Anvisa suspende venda e uso de produtos com fenol; especialista critica proibição

25 junho 2024 às 17h57

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nesta terça-feira, 25, uma resolução que proíbe temporariamente a importação, fabricação, manipulação, comercialização, propaganda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos de saúde e estéticos. A medida visa investigar os potenciais danos associados ao uso do fenol.
De acordo com a Anvisa, o intuito é “zelar pela saúde e integridade física da população brasileira, uma vez que, até a presente data, não foram apresentados à Agência estudos que comprovem a eficácia e segurança do produto fenol para uso em tais procedimentos”.
A decisão da Anvisa foi motivada pela ação do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), que recentemente entrou com uma ação na Justiça Federal para proibir a venda de substâncias químicas à base de fenol para não médicos.
A ação do Cremesp foi influenciada pela morte do empresário Henrique Silva Chagas, que ocorreu após um procedimento de peeling de fenol em São Paulo. Ele passou por uma limpeza de pele que incluía a aplicação de anestésico e uma raspagem para a aplicação do fenol.
Durante o procedimento, Henrique começou a sentir-se mal e pediu ajuda. Natalia Becker, responsável pela aplicação, junto com outras funcionárias, prestou socorro e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou a morte na clínica.
Ao Jornal Opção, a médica dermatologista, Cássia Gomes, explicou que as pessoas procuram o procedimento para “rejuvenescimento profundo”. Além disso, a especialista alertou para a importância da realização com um médico.
“Nenhum outro procedimento consegue dar resposta como um peeling. É surpreendente com uma única sessão a resposta para uma cicatriz de acne, ou rejuvenescimento, por exemplo”, ressaltou.
“A gente faz o peeling como médico, sempre monitorizando o paciente. Se ele tiver alguma intercorrência, você tem todo o aparato para responder. Obviamente, se o paciente está fazendo o procedimento com um médico, a chance do profissional resolver uma intercorrência é muito maior. É algo que a Sociedade Brasileira de Dermatologia tenta combater há muito tempo, os não-médicos fazendo esses procedimentos”, completou.

Riscos do peeling de fenol
O peeling de fenol é um procedimento antigo usado para suavizar rugas e manchas, mas é conhecido pelos seus riscos significativos. Especialistas alertam que a técnica pode resultar em escurecimento permanente da pele e cicatrizes, além de comprometer o funcionamento de partes do rosto.
“O rosto fica machucado por uns 10 dias. Depois, já começa a ver alguma resposta. O paciente não pode ter algum problema de pele ativo no momento, alguma infecção, ou doença autoimune. Quem tem vitiligo, por exemplo, não é interessante que faça, porque pode piorar. Às vezes, em outras partes do corpo, cicatriz, alteração da cor da pele e pode ter infecção grave também”, disse a médica.
O fenol é cardiotóxico, podendo causar arritmias e até parada cardíaca, caso não seja monitorado adequadamente. “A gente não pode fazer em quem tem problema cardíaco. É interessante que o paciente não tenha nenhuma comorbidade do coração”, alertou Cássia Gomes.
A Anvisa informou que a proibição permanecerá em vigor enquanto as investigações sobre os possíveis danos do fenol continuam. Apesar disso, a proibição desagradou a dermatologista ouvida pela reportagem, que criticou:
“A Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio Grande do Sul escreveu algo interessante. Quando uma pessoa bêbada bate o carro e mata alguém, a culpa é do carro ou da pessoa bêbada? Porque uma pessoa bebeu e matou alguém, vai proibir todo mundo de dirigir? Então, a gente acha um absurdo. Médicos que têm mais de 10 anos de formação estão sendo impedidos de fazer o procedimento, diferente de uma pessoa não preparada, que fez um curso online. É um absurdo, a gente está revoltada, essa é a palavra”, disparou.
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