Mesmo após anúncio de descentralização, local ainda sofre com superlotação; edital de convocação da prefeitura não teria conseguido adesão esperada

Dona Zilda aguardava há mais de 7h por atendimento à neta | Foto: Luiz Phillipe Araújo/Jornal Opção

Por Francisco Costa e Luiz Phillipe Araújo

Tumulto, gritos e choros: quase dois meses após o anúncio de descentralização da urgência pediátrica goianiense o cenário aparenta ser ainda mais grave que em outros períodos. Em visita do Jornal Opção ao Cais de Campinas, nesta segunda-feira, 27, mães desabafaram.

As mulheres reclamam que estão no Cais desde o começo da manhã desta segunda, 27, e que os médicos paralisam o expediente e não explicam o porquê da demora. Uma senhora de 76 anos aguardava, desde 8h, atendimento para a neta, sem almoço. A equipe do Opção falou com ela às 15h40.

Dona Zilda Maria Fernandes, a senhora de 76 anos, diz que a neta tem passado mal. Conforme ela, a menina tosse e reclama de dor no peito durante a noite e, por isso, elas vão esperar o atendimento. “Está sem previsão de atendimento”, pontua frustrada.

Desespero

Sileia Melgaz tenta atendimento para a filha, que está com infecção, há quatro dias. No Jardim Curitiba, primeiro local onde foi, informaram que somente no Cais de Campina haveria pediatras.

“Os médicos não estão atendendo conforme tem que ser. Falta médico. A gente chega às 8h da manhã e sai às 10h da noite. Só tem um hospital pediátrico funcionando”, disse aos prantos, com a filha no colo.

Desespero toma conta de Sileia Melgaz, que há quatro dias busca atendimento para a filha | Foto: Luiz Phillipe Araújo/Jornal Opção

Da mesma forma, Neila Bárbara veio de outro setor para buscar atendimento para a filha, que pode estar com Zica ou Dengue. “Não tem pediatras em outro local”, afirma a mãe que, de carro, levou 40 minutos só para se deslocar ao Cais [de carro], onde estava desde 10h.

A filha de Neila não foi classificada com urgência. Por conta da lotação, ela afirma estar preocupada que a filha seja infectada com outras doenças. Apesar disso, a mãe teme também pela saúde dos demais pequenos. “Tem criança vomitando, desmaiando… Eles dizem que têm três médicos, mas só estou vendo um”, disse desconfiada.

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Posições

Funcionários da unidade, que não se identificaram, informaram que não houve adesão ao edital da prefeitura pela contratação de pediatras. Ainda foi informado que os poucos que chegaram pediram exoneração, após perceberem a situação da segurança.

Em relação à questão da segurança, que estaria atrapalhando a adesão, há duas semanas houve anúncio pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), conforme os trabalhadores, que teria uma reunião com a Guarda Civil Metropolitana, a fim de construir políticas públicas para solucionar essa situação.

Ainda conforme os funcionários do local, a UPA Itaipu também possui pediatras. A única, além do Cais de Campinas, neste momento. Não foi informado sobre o quantitativo.

Resposta

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que tem provido o maior número de profissionais pediatras no atendimento de urgência de toda a rede pública de Goiânia. Ainda conforme a pasta, até às 15h40 desta terça-feira, 28, 91 crianças já tinham sido atendidas no Cais de Campinas. A média diária é 250 atendimentos.

O texto afirma que “a unidade tem também o maior número de atendimento de urgência pediátrica na rede pública de Goiânia, mesmo sendo, o pronto socorro do Hospital Materno Infantil, a referência para tal atendimento na rede pública da região”, diz o texto, que afirma, ainda, a presença de quatro pediatras no local.

Inclusive, conforme informado pela SMS, as crianças em estado mais grave devem, com seus pais, se dirigir ao pronto socorro do Hospital Materno Infantil, a fim de evitar tumulto e contribuir para o bom atendimento.