Explosão de casos: Goiânia registra 533 confirmações de dengue em quatro semanas

30 janeiro 2024 às 10h12

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Novo Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) registra de 533 casos confirmados de dengue. A quarta edição do documento apresentado nesta segunda-feira, 29, mostra um aumento de 302 casos em relação à semana anterior. O número de casos prováveis também saltou de 844 para 1.505.
“Estamos trabalhando diariamente com visitas domiciliares dos nossos Agentes de Combates às Endemias (ACEs), que realizam orientações e vistoriam focos de larvas do mosquito Aedes aegypti, mas a população também é protagonista nessa força-tarefa e precisa cuidar de suas moradias e comércios para evitar o aumento de casos”, reforça o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara.
Até o momento, a Capital registra queda no número da doença comparado ao mesmo período de 2023, com uma redução de 28,8% e houve apenas um caso grave registrado. A queda constatada na Capital não é verificada quando analisado todo Estado. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), em 2024, verifica-se aumento de 10% do número de casos de dengue em relação ao ano passado, com 6.891 confirmações, até o momento.
“Entre a fêmea depositar o ovo e esse ovo se transformar em mosquito adulto, leva-se em média de sete a dez dias. Então, se eliminarmos esse ovo uma vez por semana, impediremos o nascimento de novos mosquitos”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde da SES, Flúvia Amorim. A destruição dos criadouros é a principal forma de controle da dengue e de outras arboviroses, como zika e chikungunya.
Flúvia explica que o uso do fumacê – inseticida que é borrifado no ar – somente mata o inseto adulto. “Além disso, o fumacê tem uma eficácia muito baixa, porque a maioria das nossas casas tem muros altos, com muitas árvores e plantas, o que faz com que a quantidade de veneno que alcança o mosquito seja muito pequena”, esclarece. Em algumas situações, também se utiliza a estratégia de uso de bomba costal, quando agentes adentram em terrenos para borrifar inseticida em áreas externas às casas.
Além de contar com a mobilização da população, o Governo de Goiás ofereceu aos 246 municípios goianos a estratégia dos Gabinetes Contra a Dengue. A análise de dados permite que se estabeleça quais serão os municípios prioritários para receber maior apoio das SES, na vigilância, na assistência ou no controle ao vetor.
Aedes aegypti veio para ficar, alerta infectologista
O mosquito Aedes aegypti, vetor das principais arboviroses em circulação no país, incluindo a dengue, que outrora foi erradicado do território brasileiro por volta de 1950, agora se apresenta como uma ameaça crescente e praticamente incontrolável. O alerta vem do renomado infectologista Antonio Carlos Bandeira, formado pela Universidade Federal da Bahia e especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Bandeira, que descobriu a chegada do vírus Zika ao Brasil em 2015, destaca as mudanças climáticas, particularmente o aumento das temperaturas, como um dos principais impulsionadores da explosão de casos de dengue neste ano. Em entrevista à Agência Brasil, o médico expressa preocupação com o ressurgimento do sorotipo 3 da dengue, ausente de forma epidêmica há mais de 15 anos, enfatizando que a quantidade massiva de casos é alarmante, independentemente do sorotipo.
O aumento das temperaturas em todo o país, associado às intensas chuvas, contribui para a proliferação do Aedes aegypti, que se reproduz mais rapidamente e vive por mais tempo em ambientes quentes. Bandeira destaca que a situação atual é resultado não apenas de fatores climáticos, mas também do desmantelamento das medidas proativas de controle nos últimos anos, como o uso de larvicidas e fumacê.
Questionado sobre a possibilidade de um pico precoce de dengue em 2024, Bandeira destaca as características específicas de cada estado e a falta de ações coordenadas. Ele ressalta que as populações da Região Sudeste e Sul, até então virgens de dengue, são particularmente suscetíveis, e a vacinação é uma medida crucial.
O infectologista aborda ainda o ressurgimento do sorotipo 3 da dengue, alertando para a incerteza quanto à sua dominância. No entanto, independente do sorotipo, enfatiza que a grande quantidade de casos implica em complicações e possíveis óbitos, destacando a necessidade urgente de investir em vacinas.
Quanto à erradicação do Aedes aegypti, Bandeira descarta essa possibilidade, afirmando que o mosquito veio para ficar e que a única saída é a vacinação em larga escala. Ele critica a falta de investimento em pesquisa no país e sugere ações mais efetivas nas favelas, que representam focos críticos de transmissão devido à densidade populacional e precárias condições de saneamento.
Diante dos desafios enfrentados, Bandeira destaca a necessidade de uma abordagem abrangente, envolvendo pesquisa, vacinação em massa e intervenções nas áreas urbanas mais vulneráveis, como uma estratégia eficaz para combater a proliferação do Aedes aegypti e as consequências devastadoras das arboviroses no Brasil.
Sintomas
A dengue é uma doença febril aguda, sistêmica e dinâmica, que pode variar desde casos assintomáticos até quadros graves. Entre os sintomas estão febre alta, dores musculares intensas, dor ao movimentar os olhos, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça, manchas vermelhas no corpo e dor abdominal intensa.
Cuidados diários
A população deve se preocupar com possíveis focos de larvas do mosquito Aedes aegypti, que além da dengue também causa zika e chikungunya.
Veja alguns cuidados diários que podem eliminar focos em residências e comércios:
- Verificar se a caixa d’água está bem tampada
- Colocar areia nos pratos de plantas
- Recolher e acondicionar o lixo do quintal
- Limpar as calhas
- Cobrir piscinas
- Cobrir bem a cisterna
- Deixar as lixeiras bem tampadas
- Limpar a bandeja externa da geladeira
- Tapar os ralos e baixar as tampas dos vasos sanitários
- Limpar e guardar as vasilhas dos bichos de estimação
- Limpar a bandeja coletora de água do ar-condicionado
- Cobrir bem todos os reservatórios de água