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No Materno Infantil marido entra em desespero, briga, e se vê na mira de arma de fogo; no Cais de Campinas, atendimentos demoram mais de 2h e local fica sem pediatra por 1h na troca de plantão

Confusão no HMI e demora em Cais protagonizam pediatria em Goiânia nesta terça
Longas esperas no Cais de Campinas | Foto: Leicilane Tomazini/Jornal Opção

Era por volta de 19h40, quando nossa equipe de reportagem chegou ao Hospital Materno-Infantil (HMI). De longe se ouvia os gritos. Da porta era possível ver uma grávida ao chão (pelo menos de sete meses), um homem desesperado, segurado por familiares, que queria brigar com três ou quatro seguranças, que portavam cassetetes e, também, uma arma de fogo.

O homem, que só disse o primeiro nome, João, afirmou que sua esposa grávida estava internada há dois dias e que fora maltratada, que não recebia atendimentos. Ele confessou que ameaçou partir para a briga se ela não fosse atendida e o fez.

Com pressa, ele disse que iria para a maternidade Dona Iris, enquanto a esposa chorava e gritava que sentia dor e passava mal. Foi a última vez que falou conosco.

Uma enfermeira, que não quis gravar entrevista, disse que a mulher, na verdade, se internou nesta terça-feira, 2, e teve todos os esclarecimentos. Segundo ela, a grávida teve “alta por evasão”, que é quando a pessoa opta por deixar o local. O segurança que permaneceu na recepção também não quis falar.

Valdenira da Silva Souza está grávida de 39 semanas e reforçou a brutalidade no tratamento. Ela relata ter vindo de Anicuns, sentindo dor, e, mesmo assim, a mandaram procurar outra clínica. “Disseram que só atendem de alto-risco. Agora eu estou sangrando”, disse visivelmente abalada.

Confusão no HMI e demora em Cais protagonizam pediatria em Goiânia nesta terça
Hospital Materno Infantil | Foto: Leicilane Tomazini/Jornal Opção

Atendimentos

Apesar do pânico que tomou conta dos presentes, quando a equipe do Jornal Opção chegou, os pacientes que aguardavam no local relataram que a unidade de saúde estava com bom andamento – e, de fato, estava vazia.

Priscila da Silva Pereira levava a filha bebê para atendimento e foi chamada durante a conversa. Antes de ir, ela relatou que o local é bom, mas costuma demorar. “Hoje está rápido”, disse enquanto ia.

Samara Santos Marinho levou a filha de 2 anos, que estava há dois dias com febre. Ela também declarou ter sido atendida rapidamente. “Fomos bem atendidas”, elucidou.

Antes

Porém, no Cais de Campinas a situação era diferente. Às 19h não havia ninguém nem na recepção.

Sara Gomes chegou 18h30, quando trocava o plantão. Em 40 minutos ela sequer foi atendida. Ela foi ao local em busca de atendimento para a filha de 10 anos, que está com febre, diarreia e vômito.

Dois minutos depois chegou uma atendente, que não soube dizer se havia pediatras no recinto. “Mais cedo tinha quatro”, informou. Ela saiu e quase 19h30 retornou, quando Sara foi atendida e ela mesmo foi verificar se havia chegado algum médico.

“Acabou de chegar uma pediatra”, comemorou. Vale destacar, que não havia informativo de escala no local. Segundo funcionários, eles não colocam, porque não dá para saber qual médico estará disponível.

Espera longa

Werlene Pereira dos Santos levou a filha de 4 meses, que estava gripada. Ela já aguardava há mais de uma hora, desde antes da troca de plantão. “Na triagem só disseram que iria atender”, revelou.

Já Kelly Cristina estava há mais de 2h no aguardo pelo atendimento do filho, que tem 2 anos e está todo empolado e com febre. “Há três dias busco solução. Já estive aqui antes e ninguém sabe dizer. De domingo para segunda, fiquei de 2h às 4h30 esperando. É demorado demais. Ninguém fala nada”, respondeu angustiada sobre a espera.

Manhã

No período matutino a demora e poucas informações também estiveram presentes na unidade de Saúde.

No Cais de Campinas, Vânia Ferreira aguardava o atendimento para a filha de três anos, que tem febre e vomita. “Ninguém dá uma posição para a gente”, disse ela, que no momento da entrevista estava há 1h30 esperando.

O caso de Beatriz é semelhante. Também no Cais de Campinas, aguardava há 40 minutos para atendimento à filha de 1 ano e 7 meses. Ela afirmou que a menina está com febre desde domingo.

Segundo ela, não deram previsão ou mais informações. Clarice do Nascimento, que acompanhava a sua mãe, disse que a demora é muito grande. “Já era assim, quando estava gestante e vim consultar há dois anos”, declarou ela que chegou às 9h30.

“Há dois anos, com a bolsa estourada, fiquei esperando das 19h às 23h para pegar um ultrassom”, comparou a demora de antes com a de agora. Segundo ela, a posição do hospital é aguardar, pois faltam médicos.

Materno-Infantil

Dona Elzinha, que aguardava a neta da irmã ser atendida, estava há mais de 4 horas na espera. De Mozarlândia, a família veio para um retorno. “Viemos em novembro e o retorno ficou marcado para fevereiro mas não deu certo. Estamos tentando descobrir sobre convulsões que a menina tem dado”, revelou.

Já Débora Cinta, gestante de 37 semanas, veio de Santa Rosa para buscar a atendimento no Materno-Infantil. Ela afirmou que tem sido bem atendida em suas passagens.

Posicionamentos

No período matutino, conforme a assessoria do Cais de Campinas, havia quatro médicos. A escala também não estava lá pela manhã. Ainda conforme a comunicação, até às 12h foram atendidas 81 crianças e oito aguardavam.

O Jornal Opção tentou contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que não atendeu ou respondeu ao e-mail, sobre demora no atendimento durante troca de plantão e falta de aviso oficial da escala. Também tentou-se ligar para o número de plantão da Prefeitura de Goiânia, que caía direto na caixa postal.

Já sobre o Materno-Infantil, por telefone, a assessoria de comunicação adiantou que o dia foi tranquilo e que o hospital possui quatro pediatras de 7h às 19h (dois na emergência, um na reanimação e um hospitalista) e três no plantão, de 19h às 7h (dois na emergência e um na sala vermelha – mais abrangente).

Confira vídeo do momento da confusão no HMI:

[Atualização] Nota enviada pelo HMI:

“A direção do Hospital Estadual Materno-Infantil Dr. Jurandir do Nascimento (HMI), esclarece que a paciente S.C.O. deu entrada na unidade, nesta terça-feira, dia 2 de março, às 12h05min, com 35 semanas de gravidez. Ela foi devidamente assistida e acompanhada por equipe multiprofissional. Às 19h45min, a paciente evadiu-se da unidade, recusando a conclusão do tratamento e o acompanhamento necessários para o desenvolvimento fetal.

O esposo da paciente, visivelmente agitado, adentrou a recepção da unidade, aos gritos de que invadiria o Pronto Socorro da Mulher com o intuito de obter mais esclarecimentos sobre as condições de saúde da esposa. Em total estado de descontrole, agrediu verbalmente as recepcionistas, derrubou os separadores de ambiente da recepção, assustou os pacientes e acompanhantes que aguardavam atendimento na recepção, agrediu fisicamente um vigilante, o que resultou na necessidade de ser contido com o intuito de que a sua ação não acarretasse mais danos à estrutura física do hospital, pacientes e colaboradores.

A equipe de segurança e os colaboradores que acompanharam o fato dirigiram-se à delegacia de Polícia Civil para prestar queixa contra o agressor.”