Carlão da Fox é candidato à presidência estadual do PSDB e falou ao Jornal Opção sobre o cenário atual da disputa e conjuntura do partido

"Não vejo problema em disputar eleição com Jânio, isso não traz cisão pessoal alguma"
Carlão de Goianira | Foto: Divulgação

O prefeito de Goianira, Carlos Alberto Andrade Oliveira, mais conhecido por Carlão da Fox, com o registro de chapas na segunda-feira, 22, disputa a presidência do diretório estadual do PSDB com o prefeito de Trindade, Jânio Darrot.

O nome de Jânio surgiu após uma articulação do grupo de apoio ao até então pré-candidato Jardel Sebba e, assim como Carlão, busca consenso. A questão é que ainda não houve uma conversa de fato que articule como pode se dar esse consenso. Por ora, o prefeito de Goianira adianta que não abre mão de sua chapa, mas está aberto para conversas sobre quem a encabeçará.

O que está em jogo é todo o apoio até aqui conseguido pelo candidato. Além de um apoio massivo de prefeitos, Carlão conta com a unanimidade dos delegados das zonais do partido em Goiânia. Em conversa com o Jornal Opção, ele deu mais detalhes sobre a atual conjuntura da disputa, as ideias de sua chapa e a situação do PSDB em âmbito estadual e nacional. Confira.

Entrevista

O que você achou da candidatura de Jânio Darrot?

É uma pessoa super preparada, meu amigo e, antes do registro das chapas, nós tivemos a oportunidade de conversar sobre isso. Eu estive no gabinete dele pedindo seu apoio. Na ocasião, ele me falou que já tinha feito compromisso com o outro candidato e que só por isso não me apoiaria. Eu, então, perguntei se ele seria disputaria a presidência, mas ele falou que não. Na segunda-feira, 22, no entanto, quando eu pensei que nós fôssemos nos reunir com os outros três candidatos para poder chegar a um consenso, fui surpreendido com a notícia de que tinham feito um consenso com o nome do Jânio sem me ouvir, nada contra ele, muito pelo contrário. Eu acho que se o partido decidir pelo nome dele estará bem representado, mas eu preciso de ser ouvido, eu trabalhei para isso.

E como é que você avalia que o consenso veio para o nome do Jânio e não para o seu?

Eu acredito que tenha sido pela maior proximidade que ele tem com o próprio Jardel — que já tinha falado com ele. Jânio é um candidato, a meu ver, do Jardel, porque talvez o último tenha sentindo alguma dificuldade no pleito por seu nome. Até mesmo, porque o próprio PSDB de Catalão não está nas mãos dele e não votaria nele, porque não tem diretório pronto. Além disso, tinham outras pessoas, que o estavam ajudando, como o Francisco de Oliveira, Paulinho da AGM, Itamar Leão e outros. Então eu acredito que eles devem ter sentido alguma dificuldade em dar andamento à candidatura e resolveram fazer entre eles essa composição. Mas sem me ouvir. E foi aí que eu falei: “Olha, eu não vou fazer essa composição agora, nós temos até o dia 3 de maio para fazer, não vejo dificuldade, mas eu vou registrar minha chapa”, e assim fiz.

“Para ter consenso, eles teriam que vir para a minha chapa”

Prefeito de Goianira, Carlos Alberto de Andrade (Carlão) | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Tem a possibilidade de você compor a chapa do Jânio como vice?

Acho pouco provável, mas não é impossível. Ainda precisamos trabalhar em cima disso, até porque na chapa do Jânio eu não fui colocado como pretenso candidato. Então para lá eu não teria espaço, como nenhum dos outros têm. O que estou dizendo é que a forma com que a chapa dele foi montada não permite que haja substituição de nomes na Executiva. Então lá o único que pode ser candidato a presidente é ele próprio e nenhum outro — seja qualquer um de seus apoiadores. Na minha, pelo contrário, tenho o nome de todos, inclusive o dele, o que dá maior abertura para mudanças. Para ter consenso, portanto, eles teriam que vir para a minha chapa.

E você poderia ser candidato a vice na sua própria chapa?

