PT perdeu espaço entre o eleitorado mais jovem para os outros presidenciáveis

O marketing da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que busca disputar o Palácio do Planalto nestas eleições, tem apostado em novos formatos e linguagem para atingir o eleitorado mais jovem. Nessa sexta-feira, 18, foi lançado uma história de quadrinhos (HQ) narrando, na versão petista, o processo de condenação do presidenciável, pela Operação Lava Jato.

Chamado de ‘Lula – da perseguição à esperança renovada’, o HQ descreve que essa é a melhor maneira de explicar o que considera de “farsa da Lava jato”. Segundo a pré-campanha, o material é uma adaptação ilustrativa do livro “Memorial da Verdade”, escrita pelo jornalista Ricardo Amaral. Nele é narrado os episódios políticos desde os protestos de 2013. A queda da presidente Dilma Rousseff (PT) e a prisão de Lula, por determinação do juiz Sergio Moro.

O cientista político Guilherme Carvalho salienta que o PT tem acertado na estratégia de tentar conversar com o eleitoral mais jovem, optando por uma linguagem mais tangível, voltada para as redes sociais. “Esse tipo de linguagem tem duas funções: a primeira é estabelecer uma linguagem com os mais jovens ou que não vão votar nas eleições deste ano, que ainda não tem idade, mas começa a gestar, politizar esses jovens para eleições vindouras, ou é para o eleitor da primeira votação. Aquele que os pais já influenciam, mas que ele pode começar a ter uma certa independência na decisão do voto. Então de modo geral, a estratégia é pensando dessa forma”, analisa.  

Diferente do bolsonarismo, que colocou Bolsonaro como herói, o especialista vê na estratégia petista em figurar o Lula como “guia” para melhorar a situação do país. “Então, ele tenta ser um guia, para voltar ao tempo em que o pobre podia comprar picanha e cerveja. Acho que esse é o foco do PT neste momento. É usar muito a imagem da picanha e da cerveja com os mais velhos e com os mais jovens tentar dialogar, mostrar que Lula pode ser uma alternativa para conduzir o país para um lugar melhor neste momento”, entende.

Questionado se a pré-campanha de Lula tem semelhança com a campanha de Guilherme Boulos para a presidência, em 2018, Carvalho faz distinções acerca do público de cada partido. “O eleitorado do Psol é um eleitorado mais de elite. Uma elite que consegue dialogar com uma linguagem mais complexa, por assim dizer. Ou seja, a elite mais intelectualizada. Embora o Boulos tenha aberto discussões com os jovens era ainda uma linguagem mais complexa, diferente da linguagem que o PT abre, que é uma linguagem mais tangível, principalmente, para aquele jovem de classe baixa, classe média”, compara.

Já para o estrategista eleitoral Maurício Coelho a pré-campanha de Lula tem se importado, primariamente, na distinção entre os eleitores, os militantes petistas e os considerados eleitor comum. “Essa distinção acontece antes da preocupação com as quotas tradicionais (que são idade, escolaridade, renda, onde mora) e ela norteia o conteúdo do discurso”, esclarece.

Ele acrescenta que quando a pré-campanha eleitoral passa para as mídias, que alcançam pessoas próximas ao petismo, se nota a presença de discursos relacionados à perseguição política, sobre golpismo, sobre antifascismo e retorno democrático, como o HQ. “E, quando a campanha fala a públicos mais abrangentes, ela pode até (ora aqui, ora ali) escorregar para algum desses temas já citados, mas o foco é outro e fica sempre muito claro: poder de compra”, pontua.

De acordo com Coelho, após a definição do conteúdo, começa a se pensar nos formatos, como resultou agora com a revista em quadrinhos. “E, ao jovem comum, Lula vai, por exemplo, ao Podpah, e discursa sobre poder de compra, sobre a necessidade do fim da fome e do retorno da esperança em trabalhar e consumir”, frisa.

O estrategista percebe que esse público, que agora se tornou também prioridade para o PT, já está sendo bastante disputado. “Se por um lado Ciro Gomes não tem sido efetivo em disputar o eleitor médio com Lula, por outro pode-se ver que ele tem disputado com maior eficiência o jovem eleitor esquerdista. Em 2018, por exemplo, ele teve um crescimento expressivo entre os mais jovens ao longo da disputa eleitoral e, agora, tem trabalhado para ganhar a juventude”, comenta. O especialista acrescenta que o PT se tornou um partido “velho”. Mas, que a busca em dialogar com os jovens é uma estratégia acertada.