Para agro goiano, Plano Safra do governo federal poderia ser melhor

05 julho 2023 às 18h34

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O governo federal anunciou R$ 364,22 bilhões para Plano Safra 2023/2024, que já está valendo desde o dia 1º de julho. Só o Banco do Brasil prevê liberar R$ 240 bilhões desse montante em crédito rural. Segundo o banco, os grandes produtores empresariais devem abocanhar a maior parte desse bolo, contratando R$139 bilhões. O restante será dividido entre os médios produtores e os agricultores familiares, que juntos vão ficar com R$ 48 bilhões.
Para o secretário de Agricultura de Goiás, Pedro Leonardo de Paula Rezende, o volume de recursos anunciado foi adequado e atende às expectativas do setor produtivo. “Mas o aumento não acompanhou, na mesma proporção, os custos da produção agrícola”, ponderou.
Quem também avalia o plano como positivo, de uma forma geral, é o consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Leonardo Machado. E isso devido ao volume de crédito surpreendente que foi oferecido ao agronegócio.
“O financiamento é importante para o setor. O aporte de recursos para financiamento e custeio é bem maior que nos últimos anos e isso é favorável. O crédito é o oxigênio para economia e para o agronegócio não é diferente”, comentou o especialista da Faeg.
Médio produtor será o maior beneficiado
O deputado federal Daniel Agrobom (PL) também avalia como positivo o plano do governo federal. Mesmo assim, segundo o parlamentar, os produtores rurais ainda estão preocupados com as taxas de juros, que estão muito altas.
“Eles estão satisfeitos por lado, por que vai ter dinheiro para fazer investimentos. Mas com um pé atrás. Hoje tem mais recurso, mas a taxa de juros é mais alta”, afirmou Daniel, que não culpa o governo por isso. “É a Selic que está muito alta”, atenuou o deputado.
O consultor da Faeg afirma que o setor ainda vê com preocupação a questão do juros altos e do seguro rural. “A taxa de juros impacta diretamente no custo da produção. Até porque o produtor vai ter que pagar esses juros num sistema em que se tem um preço muito baixo dos principais produtos agropecuários, como a soja, o milho e o boi”, explicou.
Leonardo Machado sugere ainda que, para que o Plano Safra fosse melhor, seria preciso oferecer taxas de juros menores. “A Selic deve ser reduzida e vai levar pra baixo todas as taxas de juros. O governo já poderia prever isso”, avaliou Leonardo.
Na visão do especialista da Faeg, quem mais se beneficia com o Plano Safra atual é o médio produtor, que com juros a 8%, tem melhores condições para comprar máquinas e implementos. Para o grande produtor rural, a taxa é de 12% enquanto que para o agricultor familiar, os juros são menores, de 6%.
Sustentabilidade e agricultura familiar
Segundo o secretário de Agricultura, Goiás será favorecido com a linha de crédito ofertada para o produtor que adota práticas de sustentabilidade em sua produção. “A recuperação de pastagens é uma prática de sustentabilidade e isso pode beneficiar os produtores que adotam essa prática”, explicou.
Outro ponto positivo para o produtor goiano, é o destaque para agricultura família, que, de acordo com Pedro Leonardo, é hegemônica no Estado. “Temos 90 mil propriedades em Goiás de agricultura familiar, o que equivale a 63% do total”, contabilizou o titular da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa).
Daniel Agrobom também elogia o plano voltado para o agricultor familiar. “É um valor muito especial para os pequenos produtores com juros bem mais em conta. O grande produtor tem mais recursos, mas também paga mais caro”, arrematou.
Aproximação de Lula com o agro
Do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado Daniel vê o Plano Safra do governo petista como um gesto de aproximação de Lula com o agro. “O setor deu uma acalmada, mas os produtores estão cautelosos e tentando negociar. O agro está preocupado com o momento econômico atual”, comentou. Além disso, ele lembrou que o mercado anda muito volátil, o que aumenta o clima de insegurança. “Fazer um investimento hoje pensando no ano que vem é difícil”, disse.
O secretário de Agricultura concorda que o plano é uma tentativa de aproximação, mas fundamentada apenas no fato de ser o maior volume de recursos da história oferecido ao agronegócio. E ele é enfático: “Até o momento a gente só tem a manchete. Não tem ainda a formalização. Agora tem que fazer com que esses recursos cheguem no momento certo para o produtor rural”.
Além disso, para Pedro Leonardo, outro ponto negativo do plano é a incerteza com relação ao seguro rural, que historicamente era divulgado junto com o Plano Safra. “Não foi anunciada com clareza a política do governo com relação a isso. E essa ferramenta é essencial para que o produtor tenha segurança pra investimentos e custeios, resguardando o produtor dos riscos climáticos, políticos e comerciais”, comentou.
Por fim, o secretário de Agricultura lembra que o Plano Safra oferece juros menores para quem tem Cadastro Ambiental Rural (CAR) ativo e devidamente analisado. “Mas pouquíssimos produtores vão ter acesso a esse benefício”, lamentou Pedro Leonardo, que estima que Goiás tenha entre 10% e 15% dos produtores que se enquadram nesse critério.
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