Começou a tramitar na Assembleia Legislativa de Goiás o projeto que proíbe a participação de atletas mulheres trans – mulheres que foram designadas homens ao nascer, mas que fizeram a transição de gênero – em competições esportivas do sexo feminino. O projeto é de autoria do deputado bolsonarista, Fred Rodrigues (DC).

O texto estabelece o sexo biológico como único critério para definição do gênero de competidores em partidas esportivas oficiais. ” O sexo biológico será o único critério definidor do gênero dos competidores em competições esportivas oficiais no Estado de Goiás, restando vedada a atuação de transgêneros em equipes que correspondam ao sexo oposto ao de nascimento”, escreve a justificativa do texto.

As transexuais, no entanto, poderão participar de competições entre si, desde que as equipes sejam compostas apenas de homens trans ou apenas de mulheres trans. Segundo o autor da proposta o intuito é “resguardar as mulheres”.

“Independente da opinião de qualquer um, a biologia fala mais alto. Os recordes e a participação masculina ela acaba sim tendo uma vantagem biológica em cima das mulheres. Isso não é uma opinião minha, isso é biologia. O recorde de levantamento de peso, o recorde masculino é o dobro do feminino”.

Deputado Fred Rodrigues (DC)

Divergência

O projeto traz à tona a discussão sobre quais são – se é que existem – os limites entre inclusão e competição justa no mundo dos esportes.

Recentemente uma pesquisa canadense apresentou um relatório realizado pelo Canadian Centre for Ethics in Sport (CCES), que mostra não existir evidências científicas que provem que mulheres transgênero possuem alguma vantagem nos esportes. Segundo a pesquisa, os fatores que determinam o desempenho de um atleta são nutrição e qualidade de treinamento.

É claro que quando falamos de atletas profissionais que dedicam carreiras inteiras atrás de resultados, diferenças de segundos podem ser decisivas e qualquer vantagem pode tornar a competição injusta.

A chave para essa discussão pode não estar na medicina do esporte, e sim na sociologia e direitos humanos. A pessoa não pode escolher não ser trans para competir, e não é justo que não possa competir simplesmente por ser quem é.

Por isso, divergente à matéria, a Psicóloga transexual, Beth Fernandes considera a proposta “exclusiva”. A psicóloga garante não existir vantagem entre mulher trans e cis. O argumente é que, “às pessoas usam bloqueadores hormonais na puberdade para tratamento de pessoas trans, elas jamais vão ter capacidades igualitárias ás mulheres cis.”

Normalmente, ás mulheres trans passam por um processo, e é levada a fazer uma série de tratamentos hormonais que atingem diferentes partes do corpo e fazem com que um indivíduo tenha severas transformações biológicas.

“Biologicamente uma vez que se usa o bloqueador hormonal e a testosterona é bloqueada, a massa muscular e o hormônio masculino não existe. Então não dá para colocar em vantagem o corpo de uma mulher transexual e o corpo de uma mulher. Por que essa massa muscular essa força se torna igualitária”.

Psicóloga presidente da Astral Goiás e do Fórum de Transexuais de Goiás, professora escritora e ativista política LGBT e presidente do Conselho Municipal da Mulher, Beth Fernandes

Ao final, o autor do projeto garante não se tratar de preconceito. “Isso não se trata de discriminação, não se trata de preconceito, mas se trata de justiça e proteção de mulher no esporte”, endossa.

Já Beth considera a proposta preconceituosa e transfóbica. Já que segundo ela, os atletas já sofrem essa segregação na infância. “Com essa exclusão, menos de 1% das pessoas trans chegam a olimpíadas”, finaliza.