CPI apura supostas negociações de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro em venda de rolex recebido em viagem oficial

04 agosto 2023 às 14h55

COMPARTILHAR
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro conduz uma investigação em relação aos e-mails do tenente-coronel Mauro Cid, anteriormente ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles estariam relacionados à negociação de um relógio da marca Rolex, recebido durante uma viagem oficial.
De acordo com as evidências disponíveis para a comissão, em 6 de junho de 2022, o tenente-coronel Cid recebeu uma mensagem por e-mail em língua inglesa de uma interlocutora.
“Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui”, respondeu ela. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”, enviou.
“Oi, Mauro. Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui. Você pode, por favor, me dizer se tem a garantia original ou certificado deste relógio. Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa”, afirmou a interlocutora.
Mauro Cid respondeu que não possuía o certificado do Rolex, pois o relógio tinha sido um presente concedido durante uma viagem oficial. Ele expressou sua intenção de vender o item por uma quantia de US$ 60 mil, equivalente a aproximadamente R$ 300 mil conforme a cotação atual. No entanto, os e-mails não apresentaram informações detalhadas sobre as circunstâncias em que o relógio foi recebido durante a viagem.
“Oi, nós não temos o certificado deste relógio, pois foi um presente recebido em uma viagem oficial de negócios. O que nós temos é um selo verde do certificado que acompanha o relógio. Eu também posso garantir que o relógio nunca foi usado. Eu espero conseguir por ele um montante em torno de US$ 60.000,00”, escreveu Cid.
Viagem à Arábia
Em outubro de 2019, durante uma visita à Arábia Saudita, o então presidente Jair Bolsonaro foi presenteado pelo rei Salman bin Abdulaziz Al Saud com um conjunto de itens de luxo, incluindo um relógio Rolex, um anel, uma caneta e um rosário islâmico.
Entretanto, esse conjunto de joias foi devolvido pela equipe de defesa de Bolsonaro em abril deste ano. Isso ocorreu após a Polícia Federal (PF) iniciar uma investigação em relação a outro conjunto de joias vindas da Arábia Saudita, avaliado em R$ 5 milhões, que havia sido retido pela Receita Federal no aeroporto internacional de Guarulhos (SP), conforme reportado pelo jornal O Estado de S. Paulo. O ex-presidente negou veementemente qualquer envolvimento em atividades irregulares.
No papel de ajudante de ordens, Mauro Cid tentou recuperar o conjunto de joias que estava sob posse da Receita Federal no final do ano anterior, antes da saída de Bolsonaro do cargo e sua viagem aos Estados Unidos. No entanto, a defesa de Cid informou que não teve acesso aos e-mails, que se encontram em posse da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.
A CPMI, com o propósito de investigar os acontecimentos do 8 de janeiro relacionados a possíveis ações subversivas, fez uma requisição à Presidência para obter os e-mails trocados entre os funcionários da Ajudância de Ordens durante o período da administração de Bolsonaro.
É importante destacar que Mauro Cid foi detido em maio e está sob investigação por parte da PF devido ao seu suposto envolvimento em um esquema de fraudes relacionadas ao cartão de vacinação, bem como por suas conversas de natureza subversiva.
Além disso, a CPMI está examinando as transações financeiras realizadas por Cid. De acordo com informações divulgadas pelo jornal O Globo, um relatório emitido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), uma instituição encarregada de combater a lavagem de dinheiro, indicou que o militar movimentou R$ 3,2 milhões em um período de seis meses, que aparentemente não condiz com o patrimônio declarado por ele, uma vez que seu salário mensal como oficial do Exército é de R$ 26 mil.
Leia também: