Reginaldo Marinho, natural de Sapé, cidade com pouco mais de 52 mil habitantes, localizada na microrregião da Mata Paraibana e conhecida como a cidade do abacaxi, conta que desde criança gostava de criar coisas e sempre se destacava quando o assunto era invenção.

Aos 17 anos de idade, o ainda adolescente ingressou na faculdade de engenharia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Com apenas um ano de curso, a própria faculdade o convidou para dar aula de geometria descritiva, tal era a inteligência do jovem prodígio. Porém, como conta Marinho, abandonou o curso por não se adaptar, segundo ele, à monotonia acadêmica e à falta de criatividade, área em que Reginaldo se destacava.

Foi nessa época que ele resolveu mudar-se para Brasília, onde decidiu voltar à faculdade, mas agora em um novo curso – o de arquitetura, ministrado pela Universidade de Brasília (UnB). Outra vez, desiludido com o mundo acadêmico, Reginaldo optou por trancar o curso.

Há 22 anos, o inventor concedia uma entrevista ao jornalista Antônio Lisboa Morais, do Jornal Opção, para falar sobre as dificuldades enfrentadas em fazer com que a sua mais nova invenção fosse vista como uma obra de grande relevância para a construção civil do Brasil.

Estamos falando do construcel. Em resumo, trata-se de uma manifestação da matemática aplicada na engenharia, através da Geometria Descritiva. É um sistema construtivo que pode ser usado na cobertura de grandes galpões, ginásios, hangares para aeronaves e estádios de futebol , por exemplo.

Como informa o inventor, o seu invento além de tornar as construções menos onerosas – ainda contribui para a questão da sustentabilidade do planeta, pois consiste em retirar praticamente todo plástico pet que está espalhado mundo a fora.

Sua obra, apesar de ter tido reconhecimento internacional, como em Genebra e Londres, contudo, no Brasil nunca foi devidamente reconhecida. A ideia do inventor é que através da sua invenção, o metal e o concreto passe a ser substituído por plástico, uma alternativa econômica e sustentável.

20 anos depois

Depois de mais de duas décadas, a reportagem volta a falar com Reginaldo e a saga do pesquisador e inventor continua. Reginaldo já viajou o mundo para tentar fazer sua obra ser conhecida, mas ao que parece; foi tudo em vão, pelo menos até o momento. Para Reginaldo, o Brasil não valoriza seus artistas e “gênios”. “Aqui é um País de invejosos, o Brasil não está preparado para o sucesso”, afirma.

Com 26 de peregrinação em sua terra e fora dela, o construcel ainda continua sendo uma incógnita, não porque o invento seja ruim, mas por falta de incentivo e do desprezo que os governantes brasileiros têm com seus inventores, ressalta Reginaldo. O inventor conta que embora tenha uma alternativa tecnológica para fazer uma nova patente, somente irá fazê-la quando tiver uma definição explícita.

Reginaldo esclarece que o construcel veio para revolucionar o ramo da construção civil, não somente no Brasil, mas no mundo. “Será a primeira construção do mundo inteiramente em plástico, com total transparência. Ainda não existe na literatura algo assim”, sublinha. Reginaldo ressalta que as construções não seriam erguidas com garrafas pet e sim com o material pet que é retirado dessas garrafas.

O inventor se diz visionário, haja vista que a sua invenção, apesar de ter sido projetada há quase três décadas, ainda continua sendo vanguardista, pois nada nem parecido foi inventado até hoje, de acordo com ele, quando o assunto é construção e contribuição para um mundo sustentável. Reginaldo diz que é uma vergonha o que tem passado nesses anos. “Não importa que eu tenha sido aprovado em um edital do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC), em primeiro lugar com nota dez em grau de inovação. Eu debito todo esse desprezo às instituições brasileiras às tecnologias nacionais. É um absurdo o prejuízo acumulado pelo país, é incalculável”, desabafa.

Reginaldo lembra que sua invenção poderia solucionar um déficit que existe em relação a armazenagem de grãos que é de mais de cem milhões de toneladas. Segundo o inventor, o setor sofre altos prejuízos por falta de galpões para guardar a safra, sendo muitas vezes obrigado a vender por preços inferiores ao de mercado. “A minha invenção resolveria todo esse problema e ainda com custo baixíssimo, e Goiás poderia se beneficiar do construcel”, frisa.

Reginaldo lembra que o Brasil não tem um ganhador do Prêmio Nobel, não por falta de mentes brilhantes, mas porque quando aparece uma candidatura com potencial, o próprio País sabota, colocando obstáculos. “Somos uma nação de invejosos que não torce pelo bem do outro, que não suportam ver o outro no pódio. Já dizia Tom Jobim, que no Brasil, sucesso é ofensa pessoal”, relata, com indignação.

Ele menciona o ex-presidente da Embraer, Dr Ozires Silva, que uma certa feita, quando participava de um jantar em Estocolmo, na Suécia, junto com três integrantes do comitê que faz a indicação para o prêmio Nobel. Aproveitando a oportunidade, Ozires questionou-lhes o porquê de o Brasil ainda não ter ganhado um prêmio Nobel. Depois de algum tempo de silêncio, um membro resolveu responder:

“Vocês brasileiros são destruidores de heróis. Todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente com o que ocorre com os de outros países, todo mundo joga pedra. Não tem apoio da população. Parece que um desconfia do outro ou tem ciúme.”

O pesquisador e inventor lembra a trajetória do padre gaúcho Roberto Landell de Moura, em 1900. Landel foi o inventor do rádio receptor, porém, nunca obteve o reconhecimento do governo brasileiro. Nem mesmo a transmissão feita na avenida paulista, foi o suficiente para que despertasse o interesse de empresários e do governo. Pelo contrário, Landell era chamado de louco.  “O resultado foi que em 1909, o físico italiano Guglielmo Marconi, mostrou para o mundo o rádio receptor, vindo a ganhar o Prêmio Nobel naquele ano”, pontua.

No entanto, a despeito do desinteresse dos governantes, o inventor acredita que sua obra ainda pode decolar. “Só preciso encontrar o parceiro certo. Ainda não desisti, entretanto, não procurarei mais ninguém”, desabafa. Reginaldo revela que tem a intenção de buscar contato com algumas organizações internacionais. “O Brasil continua não valorizando seus inventores e com isso perdendo muitos talentos e riquezas. O brasileiro é inteligente, o Brasil é rico em insumos, só falta apoio”, afirma.

Reginaldo avalia que o Brasil não está preparado para o sucesso e não ver perspectiva de mudança do panorama atual.  Para ele, o princípio da melhora é a educação, todavia, o que se ver é um declínio na educação brasileira. “A qualidade da educação brasileira nas últimas décadas, é debilitada e espantosa. Por tanto, não vejo reversão. Estou desacreditado do meu país”, exprimi.

O inventor está com 74 anos de idade e se diz um exilado em sua própria casa, na Chapada Diamantina (BA). Indagado se ainda continua inventando coisas para o bem da humanidade, Reginaldo conta que está desestimulado a produzir. O último dos seus inventos foi justamente o construcel.

Novo projeto

Reginaldo Marinho comunica que criou um projeto denominado Parque Brasil, dentro do qual será instalado um Museu de Ciência e Tecnologia e uma Central de Tecnologia Nacionais. “Esse parque poderia ser construído na zona rural de Valparaíso, em Goiás, que será um espetacular ponto turístico. Esse será meu grande desafio de agora em diante, tentar mudar esse cenário perverso”, ressalta.

Ele reitera que Goiás não estava na lista dos estados preferenciais, sendo que São Paulo e o Distrito federal eram os mais cotados, mas como o DF está dentro de Goiás, Marinho reconhece que Valparaíso será ideal. “Esse é um projeto de grande utilidade para o Brasil e por ele faço qualquer coisa”, sublinha. Para tanto, Reginaldo informa que está disposto a sentar com o Governador Ronaldo Caiado (UB), se for o caso.

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