Segundo o Ministério da Saúde, a detecção de sífilis em gestantes aumentou no país no ano passado, saindo de uma taxa de 28,1 casos a cada mil nascidos vivos em 2021 para 32,4 casos a cada mil nascidos vivos em 2022, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Já a incidência de sífilis congênita ficou estável. A infectologista Juliana Barreto explica que nem sempre a doença irá ser transmitida durante a gestação.

“Quando a paciente está gestante ela vai ser tratada, não é obrigatoriamente que vai transmitir para o feto, mas existe sim a chance de transmissão até a descoberta do diagnóstico, principalmente se tiver no início da gestação. É preciso ter toda uma cautela, por isso a importância de fazer o pré-natal correto. A gestante vai ser tratada, a gente tenta evitar essa transmissão”, explica a especialista. “O bebê que nasce com a sífilis congênita vai iniciar o tratamento o mais rápido possível. Se já fez esse diagnóstico, vai iniciar o tratamento logo”, completa a médica.

A Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), realiza o teste para sífilis em todas as pacientes e bebês internados em maternidades municipais para o parto, independentemente do resultado do exame pré-natal. “Temos a sensibilidade e o comprometimento com a saúde tanto da mãe quanto do recém-nascido”, explica o secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara. Foram registrados 1.051 casos da doença no município, em 2023, sendo 117 congênitos.

Segundo a ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI) Danyelle Amorim, em caso de diagnóstico positivo para sífilis a unidade adota uma abordagem abrangente para seguir com o atendimento dessa gestante e seu bebê. “Além do tratamento imediato para a mãe, há uma investigação minuciosa e intervenção no recém-nascido. Adicionalmente, o parceiro é encaminhado para tratamento”, explica.

Foto: Fundahc/ SMS

O teste para sífilis deve ser realizado ainda durante o pré-natal. “É fundamental destacar que a sífilis não apenas representa um risco direto para a gestação, mas também é um fator de grande relevância para a prematuridade, malformações fetais, morte fetal e abortamento. Dessa forma, a detecção precoce torna-se crucial para mitigar esses riscos e promover uma gestação saudável”, alerta a profissional.

Infectologista pediátrica do HMDI, Roberta Rassi ressalta que a sífilis congênita pode ser transmitida para o feto em qualquer fase da gestação. “Os recém-nascidos de todas as mães que tiveram sífilis na gestação passam por uma investigação minuciosa na maternidade, por meio de exames de sangue, exames de raios X e coleta de líquor. Caso esse recém-nascido apresente a sífilis congênita, ele deverá ficar internado por dez dias na maternidade para receber o tratamento com penicilina endovenosa e será acompanhado pelos próximos dois anos no serviço de infectologia do HMDI”, detalha.

O HMDI ressalta a necessidade de toda gestante realizar o pré-natal corretamente e, caso seja diagnosticada a sífilis durante a gestação, a paciente deverá realizar o tratamento adequado em qualquer unidade básica de saúde da Prefeitura de Goiânia para evitar a transmissão da sífilis congênita para o seu bebê.

Especialista conta que crescimento se dá por falta de prevenção e explica sobre a doença

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde no final do ano passado mostram que, de 2021 para 2022, a taxa de detecção de casos de sífilis adquirida por 100 mil habitantes cresceu 23% (de 80,7 casos por 100 mil habitantes em 2021 para 99,2 casos por 100 mil habitantes em 2022). A sífilis adquirida é aquela contraída durante a vida, após o nascimento, distinguindo-se da sífilis congênita, que é quando a gestante passa para o bebê e ele nasce com a doença.

O aumento da sífilis não acontece apenas no Brasil, vários países o registraram também. Houve 7,1 milhões de novos casos em todo o mundo em 2020, segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2022, o Reino Unido viu os registros atingirem o nível mais elevado desde 1948. Nos Estados Unidos os casos subiram 32% entre 2020 e 2021 no país. Foi o maior número de notificações em 70 anos.

A infectologista Juliana Barreto explica aumento dos casos de sífilis. Foto: arquivo

A infectologista Juliana Barreto, que atende no centro clínico do Órion Complex, destaca que esse aumento se deve ao fato das pessoas terem deixado de se proteger no sexo. “A doença tem aumentado muito nos últimos 10 anos principalmente. As pessoas hoje já têm profilaxia pré e pós exposição sexual em relação ao HIV. Elas se preocupam só com o HIV e não se preocupam com as outras doenças sexualmente transmissíveis. No caso da sífilis, a prevenção é o uso de preservativo nas relações sexuais”.

Confusão inicial

A sífilis ganhou vários nomes desde o primeiro registro dela, na década de 1490. Porém, um que permaneceu foi “a grande imitadora”. A enfermidade é mestre em imitar outras infecções, e os primeiros sintomas são fáceis de ignorar. “A sífilis pode ser inicialmente confundida com várias doenças, porque ela primeiro pode manifestar lesões na pele, parecendo uma alergia, como nas palmas das mãos. E isso pode gerar uma confusão, ou pode não manifestar nem sintomas e ser um diagnóstico só por exame, então muitas vezes, tardio”.

A sífilis tem cura e pode ser tratada na rede pública de saúde. “O foco é para tratar o treponema pálido. O tratamento principal é a penicilina benzatina, a quantidade de doses a ser feita vai depender da anamnese, do quadro clínico, para a gente avaliar a quantidade de doses para avaliar em qual estágio está o ciclo. Com as pessoas que têm alergia, a gente usa tratamentos alternativos, de segunda escolha”, explica a infectologista.


Leia mais: