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“Na política o que vale é a palavra, não assinamos papel”, afirma Humberto Aidar, que reforça insatisfação de parlamentares que apoiaram o Governo

Foto: Fábio Costa/Jornal Opção

O deputado estadual Humberto Aidar (MDB) falou ao Jornal Opção sobre a situação da base do governo na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego). Para o parlamentar, não há que se falar em criação de um bloco independente. No entanto, ele aponta que muitos parlamentares devem deixar a base, caso o governo Ronaldo Caiado não mude tratamento dispensado aos deputados.  

“Não sou adepto a formação de um bloco de independência. Na política existem três caminhos: ou você tem uma postura independente, ou faz parte da base, ou da oposição. Como formar um bloco independente? Blocos negociam em conjunto, isso não é independência e não cheira bem perante a sociedade. Agora, deputados com postura independente todo parlamento tem”, explica.

Insatisfação na Base

De acordo com emedebista, existe hoje uma grande insatisfação pairando sobre a Casa Legislativa. Entre os motivos listados por Aidar, está o fato de o governo não ter conseguido formatar uma base consistente, “e isso passa muito pelo atendimento aos deputados”, pontua. A demora no pagamento das emendas impositivas também é um problema apontado pelo parlamentar.  

“Acordos deixaram de ser cumpridos”

“Ficou acertado que 33% dos cargos nos municípios seriam indicados pelos representantes federais, outros 33% pelo grupo que sempre apoiou e esteve ao lado do Caiado, e os 33% restantes pelos representantes estaduais. Mas a verdade é que a maioria não conseguiu indicar sequer um cargo nesses locais”, explica Humberto.

Aidar argumenta que essas indicações não são problemáticas e que só deixarão de acontecer quando todos os servidores forem efetivos. Até lá, é de bom tom que os deputados estaduais participem da escolha dos cargos nas regiões em que representam o governo, defende. Ele exemplifica que em um local com três cargos de chefia, segundo o acordo, um seria indicação do deputado federal, outro do governo Caiado e um do deputado estadual da base mais votado na região. “Em Silvânia e Ituaçu, cidades que represento, não realizei uma indicação sequer. Pelo contrário, o governo colocou adversários ferrenhos aos prefeitos que me apoiaram”, diz o deputado.

“Como ser governo, recebendo esse tratamento?”

“Fui despachar com o presidente da Goinfra, levei um prefeito lá e quando entrei na sala me exigiram que deixasse o celular na recepção. Isso é absurdo, e o tratamento ruim não para por aí. Durante a audiência, o prefeito foi entregar um ofício e o Ênio Caiado não aceitou, simplesmente mandou protocolar”, relata Humberto Aidar. Ele também falou à reportagem que tenta há cerca de um mês uma audiência com um nome forte do governo, mas é ignorado. “Já cobrei 10 vezes e nada, desisto. Isso é uma humilhação”, afirma o deputado.

Faz de Conta

Para o deputado, outra hipótese é a de que talvez o governo não tenha interesses em manter alguns deputados na base.  “Se for isso, essa decisão precisa ser exposta de forma clara, tem que partir do governo. Não dá para seguir fazendo esse jogo de ‘faz de conta’. Com esse tratamento falar que estou satisfeito seria uma grande mentira, eu não faço esse jogo”, afirma.

“Premissa básica para um governo é a confiança em relação à base”

Apesar de não defender a criação de um bloco com os independentes, Humberto Aidar confirma que a tendência é que alguns deputados do grupo que apoiou o presidente da Casa, Lissauer Vieira, se tornem independentes. “O governo precisa se posicionar e organizar a base, cumprir os acordos e mudar o tratamento em relação aos parlamentares, caso contrário a base se tornará uma mentira”.

“Governo tem que ser governo, se não for para participar não tem sentido. Aqui na Assembleia não tem bobo. Por isso, digo aqui, não aceito que secretaria alguma me peça o celular, isso demonstra uma desconfiança. Sinceramente, eu me sinto humilhado de ter que passar por essa situação. Na Goinfra, só aceitei em respeito ao prefeito, mas minha vontade era de ter ido embora”, disse Aidar. “Falei isso pessoalmente ao governador: a premissa básica para um governo é a confiança em relação à sua base, mas isso precisa partir do governador. Ele tem que definir quem ele quer ao lado dele. Depois, ele tem que chamar as pessoas e discutir o que foi acordado, do jeito que está não dá”, emenda.

“Na política o que vale é a palavra, não assinamos papel”

Ainda segundo Aidar, essa insatisfação e queixas são comuns na Alego. “Isso é voz corrente, talvez alguns não falem, mas a maioria pensa assim. Tenho respeito pelo Caiado, ele é um político bem intencionado, por isso, até hoje tenho o ajudado. Mas, preciso me sentir base”, explica o deputado ao pontuar que, apesar de tudo, acredita em uma guinada do governo.

Jogo aberto

“O jogo tem que ser verdadeiro, sobre essa questão de indicação no interior estão me empurrando com a barriga há meses. Na política o que vale é a palavra, não assinamos papel. É melhor falar, olha você não vai ter cargo lá em Silvânia. Até porque eu não preciso de cargo no interior, tenho cargos na Assembleia, mas prometer uma coisa e não cumprir não dá”, explica.

Minha conversa, agora, é com o governador

“Política se faz com companheiros. Tanto em Ituaçu quanto em Silvânia não posso falar que sou governo, lá estão pessoas que não me aponham nos cargos do governo. Com que moral eu chego lá que sou do governo?”, indaga. “A situação está tão ruim que eu não quero ouvir mais nada de auxiliar, minha conversa, agora, é com o governador. Penso que esse jogo deve ser aberto”, reage o deputado.

De acordo com o parlamentar que já exerceu cinco mandatos como oposição, a experiência de ser base não tem sido boa. “Tomei a decisão de apoiar o governo após anos na oposição, não preciso ser governo. Mas, caso, ser governo seja isso, tenho que repensar. Não bato mais em porta de ninguém. Estou dizendo tudo isso porque sou independente nas minhas opiniões, mas, garanto que boa parte dos deputados, mais de 50%, que se dizem base também pensa como eu”, finaliza Aidar.