se isola”, lamenta.
A medicação receitada para o tratamento é a toxina botulínica, o botox. “O que a toxina botulínica faz? Ela relaxa a musculatura. É um relaxante muscular. Ela também é muito bem vinda e ajuda muito no tratamento”, esclarece. Entretanto, a especialista salienta que não há um medicamento específico para a Distonia. “Geralmente, a maioria dos pacientes acabam indo para a cirurgia, diferente do Parkinson, que dá para ir prorrogando por meio da medicação, fazendo fisioterapia”, compara. “Há uma quantidade de aplicação de botox. Não dá para a doença ir evoluindo e irmos aumentando a dose”, destaca.
Cirurgia
Nos casos mais graves e avançados da Distonia a opção é a cirurgia, para se conseguir uma melhor qualidade de vida. “Vai parar a evolução da doença? Não. Mas nós vamos conseguir uma melhor correção”, aponta. Ela cita dois procedimentos. Uma por implantação de eletrodos. Isto é, por fios muito finos, em uma região do cérebro. Os eletrodos fornecem correntes elétricas para pequenas partes do cérebro, alterando o circuito cerebral anormal e, assim, aliviando os sintomas da condição neurológica.
“Temos a opção, que trabalho melhor com ela, que é a estimulação cerebral profunda. Consistente na técnica da neuromodulação, por meio de energia. Há um marca-passo que joga energia para a ponta do eletrodo e nesse circuito do movimento, que está falho, por algum motivo ele restabelece”, acentua. A médica acrescenta que não há explicação de porque o circuito responde a carga de energia. “Mas sabemos que com a energia esse circuito é restabelecido e dá para o paciente ganhar muito tempo, antes que a doença fique de uma forma que ele perca a autonomia de vida”, afirma.