Sim, não tenho dificuldade nenhuma em relação a isso. Como não posso ser nada, como posso abrir mão para um consenso. Mas desde que seja conversado, nada goela abaixo. Não concebo imposições e não concebo também a forma como estão sendo conduzidas as questões pessoais do Jardel. Para ele chegar ao ponto de agredir companheiro, de agredir parceiro, com comentários desnecessários.

O que você achou do Jardel ter falado que o Vecci é o câncer do partido?

De muito mau gosto, uma situação totalmente desnecessária. Uma agressão pessoal, maldosa, feita de forma muito leviana. O partido não precisa disso hora nenhuma. Isso é um desserviço que ele está prestando para o PSDB. Se ele tem alguma indisposição no âmbito pessoal, ele tem que lidar nesse âmbito. Não usar a sigla para fazer um palanque e ficar agredindo uma pessoa. Vecci é uma pessoa que fez muito pelo PSDB, pode ter cometido alguns erros, mas ele trabalhou muito por Goiás. Foi uma cúpula que dirigiu o partido, ele não dirigiu sozinho. Então ele não merece, em momento algum, ser apedrejado, ser achincalhado com palavras de baixo calão, com palavras maldosas, e desnecessárias. Nós não precisamos disso.

A partir do dia 3 de maio, quando haverá a eleição, como o partido deve se posicionar em relação ao governo de Ronaldo Caiado (DEM)?

Nós somos oposição, então nós temos que manter essa firmeza e cobrar do Governo aquilo que ele prometeu que ia fazer. Uma coisa muito fácil é você estar do outro lado do balcão jogando pedra como jogaram em nós. Agora nós temos que fazer uma oposição séria, mas severa, cobrando as promessas feitas. Principalmente em relação à situação dos municípios. Eu, como prefeito, vou estar atento e defender a bandeira do PSDB. Todas as vezes que o partido for agredido, nós vamos para cima e responder de forma bem veemente que nós não concordamos. O que foi feito ao longo desses 20 anos foi para melhoria da qualidade de vida do povo goiano.

E tem como defender o legado do partido com tanta denúncia?

Temos, sim. Essas denúncias, num contexto geral, se tornam insignificantes pela quantidade de coisas boas que nós fizemos. Nós melhoramos a qualidade de vida da população goiana. São vários e vários programas sociais que foram feitos ao longo desses 20 anos. Diversos programas de assistência para a população. Fizemos as maiores e melhores construções na Saúde do Estado de Goiás. Os funcionários no nosso período foram todos respeitados, bem tratados.

“Não podemos levar essa imagem de que Goiás é um Estado quebrado, que não tem condição nenhuma de recuperação”

Também contribuímos muito para a Educação, ao contrário da atual administração, que, em pouco mais de 4 meses, fechou mais de 60 escolas de tempo integral e mais de 15 normais. Além disso, nós não podemos levar essa imagem de que Goiás é um Estado quebrado, que não tem condição nenhuma de recuperação. Dessa forma nós vamos afugentar novos empresários que queiram vir para cá. Vamos estar correndo da população que quer lutar com o Estado de Goiás. Essa não é a realidade, podemos passar por dificuldades como vários outros Estados do Brasil passam, mas temos que usar isso para erguer a cabeça e levantar. A crise é do País, é mundial. Nós não podemos parar o Estado, temos que correr atrás e resolver.

Como prefeito, essas parcerias que o Caiado está buscando junto com os prefeitos de passar para vocês algumas responsabilidades que são do Estado, o senhor aprova?

Eu fiz isso. Eu fui um dos primeiros, porque eu tenho ônibus meus que circulam nas vias que trazem alunos para Goiânia. Eu tinha que arrumar a rodovia, porque, se não, eu ia quebrar minha frota. Eu tive que realizar medidas que eram de atribuição do Estado pelo município. Cheguei a liberar salas de aula para a Educação, prédios da prefeitura, que nós adaptamos. Emprestamos para a Secretaria de Estado da Educação (Seduc).

Porque eu tenho que pensar em um bem maior. Se o governo não está dando conta, o município ajuda nesse primeiro momento e depois lá na frente você cobra de volta. Quer dizer, isso não pode ficar ad eternum. Como ele apresentou várias dificuldades, eu mesmo fui e assinei o convênio, junto com a Agetop, e fiz roçagem, tapa buracos e outros, porque as rodovias estavam praticamente intransitáveis. Eu acredito que não custa nada você dar um socorro em um primeiro momento. Afinal, nós sabemos que o governo atual não têm experiência em governar e que ia apanhar um pouco mesmo no início.

Mas sempre tem um tempo de tolerância para isso, né. O governo tem que começar a andar. Não trouxe nada para o nosso município e pelo que sei nenhum outro recebeu contrapartida do Governo do Estado. Nós temos um problema sério que é o Goiás na Frente, que tem parcelas em atraso. Não sabemos se isso vai ser cancelado, se isso vai ser levado à frente. Temos atrasos nos repasses da Saúde, no transporte escolar e precisamos ver como que vai ficar essa situação.

Estamos aguardando, dando o tempo necessário para que o Governo comece a governar. Acho que agora já passou dessa época. Estamos já com 4 meses de governo, entrando já no quinto mês, não adianta mais dar desculpas. Queremos soluções, e todos nós prefeitos vamos cobrar. E eu, ainda mais, sendo do PSDB, que é um partido de oposição, para dar satisfações à população.

O Jânio, como você, se preocupa com a possibilidade de haver uma cisão no partido se houver uma disputa entre vocês, dentro da preocupação dele está a dispersão dos prefeitos. Há a possibilidade de dissidência?

Disputa não é bom pra ninguém. Vamos buscar, e tenho certeza que esse é o mesmo pensamento do Jânio, até o último momento, o consenso. Para que a gente consiga não rachar o partido, mas trazer mais gente para cá. Esse é o nosso intuito. Tenho certeza que é o dele e que é o meu. O que nós precisamos é saber quem realmente está disposto a dar alguma coisa pelo partido e quem quer ter o poder por poder.

Não podemos apontar quem fica e quem não fica, ou então voltaremos ao coronelismo. Não é assim. Nós temos que ouvir as pessoas, temos que ouvir a base do PSDB. E ir lá no fundo pegar os nossos presidentes de partido, nossos delegados e ouvi-los. O que que é bom para o partido agora? Trazer jovens, mulheres e ter mais sensibilidade para a mudança a partir de uma visão diferente. Só assim sairemos desse cenário pós “taca” que levamos na eleição.

“Nós somos muito maiores do que os problemas que aí estão”

Temos que reconhecer isso, sabendo que cometemos vários equívocos e, agora, buscar uma solução ampla. Para poder ter o que dizer para as pessoas. Chegar ao município e conversar com delegado, conversar com o presidente do partido, conversar com o prefeito, seja ele do PSDB ou não. Ter candidato no maior número de municípios possíveis e, acima de tudo, levantar o legado do PSDB no Estado de Goiás e no Brasil.

Nós somos muito maiores do que os problemas que aí estão. Eles estão evidenciados muito mais por uma prática de mídia. É muito mais fácil falar de desgraça do que de coisa boa. Coisa boa está lá, está servindo. Agora, problema, qualquer que seja ele, vira um estardalhaço. Sabemos que quem cometeu o equívoco vai ter que pagar por eles. Óbvio.

Numa entrevista do governador de São Paulo, João Dória, no Roda Viva, ele disse que há um momento, agora, de transição no partido. De que pessoas como Geraldo Alckmin, José Serra foram figuras importantes para o PSDB. Mas ele fez uma comparação com a transição do analógico para o digital. Disse que agora está no momento digital, onde novas figuras entram e assumem o partido, mais ou menos isso que você está falando, tem que se esquecer então o que foi analógico?

De forma alguma. Você não sai do analógico para o digital de uma vez. Você tem que transportar as informações do analógico para o digital. Você não faz isso de uma vez só. Isso não é automático, você não exclui, você precisa buscar dados lá. Então tem que respeitar essas pessoas. Você tem que dar espaço para que eles tragam a sua contribuição, daquilo que for importante. Isso só tem futuro se você lembrar do seu passado.

Todos eles foram muito importantes para o Brasil e para o Estado de Goiás. Nós temos o ex-governador Marconi Perillo como nossa maior liderança. E a contribuição dele é importantíssima em todos os aspectos. As experiências que ele teve, as boas e as ruins, têm que servir de parâmetro para nós de agora para frente. Se não nós vamos cometer os mesmos equívocos. Então não é relevante essa tentativa de apagar o passado. Todos nós temos um passado, por melhor ou pior que seja ele, ele faz parte da sua vida.

