Parece estranho afirmar que presidentes são “influenciadores”, mas eles só podem ser eleitos com base na popularidade de suas ideias. Afinal, não seriam os maiores influenciadores de cada país, justamente, os presidentes?

Esse cenário construiu uma “nova era”, marcada pela presença online das figuras políticas. Anteriormente, havia um afastamento maior das pessoas, o que traz vantagens e desvantagens tanto para a política quanto para a comunicação.

Por conta dessa mudança na forma de fazer política, esse espaço anônimo e quase inconsequente das redes sociais, passou a influenciar políticos. Talvez por isso esteja cada vez mais ausente o decoro parlamentar, e mais presente o uso do espaço de decisões sérias para gravar trechos que podem viralizar nas redes sociais. São prefeitos, vereadores, deputados, senadores, governadores e até mesmo presidentes que dizem qualquer coisa em nome de uma suposta “liberdade de expressão”.

O excesso de informações de múltiplas fontes sobrecarrega grandes e pequenas figuras. É impossível que uma só pessoa responda aos ataques, verdadeiros ou falsos, de centenas de opositores, ainda mais quando sequer sabemos quais contas são reais ou falsas.

Seria de se pensar que estaríamos mais avançados politicamente com o avanço tecnológico. Entretanto, enquanto as pessoas não aprenderem a dialogar e respeitar o diferente, conflitos ultrapassados e políticos sensacionalistas continuarão sendo os maiores influenciadores do mundo. Esse é um dos fatores que pode explicar o aumento recente de células neonazistas, por exemplo. Trata-se de um grupo extremista fanático com uma narrativa supremacista perigosa pronta e feita para se disseminar entre grandes multidões.

Essa mentalidade pode nos levar para uma nova “caça às bruxas”, precisamente porque pode se referir a qualquer grupo minoritário. É um conceito amplo e abstrato onde o “outro” se torna inimigo. Durante a idade média, eram as mulheres, mas hoje, defensores ambientais e dos direitos humanos se tornaram todos “comunistas”, independentemente de suas ideologias ou crenças pessoais.

Mudança na comunicação

Por um lado, a aproximação das pessoas e a possibilidade de dialogar diretamente com os responsáveis é um ganho. No passado, para ter a sua opinião publicamente divulgada, era preciso fazer um abaixo-assinado, enviar notas de repúdio ou publicar cartas de opinião em jornais e revistas.

Entretanto, assim como as pessoas, os políticos parecem não ter certeza de como usar essas novas ferramentas ou o que vale a pena expor nesses espaços. Essa revolução tecnológica continua em progresso, enquanto muitos ainda não têm acesso ou educação para usufruir dessas possibilidades. As pessoas deixaram de debater ideologias, convicções e moral, passando a repetir gritos de guerra, como uma torcida organizada que muitas vezes sequer entende o significado do que estão dizendo.

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro fazia afirmações oficiais por meio de seu Twitter, onde tinha o hábito de interagir com seus seguidores, assim como Trump. O lado negativo dessa exposição são os cancelamentos e o destaque em trechos polêmicos, muitas vezes retirados de contexto.

Montagem de fotos: Bolsonaro com Trump e Milei com Musk | Foto: Reprodução

Política internacional

Atualmente, as pré-campanhas eleitorais nos EUA estão em andamento. Durante entrevista para a Rádio Itatiaia, em Minas Gerais, Lula disse que torce por Biden, vendo nele uma garantia de que os EUA continuarão respeitando a democracia. Ele expressou desconfiança em relação a Trump, associando-o à invasão do Capitólio e aos atos no Brasil em 8 de janeiro.

Internacionalmente, a polarização toma força, assim como ocorreu anteriormente dentro dos países, inclusive no Brasil. Agora, durante a campanha presidencial dos Estados Unidos, Lula manifestou apoio ao Biden, isto é, depois de Trump apoiar Bolsonaro na eleição brasileira. Ou seja, os países agora respondem também pela individualidade do ego de seus governantes.

Recentemente, o presidente Lula cobrou um pedido de desculpas do presidente argentino, Javier Milei, por “dizer muita bobagem”. Durante a campanha, Milei fez sérias afirmações sobre Lula, chamando-o de “comunista nervoso” e “presidiário comunista”. Lula, por sua vez, não esteve presente na posse de Milei, optando por enviar o ministro das Relações Exteriores em seu lugar.

Em resposta, Milei afirmou que não cometeu nada do que tenha que se arrepender. Ele defendeu que a Argentina não deveria negociar com governos que considera “comunistas”, reiterando que Lula se encaixa nessa categoria. Além disso, vale ressaltar, Bolsonaro e governadores aliados estiveram na posse do argentino para demonstrar força política.

Ainda na entrevista em Minas Gerais, Lula também afirmou que não confia em pessoas que fazem “muita bravata”, considerando esse comportamento prejudicial à política. “Essas pessoas que fazem muita bravata eu não gosto, não acho que é boa na política”, disse o presidente sobre Trump. Concordo com Lula nesse ponto, no entanto, acredito que essa crítica também deveria levá-lo à autorreflexão, a comunicação de seu governo e partido ainda deixam a desejar.

Dessa forma, será justamente quando deixarem de lado toda essa bravata, guiada por pontos inflexíveis de ideologias simples, fáceis de se repetir, que poderemos avançar politicamente. E, talvez ainda mais importante, será possível desenvolver o diálogo e a coexistência respeitosa entre os diferentes. Para isso, é urgente que a população desenvolva educação política.

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