Enquanto STF tenta comprovar ‘fake news’, Antagonista e Crusoé repudiam censura
16 abril 2019 às 10h45

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Reportagens publicadas pelos sites Crusoé e Antagonistas causaram inquietação na Corte que determinou retirada dos conteúdos e que responsáveis prestem depoimentos em até 72 horas. PF cumpre, neste momento, dez mandados de busca e apreensão

Dez mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 16, contra suspeitos de realizarem ataques, na internet, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e seus ministros. Sob ordenamento do ministro Alexandre de Morais o inquérito apura suposta disseminação de ‘fake news’ por parte dos portais de notícias O Antagonista e Crusoé.
Morais determinou, inclusive, que ambos os sites retirassem conteúdos publicados na semana passada que diziam respeito ao presidente da Corte, Dias Toffoli, supostamente mencionado em um e-mail do empresário e delator na Operação Lava Jato, Marcelo Odebrecht.
A reportagem que causou a inquietação na Corte revelou que uma das menções feitas por Odebrecht em uma troca de e-mail com outros dois empresários era à Toffoli.
À época — 2007 — o atual presidente do STF ocupava o cargo de ministro da Advocacia Geral da União (AGU) no governo Lula (PT). Trecho do e-mail dizia, “Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?”, quem, segundo o delator, era Tóffoli.
O pedido de retirada dos conteúdos partiu diretamente do presidente da Corte e foi prontamente atendido por Moraes. Os sites foram notificados na manhã da última segunda-feira, 15. Em caso de descumprimento do imposto a multa é de R$ 100 mil por dia. Os responsáveis pela veiculação do material na internet também deverão prestar depoimento em um prazo de até 72 horas.
Reação
Durante a tarde da última segunda-feira, 15, o site Crusoé publicou: “URGENTE: Ministro censura Crusoé”. A reportagem, assinada por Rodrigo Rangel, diz que “passava pouco das 11 horas da manhã quando um oficial de justiça a serviço da Corte bateu à porta da redação para entregar cópia da decisão”.
A publicação reitera que o ministro afirma haver “claro abuso no conteúdo da matéria veiculada”. Também foi destacado que o teor da reportagem da Crusoé foi baseada em documento e que a decisão “se apega a uma nota da Procuradoria Geral da República sobre um detalhe lateral e utiliza tal manifestação para tratar como ‘fake news’ uma informação absolutamente verídica, que consta dos autos da Lava Jato.

A Crusoé lembra que “embora tenha solicitado providências ao colega Alexandre de Moraes ainda na sexta-feira, o ministro Dias Toffoli não respondeu às perguntas que lhe foram enviadas antes da publicação da reportagem agora censurada”.
Já o site O Antagonista, além de estampar em sua página a capa da revista Crusoé com uma tarja preta coberta por letras vermelhas que dizem: “Reportagem censurada judicialmente” (veja foto ao lado), replicou na manhã de desta terça-feira o comentário de Merval Pereira em O Globo.
“A decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes de mandar retirar do site O Antagonista e de sua revista Crusoé uma reportagem sobre o presidente do STF, ministro Dias Tofolli, é de uma gravidade sem precedentes em tempos democráticos. Ele alega que não houve censura prévia, como se houvesse diferença entre censuras”, disse.
Investigado
Um dos alvos é o general da reserva Paulo Chagas (PRP-DF). Ele, que é um crítico do Supremo, se pronunciou, por meio do Twitter, na manhã desta terça-feira, 16, logo após ser surpreendido ser informado sobre a presença dos agentes em sua residência em Brasília.
Chagas escreveu: “Caros amigos, acabo de ser honrado com a visita da Polícia Federal em minha residência, com mandado de busca e apreensão expedido por ninguém menos que do que o ministro Alexandre de Moraes. Quanta honra! Lamentei estar fora de Brasília e não poder recebe-los pessoalmente”, pontuou.