Não adianta tentar excluir aquilo que a gente pode achar ruim, porque fez parte. E são coisas muito pequenas diante do legado que tivemos durante esses 20 anos. Foram muitas conquistas para o Estado de Goiás. Estamos às vésperas de ver aprovado na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) projeto para cortar o passe estudantil. Além de que só não foi tirado do trabalho mais de 5 mil adolescentes do pró-jovem, porque teve um mandado de segurança, senão já estariam na rua.

Quer dizer, nós não podemos abrir mão dessas conquistas. O trabalho desses adolescentes no pró-jovem agrega no salário da família. Eu tenho vários em Goianira, imagina aqui em Goiânia, que é o maior pólo, deve ter de 3 a 4 mil meninos desses trabalhando. Esse é um choque de imediato em qualquer família. O governo tem que enxugar, tem, mas que busque outras formas. Seja mais criativo. Vá trazer empresas para cá, novos investimentos. Que privatize, então, a Saneago e outras empresas, como se tem falado. Mas não prejudique aquilo que foi conquistado durante o tempo de governo PSDB, que fez projetos que melhoraram a qualidade de vida do povo goiano.

Isso não pode ser esquecido de forma alguma, não pode fazer governabilidade destruindo o que está positivo. Eu tenho esse perfil de, sempre que voltei à Prefeitura, pegar as obras que estavam iniciadas e terminá-las. Independente de quem começou. Não é porque foi o antigo gestor que fez que eu não vou por a mão, pelo contrário, se tem meio caminho andado, vou acabar de fazer. Não importa quem foi o antecessor, tem que avaliar a funcionalidade da coisa depois. Não adianta você fazer escola se não tem professor para colocar lá, então que termine o que foi iniciado e eu acredito que essa prática tem que melhorar, tem que mudar.

“Caiado precisa saber que ele precisa de base”

A população não aceita essa prática mais. Terminamos de sair de um processo eleitoral que nos mostrou isso. Em que todos os partidos sentiram na pele e tiveram grandes baixas. E não existe salvador da pátria. Nós estamos vendo no Brasil o que tem acontecido. Um presidente que tratou a classe política como se fosse formada por bandidos. Mas ele mesmo ficou por sete mandados e participou de várias negociações. Todos nós sabemos aqui como que funciona o congresso. Negociação é uma coisa, negociata é outra, você tem que ter base para governar. E tem que saber disso, porque se não fizer um bom trabalho, não vão passar as reformas no Congresso.

A reforma da Previdência passou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no apagar das luzes e porque o Rodrigo Maia estava ali em cima, ficou o tempo todo lá, não saiu. O presidente atropela e o próprio partido dele tem atropelado, como temos visto aqui em Goiás também. O Caiado precisa saber que ele precisa de base. Ele já tomou duas pancadas na Assembleia e vai tomar tantas quantas outras se não fizer composição. Quer dizer, você não governa sozinho. Isso acontece desde o município, onde eu tenho que ter base se não eu não passo meus projetos. Isso é uma coisa normal, desde que ela seja feita nos parâmetros normais, que são permissíveis dentro da política.

[relacionadas artigos=”180034″]

E, então, hoje, como está a composição das chapas?

Talles, Lêda e Jardel abriram mão das candidaturas em prol do Jânio e queriam, depois da reunião, me chamar para comunicar. Mas eu falei que preferia aguardar. Até mesmo, porque eu tenho que ter tempo para conversar com as pessoas que acreditaram em mim. Eu não posso simplesmente retirar minha candidatura e deixar à mercê quem já tinha se posicionado a meu favor.

Eu fiz composições nas zonais, onde nós criamos toda uma chapa. E eu não posso simplesmente chegar no lugar e dizer que não sou candidato mais. Não é assim que se faz as coisas. Tem que ser conversado, dialogado e é isso que eu estou buscando. Conversar com todas as instâncias para que, quando afunilar mais, a gente tenha uma formação que possa ser pelo consenso ou pela disputa mesmo. O que eu acho que é salutar, não vejo problema nenhum em disputar a eleição com o Jânio. Isso não traria nenhum tipo de cisão pessoal minha com ele.