“Suplemento da longevidade”: saiba mais sobre a taurina

29 janeiro 2024 às 09h41

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Ao metabolizar o oxigênio inalado e os alimentos consumidos diariamente para sustentar nossa sobrevivência, nossas células geram subprodutos potencialmente nocivos, comumente denominados “radicais livres”. Algumas dessas moléculas desempenham funções vitais no organismo, porém, em excesso, podem causar danos às estruturas internas das células, comprometendo seu funcionamento e propiciando o surgimento de doenças crônicas. Esse fenômeno é conhecido como estresse oxidativo.
Para equilibrar a presença de espécies reativas de oxigênio, nosso corpo dispõe de um conjunto de enzimas antioxidantes. Contudo, à medida que envelhecemos, esses mecanismos de regulação tornam-se menos eficazes. Conforme indicado por um estudo publicado na revista Nutrition, a inclusão do aminoácido taurina na dieta pode representar uma estratégia nutricional eficaz para contornar esse problema.
Conduzida na Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa envolveu 24 voluntárias com idades entre 55 e 70 anos, distribuídas aleatoriamente em dois grupos. Metade ingeriu diariamente, ao longo de 16 semanas, três cápsulas contendo 500 miligramas de taurina cada (totalizando 1,5 grama por dia), enquanto as demais consumiram cápsulas de amido de milho (placebo). Nem as participantes nem os pesquisadores tinham conhecimento do grupo a que cada uma pertencia.
Os marcadores de estresse oxidativo foram avaliados em amostras de sangue coletadas antes e após a intervenção. Um resultado notável foi o aumento de aproximadamente 20% na concentração da enzima superóxido dismutase (SOD) no grupo que recebeu taurina, enquanto no grupo de controle essa enzima diminuiu 3,5%. A SOD desempenha um papel protetor contra as reações prejudiciais do radical superóxido.
Ellen de Freitas, professora da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP-USP) e coordenadora do projeto apoiado pela FAPESP, destaca que ao evitar o acúmulo natural de radicais livres associado ao envelhecimento, é possível prevenir condições crônicas como doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão.
A pesquisa, ainda em estágio inicial, visa a explorar a dose ideal e os possíveis efeitos colaterais da taurina no contexto do envelhecimento. Freitas destaca que o suplemento de taurina é um complemento e não uma solução isolada, sendo crucial adotar um estilo de vida saudável com alimentação equilibrada e exercícios regulares para alcançar efeitos antienvelhecimento significativos.
Terapia antienvelhecimento
A taurina é um nutriente encontrado em alimentos como peixe, frango, peru, carne vermelha e frutos do mar. Também é naturalmente produzida em alguns tecidos do corpo humano, com destaque para o fígado, sendo importante para o funcionamento do sistema nervoso central, da imunidade, da visão e da fertilidade.
Há pelo menos dez anos o grupo coordenado por Freitas tem estudado os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios da taurina – inicialmente em atletas de alto rendimento e depois em indivíduos obesos, com doses que variam entre 3 e 6 gramas diários. “Os resultados mostram que, com a suplementação desse aminoácido, o estresse oxidativo possivelmente seja controlado nesses indivíduos. Então veio a ideia de testar a estratégia no contexto do envelhecimento. Como é algo ainda muito novo, começamos com uma dose de segurança bem baixa”, conta Freitas.
A ideia original era avaliar o efeito combinado da taurina com exercícios físicos e de ambas as intervenções separadamente. A atividade física é considerada uma das principais ferramentas para modular os níveis de substâncias oxidantes e antioxidantes no organismo e, na dose certa, acredita-se que pode potencializar os benefícios da taurina.
Saiba mais
Presente em todas as células do corpo, sua concentração é notadamente mais elevada nos tecidos condutores de eletricidade. Órgãos como o coração, a retina, os músculos esqueléticos e o cérebro são particularmente ricos nessa substância, desempenhando um papel essencial na promoção da saúde e no adequado funcionamento desses tecidos. O Dr. Christian Aguiar, especialista em medicina natural e suplementação, destaca vários benefícios associados à taurina.
No contexto do sistema cardiovascular, o aminoácido não apenas reduz o risco de arritmias cardíacas, mas também contribui para evitar a insuficiência cardíaca, ao aumentar o déficit sistólico e cardíaco. O médico menciona outros benefícios da substância, tais como:
- Ação anti-inflamatória;
- Redução do colesterol;
- Controle da pressão arterial;
- Melhora da performance aeróbica;
- Aprimoramento da acuidade visual e proteção contra degeneração macular (retina);
- Auxílio na absorção de gorduras e excreção de colesterol;
- Diminuição da incidência de câimbras e convulsões;
- Redução da ansiedade;
- Prevenção de processos neurodegenerativos, como Alzheimer e Parkinson.
Além disso, a taurina contribui para o tratamento de pacientes diabéticos, melhorando o fluxo sanguíneo e ajudando na regulação da glicemia, ao mesmo tempo em que reduz a resistência à insulina.
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